Faço a recapitulação de Setembro começando do pior filme até chegar ao melhor, inicialmente com mais um ao qual dei uma redonda nota zero.
Aliás, quem sou eu para dar uma nota zero a algum filme? Quero dizer, com que critério eu atribuo uma nota zero a qualquer obra cinematográfica que seja? A verdade é que dificilmente dou notas muito ruins aos filmes que vejo. Quem lê esse site de vez em quando ou pelo menos passa o olho em minhas listas sabe disso. Minha paixão pela sétima arte é tão grande que às vezes eu sinto que meu termômetro de satisfação cinematográfica está sempre descalibrado para mais. Tenho plena consciência de que escrevo muita merda por aqui, já que jamais tive qualquer contato profissional com algo relacionado à área de cinema, ou crítica de cinema, e a quantidade de comentários dos meus posts é sempre pífia. Minha formação está em direta oposição à arte das imagens em movimento. Logo, apesar de gostar de forma quase doente do ritual de me sentar numa sala escura ou ligar o DVD em minha sala ou quarto, sou um leigo. Como, provavelmente, a esmagadora maioria dos leitores que dão um pouco de seu precioso tempo a este site.
É claro que, se um filme merece levar nota zero, isso significa que todos os seus realizadores, sem exceção, do diretor ao office-boy que paga as contas do estagiário do último assistente de produção, fizeram um trabalho porco. A avaliação não deixa de ser altamente subjetiva, mas essa é a minha definição de nota zero. O que significa que o filme em questão é muito, mas muito ruim. E nele nada se salva. Absolutamente nada. A honra da vez coube ao tenebroso A Casa do Espanto III (James Isaac, 1989), inserção bastarda numa série que já não era lá grande coisa. O mais triste em relação a isso é que A Casa do Espanto II (Ethan Wiley, 1987) e A Casa do Espanto IV (Lewis Albernathy, 1991) não ficam muito longe disso... Ainda muito ruins, com uma verdadeira pagação de mico de William Katt no derradeiro filme da série.
Neste parágrafo, os demais filmes com nota inferior ou igual a seis — A Mansão do Morcego (Crane Wilbur, 1959) é uma decepção, um falatório terrível num conto de mistério filmado com desleixo. A Mortalha da Múmia (John Gilling, 1967) tem algumas passagens interessantes, mas é inferior à boa média dos estúdios Hammer. O primeiro A Casa do Espanto (Steve Miner, 1986) era bom, mas perdeu um pouco do encanto e, hoje, soa infantil demais para o meu gosto. Terror em Amityville (Stuart Rosenberg, 1979) também discorre sobre uma casa mal-assombrada, mas não sai do lugar-comum em nenhum momento. O romance modernoso de Amor em Jogo (2005) é a velha fórmula de Hollywood executada com a competência característica dos irmãos Farrelly. Stuart Gordon satisfaz seus fiéis seguidores e entrega algo com alguma substância no filme de monstro sem muitos efeitos O Castelo Maldito (1995). E Harry Potter e a Pedra Filosofal (Chris Columbus, 2001) não pode ser taxado de ruim, mas desaponta quem espera uma transposição bombástica do maior sucesso literário dos últimos tempos.
Notas sete — Vôo Noturno (Wes Craven 2005) é um suspense bem-feito com uma dupla bacana como protagonista. Mad Max - Além da Cúpula do Trovão (George Miller & George Ogilvie, 1985) alia ação a fantasia e resulta num filme bom, porém o mais fraco da série sobre o guerreiro do futuro. Há passagens excelentes em A Sentinela dos Malditos (Michael Winner, 1977), um filme de terror demoníaco e algo perturbador. E A Chave Mestra (Iain Softley, 2005) mostra que ainda existe um pouco de esperança para a originalidade no moderno cinema de horror.
Notas oito — Penetras Bons de Bico (David Dobkin, 2005) é politicamente incorreto, machista e, mesmo assim, é quase impossível não se acabar em risadas ao assisti-lo. A refilmagem Madrugada dos Mortos (Zack Snyder, 2004) encerrou o revival dos filmes de zumbis para uma nova geração em grande estilo. O francês O Pacto dos Lobos (Christophe Gans, 2001) é uma aventura estilosa e extremamente bem-feita. Foi só algum tempo depois de assistir a Teatro da Morte (Douglas Hickox, 1973) que fiquei sabendo que o filme também existe sob a alcunha de As Sete Máscaras da Morte. Não importa como ele seja chamado, trata-se de diversão pura dentro do gênero do terror, um testamento indelével do gênio de Vincent Price. Mad Max (George Miller, 1979) é um filme de ação com contornos de ficção científica que ainda impressiona pelas cenas de destruição e violência filmadas em pleno deserto australiano no final dos anos 70.
Notas nove — Brian de Palma é um cara que admiro cada vez mais a cada dia que passa, sempre que algo novo dele me cai em mãos. Seu Scarface (1983) é impecável, uma ópera da violência com um dos panos de fundo mais sujos que já vi. Já o deleite proporcionado por My Fair Lady (George Cukor, 1964) é de uma natureza completamente distinta. Um musical adorável, um dos melhores que já vi em minha parca experiência com esse gênero em particular.
Na minha modesta opinião, duas das películas às quais assisti em Setembro se enquadram na categoria máxima (a polêmica nota dez). A primeira delas é o melhor filme da série sobre o guerreiro das estradas. Para mim, George Miller cravou seu nome na história do cinema ao realizar Mad Max 2 - A Caçada Continua (1981), o filme perfeito a lidar com a temática do herói relutante, visualmente acachapante e carregado de uma ação absurda, em tempos em que o CGI ainda nem existia. O segundo é a obra-prima da comédia romântica Simplesmente Amor (Richard Curtis, 2003), um refresco para a alma que nunca canso de rever. Foi um dos poucos em minha vida ao qual assisti duas vezes no cinema, e só de assistir aos extras do DVD me deu vontade de ver de novo.
Só para constar, neste mês foram 23 filmes vistos, um recorde desde que iniciei este site. A nota média mensal desta vez foi 6,26.
Texto postado por Kollision em 3/Outubro/2005