Estrelado por uma das estrelas da nova geração de atores de Hollywood, A Chave Mestra chega para fazer parte do seleto grupo de bons filmes de horror recentemente realizados pela máquina hollywoodiana. O filme se vale da experiência cada vez mais sólida do roteirista Ehren Kruger, nome proeminente que foi responsável, entre outras coisas, pela bem-sucedida adaptação do sucesso japonês Ring - O Chamado (Hideo Nakata, 1998) para o cinema ocidental.
O cenário do filme já é um pouco assustador por si só: um casarão abandonado em meio à área pantanosa das cercanias de Nova Orleans, no sul dos Estados Unidos. Kate Hudson faz o papel de Caroline, uma enfermeira que, traumatizada pela morte súbita do pai, aceita a tarefa de mudar-se para esta casa e cuidar do moribundo sr. Deveraux (John Hurt), que é incapaz de se mover ou proferir uma palavra desde que sofrera um derrame. A única outra companhia da moça é a sra. Deveraux (Gena Rowlands), que exige dela nada menos que dedicação absoluta ao seu marido. Caroline percebe que há algo estranho na casa quando a sua chave mestra, que deveria lhe dar acesso a todos os cômodos do lugar, não é capaz de abrir a última porta do sótão onde o sr. Deveraux sofrera o derrame.
O trailer usado durante o período de divulgação do filme parece entregar algo sobre a natureza do casal idoso que habita a casa, mas tal preocupação não se concretiza e vai além do que fôra sugerido. Misturando horror psicológico e o poder quase sempre subestimado da sugestão, o diretor conseguiu realizar um conto promissor que em nenhum momento entrega o verdadeiro cerne da história, exceto em seu desfecho, claro. O tema principal gravita em torno da prática do hudu (uma espécie de variação do vodu) pela comunidade negra da região, algo que guarda uma relação aparentemente aterradora com o passado da casa dos Deveraux e com as descobertas cada vez mais incômodas da enfermeira Caroline. O mote é simples e é conduzido com habilidade, valendo tanto para a protagonista quanto para a platéia: você só é afetado pelos encantos e feitiços do hudu se você acreditar.
Uma coisa importante a se notar é que quase nenhum efeito especial mais elaborado é utilizado no filme. Dobradiças enferrujadas, espelhos poeirentos, vento, chuva e trevas são praticamente os únicos recursos empregados pelo roteiro para imbuir na platéia a idéia do lugar assombrado por fantasmas de pessoas mortas de forma trágica. A atmosfera impregnada da sensação de 'nada é o que parece ser' também colabora bastante para o clima denso e às vezes claustrofóbico da investigação empreendida pela heroína da história.
No geral, A Chave Mestra demora um pouco para encontrar seu ritmo, mas o produto final é deveras recompensador. Gena Rowlands e Kate Hudson fazem uma boa dupla juntas. Com uma dupla de atrizes como essas, é difícil que um filme de terror com um roteiro dotado de um mínimo de interesse possa dar errado. O olhar enigmático e perdido de John Hurt, que passa o filme inteiro praticamente mudo, é um reflexo amargurado de um desespero que só encontra explicação após o final, que vem com um desfecho digno das melhores histórias de mistério já concebidas por Edgar Alan Poe ou Stephen King.
Texto postado por Kollision em 8/Setembro/2005