Cinema

Scarface [1983]

Scarface [1983]
Título original: Scarface
Ano: 1983
País: Estados Unidos
Duração: 170 min.
Gênero: Drama
Diretor: Brian De Palma (Dublê de Corpo, Os Intocáveis, Missão Impossível)
Trilha Sonora: Giorgio Moroder (A História Sem Fim, Amores Eletrônicos, Falcão - O Campeão dos Campeões)
Elenco: Al Pacino, Steven Bauer, Robert Loggia, Michelle Pfeiffer, Mary Elizabeth Mastrantonio, F. Murray Abraham, Miriam Colon, Paul Shenar, Harris Yulin, Ángel Salazar, Arnaldo Santana, Pepe Serna, Michael P. Moran
Distribuidora do DVD: Universal
Avaliação: 9

A refilmagem do clássico Scarface (Howard Hawks, 1932) pelas mãos de Brian De Palma é famosa pela introdução de um dos maiores gângsteres já criados para o cinema e, por incrível que pareça, por ter se tornado uma referência doentia para o rap e para a cultura hip-hop no final dos anos 80. Enquanto o filme de 1932 focava no contrabando de bebidas, a nova versão utiliza o tráfico como pano de fundo para o conflito. A história da ascensão e queda de um magnata do mundo das drogas encontra na obra de De Palma um retrato impiedoso e amargo do sonho americano, contando com um explosivo roteiro inicialmente idealizado por Sidney Lumet e escrito por Oliver Stone, que na época vivia o ápice de seu próprio vício em cocaína.

Al Pacino vive um dos maiores papéis de sua carreira (o outro é o 'poderoso chefão' Michael Corleone) na pele do cubano Tony Montana, um refugiado que constrói uma carreira criminosa a partir do zero em plena Miami. Scarface começa acompanhando seu esforço inicial para obter a cidadania americana, partindo daí para seu envolvimento e posterior conflito com um traficante local (Robert Loggia). De pavio curto e determinado a conseguir aquilo que quer, Montana abre seu caminho rumo ao poder a bala, enquanto corteja a esposa do chefe (Michelle Pfeiffer) e tenta ao mesmo tempo proteger a irmã (Mary Elizabeth Mastrantonio) da vida caótica que leva.

O fato do personagem de Pacino ter sido com o tempo alçado a ícone do cinema não é mero acaso. A personificação visceral do gângster que veio do gueto e conquistou tudo o que quis é uma das trajetórias mais sanguinárias e auto-destrutivas já capturadas em filme. Apesar de eventualmente se tornar (em todos os sentidos possíveis e imagináveis) o rei da cocaína, Tony Montana é um exemplo de determinação cuja motivação mais profunda reside na ambição alimentada, muitas vezes de forma deturpada, pelo ideal americano de sucesso e poder a qualquer custo. O filme também parece ter adquirido uma aura de totem sagrado para o estilo, sendo tomado por alguns como um divisor de águas no gênero de obras policiais, com uma influência inegável sobre a cultura americana. Trata-se de um dos responsáveis pela popularização da linguagem dos guetos e pela agressividade verbal que passou a dominar a música na virada dos anos 80. Durante o filme, segundo informações de fontes fidedignas, somente a palavra fuck é proferida mais de 200 vezes.

Um fator que favorece a admiração da massa por Tony Montana é que o gângster, apesar de matar sem piscar, é dotado de uma personalidade enaltecedera, porém destrutiva, em relação à figura da irmã e do melhor amigo (Steven Bauer). Sua derrocada soa como uma punição quase anunciada para suas transgressões, que implodem seu próprio mundo uma vez que nada mais parece fora de seu alcance. É com algum espanto que seu desejo de ter um filho e sua ânsia em evitar ferir crianças acaba provocando uma explosão de fúria, que culmina numa espiral de violência que destrói seu império. Tudo descamba para um festival de tiros poucas vezes visto, e logo fica evidente porque a agressividade auto-destrutiva jamais encontrou tão perfeito receptáculo quanto Al Pacino inspirado, alucinado, berrando ensandecido, atolado numa montanha de coca.

Cinematograficamente impecável e fotografado como Miami sempre deveria ser retratada (apesar da maioria das locações terem sido na Califórnia), Scarface ajudou a colocar a carreira de Oliver Stone no rumo e ampliou o currículo impecável de Brian de Palma. O único porém aparece na trilha sonora um pouco deslocada de Giorgio Moroder, um compositor infelizmente muito associado a temas de filmes pipoca.

No DVD duplo lançado pela Universal, os extras do segundo disco incluem especiais sobre a reformulação, a escalação do elenco e a criação propriamente dita do filme, que variam de 10 minutos a meia hora. Há ainda um featurette de 20 minutos que discorre sobre a influência de Scarface sobre os rappers americanos, uma breve amostra da versão do longa lançada para a televisão (que amacia a violência e as centenas de palavrões dos diálogos) e dois trailers da época.

Texto postado por Kollision em 28/Setembro/2005