A série de espionagem de carreira mais longa da história da TV foi ao ar entre 1966 e 1973 e contou neste período com nada menos que 171 episódios, tendo sido ressuscitada por mais duas temporadas em 1988. O seu sucesso e sua influência podem ser medidos pelo fato de que, mesmo que ninguém tenha colocado os olhos na série ou nos filmes estrelados por Tom Cruise, todos reconhecem de imediato a famosíssima música-tema composta por Lalo Schifrin, que viria a se tornar com o tempo um sinônimo para qualquer "missão impossível". O programa tinha como foco as aventuras de uma equipe de agentes secretos do governo dos Estados Unidos, que operava em paralelo com a CIA e era intitulada IMF (Impossible Mission Force), lidando com todos os tipos de ameaça criminosa em nível nacional e até mundial.
Neste primeiro longa-metragem baseado no seriado, o agente Ethan Hunt (Tom Cruise) faz parte de uma equipe de operativos do IMF que atua sob a liderança do astuto Jim Phelps (Jon Voight, assumindo aqui o papel do principal nome da série televisiva, originalmente feito por Peter Graves). Numa das missões do grupo em Praga, que consiste em seguir um atravessador e recuperar um disquete com informações cruciais sobre todos os agentes em atividade ao redor do mundo (a tal lista "NOC"), todos são surpreendidos numa emboscada e assassinados, com exceção de Hunt e da bela esposa de Phelps (Emmanuelle Béart). Transformado em suspeito número um de ser um agente duplo, Hunt passa a ser caçado pela equipe de seu superior (Henry Czerny), mas toma a dianteira do conflito ao convocar a ajuda de mais dois agentes desautorizados, um hacker (Ving Rhames) e um piloto freelance (Jean Reno), para conseguir o disquete com os dados das mãos da CIA, negociá-lo com seu misterioso comprador e, de quebra, limpar seu nome.
O filme destoa de várias coisas, tanto para o lado bom quanto para o lado ruim (principalmente para os fãs saudosistas do seriado original, neste último caso). Do lado bom, o maior ganho de Missão Impossível está na presença de Brian De Palma na cadeira de diretor, o que garante uma finesse sem par nas várias cenas de suspense e traz de volta alguns dos momentos de grande iluminação do cineasta, que vinha de uma saudável onda de filmes mais voltados para o entretenimento desde Os Intocáveis (1987). Do lado ruim, basta dizer que, bem, o filme é enfático ao declarar o fim de uma era dentro do histórico da série, e o conseqüente início de outra. E isto não poderia estar mais relacionado ao fato de Tom Cruise ser ao mesmo tempo o produtor e o astro principal do espetáculo. Sai o trabalho de equipe que foi a marca registrada da série, entre o enfoque em apenas um personagem. O que nem chega a ser tão incômodo assim, dada a estrutura do roteiro e o pepino em que o agente Ethan Hunt acaba se metendo.
Mesmo assim, há de se reconhecer que esta é uma adaptação bem mais fiel ao espírito do original que a sua continuação, dirigida por John Woo em 2001. Ela mantém por mais tempo o clima e o charme criados pelo famoso "briefing" - a emblemática mensagem que se auto-destrói em segundos após ser recebida, dando início a toda a aventura do episódio. As várias reclamações a respeito da suposta complexidade da trama que surgiram quando o filme foi lançado não procedem, sendo o roteiro razoavelmente bem amarrado. O filme de De Palma tem sua cota de bugigangas, disfarces, reviravoltas e ação impossível, indo neste último ponto além dos limites e saindo fora dos eixos em seu clímax explosivo e inverossímil, o que é uma pena. Mas a presença estonteante de Emmanuelle Béart só faz confirmar minha idéia de que mesmo os homens mais frios e centrados são capazes de cometer erros e perder as estribeiras por causa de uma mulher bonita.
A série continua em Missão Impossível 2, produzido em 2000.
O único extra presente na edição simples do DVD da Paramount é o trailer de cinema.
Texto postado por Kollision em 20/Abril/2006