Muito conhecido por suas contribuições memoráveis ao horror no cinema, poucas vezes o diretor Wes Craven ousou trilhar um caminho que não trouxesse algo sobrenatural ao roteiro de seus filmes. Vê-lo comandar um suspense relativamente tradicional é uma amostra de que seu olhar cinematográfico não só continua ótimo, como também ainda se adapta com louvor à maquina hollywoodiana de produções direcionadas ao grande público. Afinal, não foi há tanto tempo assim que ele deu novo fôlego ao sub-gênero slasher com a série Pânico.
Em Voo Noturno, a maior parte das tensões acontece dentro do ambiente exíguo de um avião em vôo entre Dallas e Miami. Lisa (Rachel McAdams), a bela gerente de um dos melhores hotéis da Flórida, toma um chá de cadeira em Dallas quando o último vôo da noite (o tal "red eye" do título) é adiado devido ao mau tempo. Numa agradável surpresa, ela engata uma conversa empolgante com o simpático estranho feito por Cillian Murphy, passando até mesmo pela coincidência de tê-lo ao seu lado quando o avião finalmente decola. Para a infelicidade da moça, o cara é na verdade um terrorista que a chantageia para que ela facilite a execução de um terrível atentado no hotel onde trabalha, em troca da vida de seu pai (Brian Cox).
O bom resultado do filme começa pela eficiência na contratação do elenco, que não poderia ser mais adequado. A carreira ascendente de Rachel McAdams parece denunciar algo mais além de outro rostinho bonito de vida efêmera no cinema, e Cillian Murphy aproveita para firmar-se como um dos novos intérpretes de vilões hollywoodianos (vide sua performance como o Espantalho em Batman Begins). Murphy tem o aspecto calmo, mas ao mesmo tempo ameaçadoramente enigmático, que um terrorista bem infiltrado teria na vida real. Que garota suspeitaria de um cara boa-pinta, bem vestido, educado e galanteador? É até meio esquisito ver Brian Cox reduzido a um personagem que passa praticamente todo o filme sentado em frente à TV comendo lasanha. O que é plenamente justificável, já que o centro das atenções é o jogo de gato e rato entre a mocinha e o bandido, no sentido mais clássico do termo.
Sem possuir lances mirabolantes demais no roteiro, o filme de Craven prima pelo bom aproveitamento da dupla de atores a serviço de uma história rápida e bem contada. Há um quê de clichê durante toda a projeção (até mesmo porque thrillers sobre terroristas e aviões já foram feitos aos borbotões), mas a mudança de cenário na parte final do filme ajuda a manter a adrenalina em alta. Marco Beltrami faz um trabalho notável com a trilha sonora, pontuando com bastante classe os momentos de maior tensão do filme.
Para aqueles que já passaram por algum apuro dentro de aviões comerciais, será ainda mais interessante acompanhar o drama de Voo Noturno. Apesar de não ser tão bom quanto, a sensação é quase a mesma de se assistir a Por um Fio, que também era curtinho e colocava o protagonista em situação igualmente desesperadora diante de uma ameaça terrorista.
Texto postado por Kollision em 22/Setembro/2005