Uma sessão desta refilmagem do hoje clássico A Profecia, dirigido por Richard Donner em 1976, levanta várias questões de cunho prático, tanto comercial quanto artisticamente. Até que ponto a indústria deve investir em remakes que praticamente nada acrescentam ao material original? Onde está o novo, em que aspectos uma releitura é capaz de se mostrar superior a algo que já era, teoricamente, muito bem-feito? Não que filmes ruins não tenham a honra de serem refilmados, o que também acontece vez ou outra (vide Horror em Amityville), mas justificar tal empreendimento somente com base nos cifrões e na capacidade da massa que freqüenta os cinemas de se surpreender com mais do mesmo é no mínimo leviano, e em geral um grande desperdício de talento e dinheiro.
Tais questionamentos emergem com o novo A Profecia porque a "nova versão" da história não merece ser chamada desta forma. Quase até os mínimos detalhes, o que se vê na tela é uma cópia-carbono do trabalho de Donner, desde a maior parte dos diálogos até cenas-chave da história. Troca-se o elenco, enquanto os nomes dos personagens permanecem os mesmos, com o crédito do roteiro sendo mantido para David Seltzer, escritor do filme original. Naquele e neste, o poderoso diplomata americano Robert Thorn (Liev Schreiber) faz alguns arranjos emergenciais para que sua esposa Kathy (Julia Stiles) tenha um filho chamado Damien (Seamus Davey-Fitzpatrick), isso quando o seu verdadeiro rebento falece após o parto. Damien é, na realidade, o filho do demônio, e não tarda para que pessoas comecem a morrer ao seu redor, sempre em circunstâncias muito misteriosas. Há o padre que era malvado e se arrependeu (Pete Postlethwaite), há a babá atenciosa mas extremamente suspeita (Mia Farrow), e há o fotógrafo que se une a Thorn em sua jornada de macabro descobrimento (David Thewlis). E, para quem já viu e sabe do que é feita a saga de Damien, o resto não é nenhuma novidade.
Que a refilmagem era, do ponto de vista artístico, algo completamente inútil desde o momento de sua idealização, não resta dúvida alguma. Afinal, o trabalho original ainda hoje se mostra atual, e qualquer releitura com o intuito de "atualizar" a linguagem cinematográfica para as platéias dos novos tempos cai na vala das justificativas amareladas que sempre encobrem o desejo dos estúdios por mais dinheiro. Embora tecnicamente a mão do diretor John Moore não seja ruim, ele praticamente abdica de qualquer aplicação de estilo próprio, entregando um filme-clone que só agradará mesmo a quem jamais tenha posto os olhos no filmaço que é o longa original.
"Puxa, mas será que a nova versão é tão clone assim?" OK, vamos listar o (pouco) que há de diferente: pesadelos e algumas mortes. Só. Os pesadelos ficam por conta de umas imagens perturbadoras aqui e ali que assombram a pobre mãe feita por Julia Stiles e, em apenas um momento, o atormentado pai. Algumas das mortes são retratadas de forma diferente, obviamente com o benefício das novas tecnologias digitais a serviço do cinema. As demais sutilezas não chegam a fazer muita diferença, mas é visível o modo como o distanciamento entre mãe e filho é bem mais acentuado no filme de Moore, assim como a maldade deliberada do menino. O que, diga-se de passagem, não é suficiente para dizer que o novato Seamus Davey-Fitzpatrick é um Damien melhor que Harvey Stephens, o moleque que encarnou o anticristo em 1976 e que neste filme faz só uma pontinha-relâmpago como um repórter.
Em suma, o novo A Profecia não é um desastre, mas simplesmente não vale a pena para quem já viu o original.
Texto postado por Kollision em 24/Junho/2006