Joel Schumacher é um bom diretor. Isso é fato. Ele fez o excelente Um Dia de Fúria, com Michael Douglas, e transitou entre extremos como Os Garotos Perdidos e Tigerland - O Caminho da Guerra. Um de seus filmes, no entanto, afundou uma franquia de razoável rentabilidade (Batman) e quase destruiu sua carreira. Batman & Robin tornou-o motivo de piada da noite para o dia, trazendo à tona dúvidas do tipo "será que ele ficou pinel?" e afirmações como "ele nunca mais fará um filme bom". Os filmes seguintes, entre eles 8 mm e Em Má Companhia, não foram sucessos nem de público, nem de crítica. A verdade é que o homem só viria a se redimir mesmo com Por um Fio, thriller tenso e marcante como há um bom tempo não se via.
Encabeçando o elenco está Colin Farrell como o publicitário Stu, um yuppie casado boa pinta, mentiroso e aproveitador que vive ludibriando aqueles ao seu redor em prol dos eventos que divulga e cantando suas clientes nas horas vagas. Certo dia, ele atende a ligação de uma cabine telefônica que acabou de usar, e é surpreendido por uma voz grave que logo diz que vai matá-lo se ele desligar o aparelho. Chantageando Stu para que ele não deixe a cabine telefônica, a voz revela saber muito sobre a sua vida pessoal, à medida que os transeuntes e, em última instância, sua esposa (Radha Mitchell), sua amante (Katie Holmes) e a polícia, liderada pelo capitão Ramey (Forest Whitaker), convergem para o local. Stu é então forçado a revelar seus pequenos crimes da forma mais constrangedora possível, sob a mira telescópica de um atirador invisível no centro de Nova York.
Filmado em apenas 10 dias em plena Los Angeles, Por um Fio é uma aula sobre como extrair o máximo de tensão possível de uma idéia aparentemente muito simples. O roteiro enxuto de Larry Cohen não deixa a poeira baixar um minuto sequer depois que a personagem principal da trama, a cabine telefônica em si, é colocada em cena. Colin Farrell mostra-se perfeito no papel de vítima do acaso, de um aparente lunático que no entanto sabe cada detalhe de sua vida e de sua conduta errática. O tom sério e por vezes carregado de humor negro de Kiefer Sutherland, que faz a voz arrastada do outro lado da linha, cria um vilão sem corpo que deixa o espectador na ponta da poltrona durante quase toda a projeção do filme. O desfecho tem até mesmo a audácia de apresentar uma conotação algo simbólica para o drama de Stu, que chega mesmo a ser surreal sob certos pontos de vista.
O tempo de duração, diga-se de passagem, é outro ponto acertado da história. 1h20min é mais do que suficiente para contá-la, ao invés das às vezes intermináveis duas horas que alguns cineastas costumam costurar ao fazer filmes que não chegam nem a um décimo do impacto que Por um Fio causa, tanto em termos de suspense quanto de qualidade narrativa.
O making-of de cerca de meia-hora, presente na seção de extras, traz entrevistas de diretor e elenco e mostra o trabalho colossal da equipe de produção ao transformar uma rua de Los Angeles em Nova York, assim como dá um caldo do que foi filmar o longa de forma completamente seqüencial em apenas 10 dias.
Texto postado por Kollision em 15/Novembro/2004