Helen Fielding, a autora do bestseller O Diário de Bridget Jones, livro que inspirou um filme homônimo, talvez jamais tivesse imaginado que a cria cinematográfica oriunda de sua obra alcançasse o sucesso que conseguiu. Marcado pela indicação ao Oscar de melhor atriz para a protagonista Renée Zellweger, o filme de 2001 apresentou à platéia as aventuras da típica mulher de meia-idade, cuja caótica, engraçada e por vezes mundana rotina foi muito bem retratada. Um pouco acima do peso e imersa em dilemas pessoais e profissionais que se entrelaçavam graças à sua própria confusão, Bridget Jones era o arquétipo da mulher solteira moderna. Com muito bom humor e apoiada por um elenco masculino super-afinado, Zellweger definitivamente elevou o que seria mais uma comédia boba a um patamar de respeito.
Sendo assim, o que afinal não funciona bem em Bridget Jones - No Limite da Razão? Todos os ingredientes do original estão lá, uns até mesmo um pouco mais acentuados que outros (como a incrível capacidade da protagonista de se meter em situações constrangedoras). Além disso, Colin Firth e Hugh Grant retornam exatamente como antes, e Renée ganhou peso novamente, de tal forma que até parece ter passado um pouco do ponto. A trilha sonora continua acertadíssima, com canções escolhidas a dedo para determinadas passagens do filme. Apesar da direção ter mudado de mãos, passando para a responsabilidade de outra mulher, a essência desta continuação é praticamente a mesma do original.
E é exatamente aí que reside o ranço que acompanha No Limite da Razão do início ao fim. Contar a mesma história de novo ou chegar ao mesmo lugar de onde se partiu torna qualquer continuação redundante e desnecessária. A surpresa que existia desapareceu, e até mesmo as piadas não surtem o mesmo efeito de antes. Bridget ficou tão pateta que chega a inspirar pena em pelo menos duas cenas desta continuação, o que não acontecia no original. Na história, algumas semanas se passaram desde que Bridget escolheu ficar com o advogado certinho Mark Darcy (Colin Firth). Felicíssima, ela continua a atormentar a vida do amado da mesma forma ingênua e constrangedora de antes. Mas as coisas começam a tomar rumos estranhos quando a secretária dele passa a aparecer com freqüência cada vez maior onde quer que eles estejam. Em crise, ela se distancia de Mark e volta a ficar à mercê do cafajeste Daniel Cleaver (Hugh Grant), envolvendo-se em confusões cada vez maiores do outro lado do mundo.
O grau de repetição, ainda que competente, da história requentada, encontra seu ápice em mais uma cena de briga entre os dois pretendentes de Bridget. Não há o impacto e a graça do original, mas ainda é divertido ver dois marmanjos brigando como moças. Essa e as cenas intimamente ligadas a canções pop clássicas adequadamente utilizadas são os motivos principais do porquê o filme não é uma perda completa. Assim como a presença cênica prolongada de Grant, completamente injustificada (mesmo no livro a sua participação é ínfima), muitas das demais situações soam forçadas sem levar a lugar nenhum, narrativamente falando.
A esperança que fica é que Renée Zellweger, coitada, não se sujeite a fazer Bridget Jones mais uma vez, mesmo que ela seja novamente tentada pelo pequeno "incentivo" de 1 milhão de dólares para cada quilo a mais que ganhar. Pelo menos não com mais uma história completamente requentada e esquecível como essa.
Texto postado por Kollision em 21/Dezembro/2004