Cinema

Batman Begins

Batman Begins
Título original: Batman Begins
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 141 min.
Gênero: Ação/Aventura
Diretor: Christopher Nolan (O Grande Truque, Batman - O Cavaleiro das Trevas, A Origem)
Trilha Sonora: Hans Zimmer (O Sol de Cada Manhã), James Newton Howard (King Kong [2005])
Elenco: Christian Bale, Liam Neeson, Michael Caine, Katie Holmes, Gary Oldman, Cillian Murphy, Tom Wilkinson, Morgan Freeman, Rutger Hauer, Ken Watanabe, Mark Boone Junior, Linus Roache, Larry Holden, Gerard Murphy, Colin McFarlane, Sara Stewart, Gus Lewis, Richard Brake, Rade Serbedzija, Emma Lockhart, Christine Adams
Avaliação: 7

Desde sua criação, Batman angariou fãs e sucesso em três mídias principais: as HQs, a televisão e o cinema. Nas páginas das revistas, o personagem passou por várias mudanças até atingir a alcunha de 'cavaleiro das trevas'. As séries televisivas exploravam uma faceta mais alegre e bem-humorada, característica das primeiras histórias em quadrinhos do homem-morcego. O cinema, por sua vez, viu renascer com o Batman de Tim Burton (1989) a importância e as recompensas que uma campanha massiva de marketing pode acarretar. O tempo passou e a fórmula cinematográfica se diluiu a ponto de descambar para o escracho do último filme da série iniciada por Burton, o execrado Batman & Robin de Joel Schumacher (1997).

A ironia que causa calafrios em muitos fãs é que Schumacher esteve por um bom tempo a cargo do projeto de mais um filme da franquia. A lenga-lenga em torno de mais um filme e a expectativa criada devido ao sucesso das adaptações de personagens da Marvel Comics manteve o futuro projeto de Batman no limbo. O parto foi difícil, mas a responsabilidade acabou finalmente nas mãos do jovem mas cultuado Christopher Nolan, diretor do independente e elogiado Amnésia. Só que desta vez há algo diferente: o roteiro (escrito a quatro mãos por Nolan e David Goyer) passa uma borracha nos filmes de Burton e Schumacher e reinicia a saga do morcego do zero, enfatizando sua origem e o que, de fato, leva o ricaço Bruce Wayne a combater o crime da forma que faz.

Assim, Batman Begins começa mostrando a infância de Bruce Wayne (Christian Bale) e dois acidentes que o marcarão pelo resto da vida, um envolvendo morcegos e o outro sendo o brutal assassinato de seus pais, testemunhado pelo próprio. Tendo como únicos amigos o mordomo da família (Michael Caine) e a bela Rachel Dawes (Katie Holmes), Bruce cresce e busca vingança contra o responsável pelo assassinato dos pais. Entra em cena a figura do chefão do crime Carmine Falcone (Tom Wilkinson), que lhe dá o ânimo e a desculpa necessários para uma viagem sem volta pelos recantos mais inóspitos do mundo. É numa destas aventuras que ele conhece o mentor Henri Ducard (Liam Neeson) e o mestre da Liga das Sombras Ra's Al Ghul (Ken Watanabe). Bruce é treinado nas artes das sombras mas vem a tomar um rumo diferente dos novos companheiros. De volta a Gotham City, ele reaproveita boa parte da doutrina à qual foi submetido para criar a figura de Batman e combater a injustiça e a corrupção que impregnam a cidade.

Tudo o que foi descrito no parágrafo anterior toma mais da metade do filme. Só então é que a platéia terá um vislumbre de Christian Bale na roupa do homem-morcego. Outros personagens ainda são introduzidos, como o capitão Gordon (Gary Oldman), o técnico das empresas Wayne e amigo Lucius Fox (Morgan Freeman) e o psiquiatra do Asilo Arkham Jonathan Crane (Cillian Murphy). Todos representam papéis importantes na trama, que é de uma seriedade absurda se comparada aos últimos filmes da série anterior. A atmosfera sombria ainda permeia quase todas as tomadas, numa Gotham City que tem cara de qualquer metrópole normal, a não ser pelas linhas de metrô suspensas inspiradas na paisagem urbana da cidade de Chicago. Essas foram as escolhas do diretor Nolan e equipe e, embora tenhamos que respeitá-las como um aspecto de criação, não necessariamente é possível aprová-las. Batman pode ser um humano normal, mas o mundo em que está imerso nas HQs é tão fantástico que retratá-lo como uma metrópole comum simplesmente reduz o status do herói a um justiceiro qualquer perdido numa selva de pedra. Não acho que Christian Bale tenha a fisionomia de um Bruce Wayne, mas ele ficou razoável dentro da armadura do herói. Há que se dar crédito ao uniforme, que consiste simplesmente no melhor trabalho visto até hoje nas telas de cinema.

No mundo estéril concebido pelo filme, a ousadia visual só transparece nos sets da favela de Narrows, onde acontece parte do clímax da história. Por falar nela, há algumas coisas mal-explicadas aqui e ali, e a concepção do vilão Espantalho destoa de todo o clima realista. Afinal, dentro de todo o contexto, que diferença faz o ato do vilão colocar o saco de estopa na cara para borrifar o gás do medo em suas vítimas? E esse é o único resquício de bizarrice que qualquer um vai encontrar em Batman Begins. O plano maquiavélico do vilão, apesar de conter uma justificativa bacana, soa meio sem pé nem cabeça e não rende um desfecho satisfatório. Há também um certo abuso de closes durante as cenas de luta, o que é sempre desagradável quando elas são filmadas no escuro.

A seriedade pretendida por Christopher Nolan, que reuniu um extraordinário elenco de veteranos para dar credibilidade à sua história, resultou num conto fantástico que se descaracteriza ao manter um pé fincado na realidade. Há ação, há suspense, há muitos morcegos e há um controverso batmóvel que sintetiza o desejo que o longa tem de ser sério. O mérito principal do filme reside na coragem de retratar a origem do personagem. Mas bem que Tim Burton poderia ter aparecido nos sets para dar uns pitacos durante o processo de produção.

Texto postado por Kollision em 2/Julho/2005