Cinema

O Sol de Cada Manhã

O Sol de Cada Manhã
Título original: The Weather Man
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 101 min.
Gênero: Drama
Diretor: Gore Verbinski (Piratas do Caribe - O Baú da Morte, Piratas do Caribe - No Fim do Mundo, Rango)
Trilha Sonora: Hans Zimmer (O Código Da Vinci, O Amor Não Tira Férias)
Elenco: Nicolas Cage, Michael Caine, Hope Davis, Gemmenne de la Peņa, Nicholas Hoult, Michael Rispoli, Gil Bellows, Judith McConnell, Chris Marrs, Dina Facklis, DeAnna N.J. Brooks
Avaliação: 6

Talento para comandar filmes de grande apelo o diretor Gore Verbinski já provou que tem. Depois de um começo meio bobo e para todos os efeitos descartável, o cara colocou seu nome no mapa "quente" com a refilmagem O Chamado (2002) e carimbou seu passaporte na categoria de blockbusters com o sucesso aventuresco do primeiro Piratas do Caribe (2003). O Sol de Cada Manhã surge para diversificar um pouco seu currículo, consistindo num filme que deseja ser sério sem perder um tom subliminarmente sarcástico, calcado na trajetória de um homem comum em crise de meia idade.

O personagem é o "homem do tempo" de um canal local de Chicago David Spritz (Nicolas Cage), que está sendo sondado por uma grande emissora de Nova York para um salário de mais de um milhão de dólares anuais. Apesar de ser muito bom em lidar com o teleprompter e criar jargões típicos dos astros de jornais televisivos, David é um desastre em casa. Separado da esposa (Hope Davis), ele dá tudo de si para melhorar a auto-estima da filha gordinha (Gemmenne de la Peņa) e se aproximar do filho adolescente desgarrado (Nicholas Hoult). Como se não bastasse ser espinafrado por todos que encontra na rua, David tem plena consciência de que é uma decepção para o pai (Michael Caine), um escritor que enfrenta uma consulta médica após a outra devido a problemas de saúde.

Narrado em primeira pessoa por Nicolas Cage, a história tem aquele quê de intimista que sempre acompanha tal técnica, garantindo o interesse crescente pela figura apagada e silenciosamente desesperada do tal homem do tempo. O filme mostra que ser bem-sucedido, ter uma boa renda e ser famoso não necessariamente exclui o caboclo de ser um perfeito pateta, seja diante da própria família ou de seus presumidos fãs. Não é assim tão difícil de captar à primeira vista que muito da situação apática na qual David Spritz se encontra decorre de suas próprias atitudes, e é claro que isso só é possível porque nós, como espectadores, compartilhamos com o personagem de sua narração e podemos analisar o problema de uma perspectiva diferente. Afinal, as coisas são sempre mais fáceis para quem está do lado de fora da redoma.

Assim, o que mais caracteriza a jornada do personagem principal é um coisa simples, mas nunca fácil de ser conseguida: o desejo de mudança. Ele quer mudar seu modo de ver o mundo, mas não consegue. Ele quer mudar seu padrão de vida, mas parece ter medo do que possa acontecer se encarar o desafio sozinho, por isso agarra-se ao desejo cego de levar o que lhe resta de família consigo nessa nova etapa. As suas reações em momentos de pressão são as mais estapafúrdias possíveis, com uma espécie de lado negro surgindo de dentro do pacato apresentador. Às vezes em situações cômicas, outras em explosões de fúria causadas por extremos (como o desfecho do drama de seu filho, ardilosamente assediado por um professor aproveitador).

Verbinski tem tato para construir as situações e desenvolvê-las a contento. Uma pena que a luta do herói da história tenha um final tão melancólico, mesmo que ele consiga de fato obter algumas das coisas que almejava. O último diálogo entre ele e seu pai, um Michael Caine sempre em excelente forma artística, é a chave para compreender o final de sua jornada. Sem firulas ou reviravoltas mirabolantes. E, por isso mesmo, tão convencional e bom apenas para se colocar um pouco acima da média.

Texto postado por Kollision em 3/Abril/2006