Cinema

Piratas do Caribe - O Baú da Morte

Piratas do Caribe - O Baú da Morte
Título original: Pirates of the Caribbean - Dead Man's Chest
Ano: 2006
País: Estados Unidos
Duração: 150 min.
Gênero: Ação/Aventura
Diretor: Gore Verbinski (Piratas do Caribe - No Fim do Mundo, Rango, O Cavaleiro Solitário [2013])
Trilha Sonora: Hans Zimmer (O Amor Não Tira Férias, Os Simpsons - O Filme)
Elenco: Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Bill Nighy, Stellan Skarsgård, Jack Davenport, Jonathan Pryce, Naomie Harris, Tom Hollander, Lee Arenberg, Mackenzie Crook, Kevin McNally, David Bailie, Martin Klebba, Alex Norton, Lauren Maher
Avaliação: 3

A segunda aventura do personagem que rendeu a Johnny Depp uma surpreendente indicação ao Oscar de melhor ator bateu recordes de bilheteria nos seus primeiros dias de exibição. Está aí um fenômeno que comprova a força do cinema enlatado cuspido pelos estúdios que detêm o maior poder dentro desta indústria. Espernear não adianta, já que, se não fosse Hollywood, alguma outra meca do cinema estaria em seu lugar. E todos nós, pobres cinéfilos escravos deste esmagador monopólio, estaríamos a reclamar da mesma forma. O grande problema é que Piratas do Caribe - O Baú da Morte é dolorosamente fraco como aventura, e em nenhum momento justifica o hype alimentado pela massiva campanha publicitária em torno do seu lançamento. O que infelizmente faz aflorar os ânimos de qualquer espectador com um pouco de cérebro, e desanima quem aprecia um bom filme e um bom cinema, seja ele pipoca ou não.

A trama da vez gira em torno de uma dívida que o estranho pirata Jack Sparrow (Johnny Depp) fez há alguns anos, que envolve seu poder sobre o navio Pérola Negra e volta para assombrá-lo. Davy Jones (Bill Nighy) é o pirata amaldiçoado com cara de lula que retorna para cobrar esta dívida. Para a felicidade de Jack, quem logo vem ao seu encontro é o jovem William Turner (Orlando Bloom), que precisa de sua ajuda para garantir a liberdade da amada Elizabeth (Keira Knightley), aprisionada por um oficial da lei tampinha e ganancioso (Tom Hollander). Sparrow e Turner unem suas forças para escapar das situações desesperadoras em que se encontram e reverter a maré a seu favor, encarando as hordas marinhas de Davy Jones para obter a chave de um baú que guarda a fonte do poder do inimigo.

História desinteressante e canhestra, com muito pouco humor ao longo do caminho e personagens que, incrivelmente, tendem a se tornar cada vez mais antipáticos. Isso graças ao roteiro, que está mais preocupado em demonstrar a cada take o quanto todos os seus personagens podem ser misteriosos e traiçoeiros, ao invés de buscar um vínculo mais sólido entre a platéia e uma história com um ponto de partida confuso demais para um filme inspirado num brinquedo de parque de diversões. O longa-metragem carece de alma, algo que o primeiro Piratas do Caribe tinha de sobra, e se arrasta durante boa parte de suas duas horas e meia de duração sem despertar uma mínima fagulha de verdadeira empolgação pirata, geralmente engolida por uma tonelada de efeitos digitais e situações pra lá de infantilizadas. Nem mesmo a surpresa reservada ao personagem de William Turner, que reencontra o pai (Stellan Skarsgård) entre a tripulação amaldiçoada de Davy Jones, consegue garantir o algo a mais na história.

Lampejos do que foi o primeiro filme só são ensaiados na escapada de Jack Sparrow diante de uma comunidade canibal que o adora com um deus e deseja livrá-lo de sua "prisão carnal", além da grata surpresa reservada para o momento final do longa. Há alguns sustos bem feitos e uma quantidade ainda maior de seres putrefatos, que não conseguem manter a mágica presente na combinação dos estilos "crônica pirata" e "sobrenatural", feita com tão adequada simbiose no primeiro filme. Para um trabalho tão sombrio quanto este, a inocência mambembe de várias das cenas de ação é um contraste que soa quase irracional, e o mais triste é que não é só o diretor Gore Verbinski quem parece ter errado a mão. A trilha sonora de Hans Zimmer é um reaproveitamento vergonhoso de praticamente todos os temas que ele próprio concebera para Gladiador (Ridley Scott, 2000). Os espectadores poderiam passar sem essa, Herr Zimmer...

O Baú da Morte não funciona. Talvez valha a pena para alguns, pelo carinho que os personagens herdaram de A Maldição da Pérola Negra. Fica a esperança de que o encanto volte a aparecer no terceiro filme da série, produzido junto com este e programado para estrear dentro de um ano.

Texto postado por Kollision em 27/Julho/2006