O grande mérito deste sucesso do diretor Ridley Scott foi exatamente reviver um gênero outrora nobre em Hollywood: o épico histórico. A consagração veio com a conquista dos Oscars de melhor filme e de melhor ator para Russell Crowe, numa premiação morna que deveria ter ao menos agraciado Scott também com a estatueta em sua categoria. Seu cuidado visual característico é na realidade o principal atrativo de uma história vagamente baseada numa época verdadeira, que serve de palco para a saga de um homem só e é marcada por um reaproveitamento competente dos grandes clássicos, que apesar do cuidado técnico não consegue escapar do inevitável clichê.
Com o final do reinado do imperador Marcus Aurelius (Richard Harris), seu principal general e líder Maximus (Russell Crowe) retorna de mais uma batalha vitoriosa na esperança de poder voltar para casa e rever a família, mas se vê envolvido numa disputa de poder provocada pela morte do monarca e pela ascensão de seu perverso filho Commodus (Joaquin Phoenix) ao trono. Maximus tem a família assassinada e sua morte decretada, mas ainda assim consegue escapar, e o destino faz com que ele se torne um escravo. Sob a tutela do mercador Proximo (Oliver Reed), Maximus consegue cada vez mais popularidade dentro das arenas de jogos como um gladiador, vislumbrando aí a chance de se ver mais uma vez diante de Commodus e, quem sabe, ter sua vingança.
Como ditam algumas das linhas de divulgação do filme, esta é a história do general que se tornou um escravo, depois gladiador e, eventualmente, desafiou um imperador. O apelo ao heroísmo é, neste caso, universal, logo a história teria tudo para seguir o mesmo caminho já bastante trilhado por muitos clássicos do passado. E é exatamente isso o que acontece. O ponto alto no quesito ação é a cena de abertura, em que o exército de Maximus massacra um foco de resistência na campanha de conquista romana da Europa. Aparte a idéia de se transmitir a importância de Maximus para seu imperador, não há outra função narrativa para esta batalha. Mais adiante, o uso de um pano de fundo político ajuda a preencher a trama, mas não é capaz de disfarçar a bolha narrativa do trecho intermediário, onde o clichê se instala com vontade, só voltando a ser expurgado na forçada seqüência final.
É por isso que vejo com leve desconfiança o grande apreço com o qual o mundo recebeu este filme em 2000, e acredito que, dentro de suas óbvias inspirações e aspirações, esta obra de Ridley Scott foi de um modo geral bastante superestimada. Não que o filme seja ruim, claro. Nos departamentos técnicos ele é praticamente irrepreensível, tendo sido um dos primeiros a utilizar com total confiança a tecnologia digital para recriar cenários de escala gigantesca, como o imponente (e aumentado) coliseu romano. A trilha sonora de Hans Zimmer é provavelmente uma das melhores de toda a sua carreira. Todo o elenco é primoroso, com destaque para o trabalho de Joaquin Phoenix, que personifica a inveja e a maldade com uma garra que por pouco não o marcou para sempre como ator de um papel só. Russell Crowe teve aqui uma consagração um pouco tardia, que coroou uma carreira ascendente cujos maiores destaques haviam sido suas elogiadas performances em Los Angeles - Cidade Proibida (Curtis Hanson, 1997) e O Informante (Michael Mann, 1999).
As filmagens foram marcadas durante a sua realização pela morte do ator Oliver Reed, e várias tomadas suas tiveram que ser retocadas digitalmente na pós-produção. O diretor dedicou o filme a ele nos créditos finais.
A edição dupla do DVD da Columbia traz, no segundo disco, um making-of básico de 25 minutos, 12 cenas excluídas com comentários do diretor, um especial de 50 minutos sobre a realidade sangrenta dos gladiadores romanos, um featurette de 20 minutos com Hans Zimmer falando sobre a composição da trilha sonora, o extenso diário pessoal escrito por Spencer Treat Clark, o garoto que faz o sobrinho de Commodus, várias seqüências e concepções de arte em storyboards, 7 galerias de fotos, notas de produção, biografias da equipe e do elenco, 2 trailers e 4 spots de TV.
Texto postado por Kollision em 14/Fevereiro/2006