Esta versão para o cinema do personagem da DC Comics Batman teve o mérito de estabelecer um novo padrão para o que vinha sendo feito na área de marketing e divulgação dentro da sétima arte. Ela foi notória também por proporcionar a Jack Nicholson uma das maiores rendas agraciadas a um único ator por filme, num lance de contrato absurdamente esperto por parte de Nicholson. É irônico que tais aspectos de Batman acabem se sobressaindo em relação ao filme em si, que não é nenhuma obra-prima mas detém um lugar de respeito na categoria de filmes baseados em HQ de maior retorno financeiro, até hoje.
Depois do sucesso inegável da comédia Os Fantasmas Se Divertem, o diretor Tim Burton recebeu sinal verde dos produtores e solidificou seu nome como uma das mentes mais bem-dotadas no quesito requinte visual em cinema. Isso porque, visualmente, Batman é um acerto que infelizmente não teve um roteiro à altura, que cometeu o erro grave de dar mais atenção ao vilão que ao herói, além de modificar deliberadamente algumas coisas que o material original possuía. A recriação do personagem e o desejo de distanciamento da imagem brega cravada a ferro e fogo pelo seriado da década de 60 nortearam o longa, que sem dúvida alguma deve seu apropriado aspecto gótico à direção de Burton e ao trabalho do designer de produção, um tal de Anton Furst.
Numa Gotham City prestes a celebrar seus 200 anos de vida e marcada pelo domínio do crime nas ruas, um cavaleiro de capa começa a fazer justiça com as próprias mãos nos guetos escuros da cidade. Ele é Batman, alter-ego do ricaço Bruce Wayne (Michael Keaton). Impressionados com os relatos dos meliantes, um repórter abelhudo (Robert Wuhl) e uma bela fotógrafa (Kim Basinger) decidem investigar o caso do homem-morcego, que se envolve na disputa entre o bandido mequetrefe Jack Napier (Jack Nicholson) e seu chefe perseguido pelas autoridades (Jack Palance). Napier sofre um horrível acidente, tem o rosto desfigurado e acaba cedendo à loucura que o domina, assumindo a alcunha de Coringa e espalhando o terror em Gotham. Torna-se apenas uma questão de tempo até que seu caminho se cruze com o do homem-morcego, que entrementes se envolve com a bela fotógrafa feita por Kim Basinger.
Michael Keaton é um intérprete bom para Batman, exceto pelo físico meio franzino que não casa muito bem com as cenas em que o herói aparece de uniforme. As lutas são breves, sem muitas firulas e nelas não há nenhum virtuosismo mirabolante. Boa parte da ação é absorvida ou trocada pelo universo fantástico concebido para Gotham City e para a bat-caverna, o que não é de todo ruim. Mas o que mais pode decepcionar, principalmente para os fãs hardcore do personagem, é a presença cênica superior (até mesmo nos créditos de abertura) do Coringa de Jack Nicholson. Podem até alegar que isso ocorre porque o filme retrata uma gênese completa para o vilão e pega Batman já no início de sua carreira heróica, mas é inegável que o vilão ofusca completamente o tal homem-morcego com uma performance pra lá de memorável, insano em sua loucura desvairada e risonha.
Relevando-se algumas bobagens da estirpe de um Batman pilotando a bat-asa (batwing, o avião cujo nome não tem tradução decente) acima das nuvens só para mostrar o símbolo do herói, o filme tem um conflitozinho com a mocinha e algumas passagens divertidas (notadamente quando o Coringa está em cena). O elenco tem ainda alguns coadjuvantes nobres, como Michael Gough na pele do mordomo Alfred, Billy Dee Williams como o promotor Harvey Dent e a modelo Jerry Hall na pele de uma assecla do Coringa. Um pouco triste é ver que o comissário Gordon (Pat Hingle) praticamente inexiste, enquanto o sem graça Robert Wuhl ganha participação considerável como um alívio cômico que só toma espaço na tela. As músicas que Prince compôs para a trilha sonora após a desistência de Michael Jackson carregam um tom de nostalgia que traz à mente o seriado camp dos anos 60, mas ainda bem que a trilha incidental de Danny Elfman garante a seriedade que o longa exige.
O único conteúdo da seção de extras são biografias curtas do diretor e do elenco e algumas notas de produção.
Texto postado por Kollision em 18/Julho/2005