A terceira aventura do guerreiro perdido num futuro pós-apocalíptico tem muito mais em comum com a segunda parte que a primeira. O que era de se esperar, só que desta vez a influência e o sucesso dos trabalhos anteriores tratou de trazer sobre o novo filme a influência nem sempre bem-vinda da aura de Hollywood. Mais ambicioso, o projeto do terceiro Mad Max dá prosseguimento à desolação árida do segundo episódio, humaniza ainda mais o personagem e infelizmente acaba por representar um degrau abaixo em matéria de originalidade e resultado.
Max (Mel Gibson) continua a vagar pela terra desolada até chegar à cidade de Bartertown à procura de seus bens roubados. Controlada na superfície pela misteriosa tia Entity (Tina Turner) e nos subterrâneos pelo pequeno Master (Angelo Rossitto), Bartertown é um perigoso refúgio erguido no meio do deserto à base de metano, combustível produzido a partir do esterco de porco. Em troca de um novo veículo equipado com tal combustível, Max aceita lutar e matar o desafeto de Entity dentro da chamada Cúpula do Trovão. As coisas, porém, não saem como o esperado, e entra em cena uma tribo de crianças perdidas que acredita que Max é uma espécie de salvador que os levará à terra prometida.
Dividida em dois atos bastante distintos, a história dá ao relutante herói do futuro um rumo adequado, embora tudo esteja desta vez um pouco maculado pelo excesso. O nível da ação e a qualidade da produção continuam impecáveis mas, além de algumas frases inseridas de forma equivocada nos diálogos, a repetição de vários elementos de Mad Max 2 não traz nada de novo a uma série que, até então, tinha sido pioneira dentro de seu gênero. Não somente a ação final é uma cópia quase idêntica do clímax do filme anterior, como Bruce Spence, o ator que fez o capitão Gyro, o excêntrico piloto do helicóptero da parte 2, volta para reprisar o mesmo papel, só que em circunstâncias diferentes. Nunca fica evidente se trata-se ou não do mesmo personagem, dúvida que também surge ao final da luta entre Max e Blastermaster na cúpula do trovão, envolvendo um distante personagem visto no primeiro filme.
É interessante notar que o tom de todo o filme é de renascimento, ao invés da decadência e da degradação retratadas pelas duas primeiras partes. Um dos exemplos disso é que a tão preciosa gasolina se foi, e mesmo assim a civilização continua a encontrar meios para se reerguer. Particularmente, aprecio bastante o trecho que envolve o grupo de crianças visivelmente inspirado pela história de Peter Pan, e toda a mitologia criada por eles acerca daquele que um dia voltaria para conduzí-los à tão sonhada 'Terra do Amanhã'. É mais uma representação válida de uma das características mais humanas de todas: a de sempre depositar as esperanças e a responsabilidade da felicidade nas mãos de um ser superior. Morrem civilizações, nascem civilizações, e a idéia principal da divindade salvadora sempre renasce das cinzas.
Tina Turner saiu ganhando em todos os sentidos ao encarar um papel que, segundo os diretores, foi escrito com ela em mente. Por algum tempo a cantora achou que poderia seguir carreira de atriz, mas obviamente foi sua participação na trilha sonora que incluiu seu nome na história do cinema e lhe rendeu um hit inesquecível (a canção We Don't Need another Hero, que toca nos créditos finais). Na parte instrumental, as melodias bonitinhas de Maurice Jarre só conseguem deixar saudade da trilha cheia de adrenalina composta por Brian May (não é o guitarrista do Queen) para os filmes anteriores...
Passados 30 anos deste filme, George Miller retornou ao universo de Max em Mad Max - Estrada da Fúria.
A edição em DVD da Warner traz o filme em versões fullscreen e widescreen, e os poucos extras se resumem a biografias do elenco e dos diretores, textos sobre a produção e trailer original de cinema.
Texto postado por Kollision em 18/Setembro/2005