Refilmagem do clássico Zombie - O Despertar dos Mortos (George Romero, 1978), esta estréia na direção de mais um cineasta oriundo do meio publicitário é uma homenagem competente à série original e impressiona pelo resultado obtido, tanto junto ao público quanto à crítica em geral. O filme usa basicamente a mesma idéia por trás da obra que o inspirou, adaptando a história para o século XXI e deixando de lado qualquer explicação em relação à origem da hedionda praga que causa a ressurreição dos mortos e a conseqüente derrocada da humanidade.
Após cumprir mais um dia no turno noturno do hospital onde trabalha, a enfermeira Ana (Sarah Polley) volta para casa apenas para descobrir que toda a cidade, inclusive seu marido, foi tomada por uma praga que faz as pessoas morderem umas às outras, morrerem e retornarem à vida como zumbis sedentos de sangue. Em desespero, ela foge e se junta a um policial (Ving Rhames), um vendedor (Jake Weber) e um casal de namorados na busca por um abrigo, o qual eles eventualmente encontram num shopping center. Com o aumento do número de mortos-vivos e o aparente colapso do mundo como o conhecemos, o grupo de sobreviventes lentamente percebe que deve fazer algo mais para continuar vivos e escapar da fúria dos zumbis.
Do início ao fim, o que se vê em Madrugada dos Mortos é o desespero diante de uma ameaça que não pode ser sequer compreendida, quanto mais derrotada. O apocalipse, a punição divina, o armageddon, o fim dos tempos ou o que quer que faça mais sentido para qualquer um, chega para destroçar e destruir a humanidade da forma mais horrível possível, e pronto. O diretor estreante mostra que captou bem as lições do mestre Romero, e abusa de sua experiência prévia em comerciais para imprimir uma veracidade gráfica absurda aos corpos putrefatos, aos ataques dos zumbis e à vingança perpetrada pelo que restou de seres humanos. Uma das grandes diferenças, senão a única que vale a pena ser mencionada, é o aspecto extremamente ágil dos mortos-vivos, que aqui abandonam o comportamento lento e ameaçador disseminado pelos filmes clássicos do gênero para se tornarem atletas dopados e alucinados em eterna busca por carne humana fresca.
Como bom discípulo do mestre, Zack Snyder também inclui na trama do filme alguma crítica social, discorrendo discreta e rapidamente, por exemplo, sobre como as pessoas vêm a catástrofe sob o ponto de vista religioso e até onde seres humanos acuados são capazes de ir para garantirem a própria segurança. Uma contribuição interessante para o gênero é a presença de um bebê zumbi, numa das cenas mais incômodas de um longa que não se preocupa em poupar o espectador em matéria de gore. Muita atenção às letras de algumas das canções, escolhidas a dedo pelo próprio diretor e carregadas de uma ironia propositalmente mórbida.
A grande vantagem da edição em DVD do filme é que ela traz a versão do diretor, ligeiramente diferente daquela que foi veiculada nos cinemas durante seu lançamento, e apresenta também uma breve introdução explanatória de Zack Snyder. Dois extras interessantíssimos precisam ser vistos logo após o filme: o diário em vídeo de Andy, o dono da loja de armas que faz amizade com o grupo do shopping, e a transmissão fictícia de um canal de TV que cobre a escalada do terror à medida que os mortos-vivos dominam o planeta. Há ainda 11 minutos de cenas excluídas (comentadas pelo diretor), três especiais de 5 a 8 minutos detalhando o trabalho de maquiagem dos zumbis e o trailer de Todo Mundo Quase Morto.
Texto postado por Kollision em 20/Setembro/2005