Seqüência livre de A Casa dos 1000 Corpos, filme anterior do líder da banda White Zombie, Rejeitados pelo Diabo concentra sua história em três personagens dementes que retornam para provocar o caos enquanto fogem de uma caçada policial. Pelo que pude perceber, não tem problema nenhum assistir a esse filme se você ainda não viu o original, o que é o meu caso. O que se vê é uma espécie de prolongamento com tons de referência a O Massacre da Serra Elétrica (Tobe Hooper, 1974), que mais adiante se transforma num road movie macabro capaz de remeter em seus momentos mais emblemáticos tanto a Quadrilha de Sádicos (Wes Craven, 1977) quanto a Uma Rajada de Balas (Arthur Penn, 1967), enquanto abusa de referências engraçadinhas a Johnny Cash.
Estilisticamente, a mente sempre perturbada de Rob Zombie mostra-se extremamente apropriada ao gênero, disso não há dúvida. As linhas de diálogo são por vezes forçadas e não escondem a sua inexperiência como roteirista, mas Zombie compensa tudo com um senso narrativo razoável e um empenho considerável de seu elenco, integrado por veteranos mais do que entusiasmados em criar o supra-sumo do filme de serial killer. Porque a principal diferença deste trabalho em relação a outros similares é que ele se concentra, desde o início, nos bandidos, e não nas vítimas atormentadas por eles. Os tais rejeitados pelo diabo, assim como o policial que em determinado momento se revela um justiceiro tão ou mais sanguinário que eles, são o verdadeiro motor de uma trama que trata os civis exatamente como os autênticos serial killers os tratariam: como gado, como lixo humano.
Na história, a família de degenerados formada pelo palhaço sinistro conhecido como capitão Spaulding (Sid Haig), o magrelo cabeludo Otis (Bill Moseley) e a ameaçadoramente bela Baby (Sheri Moon) é posta para correr quando uma batida da polícia os encontra em sua casa dos horrores e captura a matriarca da família (Leslie Easterbrook – para quem não lembra, a policial peituda da série oitentista Loucademia de Polícia). O xerife que lidera a investigação (William Forsythe) encontra motivos bastante pessoais para empreender uma busca implacável e nada ortodoxa aos degenerados, que aterrorizam uma família de músicos em sua fuga alucinada através das estradas do Texas.
O filme é pontuado por recursos de edição dos mais variados, numa tentativa de conduzir a trama em tons intercalados de western e thriller. Uma passagem particularmente bizarra ocorre durante a discussão entre um crítico de cinema fanático pelos irmãos Marx e um fã de Elvis Presley. Há efeitos digitais que saltam aos olhos por uma certa precariedade, como os esfaqueamentos seguidos de jorros de sangue. No entanto, a caracterização dos personagens do mal é perfeita e garante o interesse por uma história de contornos polêmicos, que em determinados momentos pode passar a idéia errada de que é legal torcer pelos bandidos. O eventual senso de humor do palhaço e a beleza da mocinha são os principais responsáveis por isso, coisa do qual o depravado personagem de Bill Moseley passa longe. Como ele mesmo diz a certa altura, o cara está ali para fazer o trabalho do diabo na terra.
O pacote de extras do DVD inclui um making-of de cinco minutos, entrevistas rápidas com Rob Zombie, o produtor e o elenco principal, galeria de fotos, trailer e os trailers de O Pecado da Fé, Crash - No Limite e O Sumiço do Presidente - Mais uma Missão para San Antonio, além dos trailers de Camisa de Força e Garotas Sem Rumo, exibidos quando o disco é inicialmente lido.
Visto em DVD em 11-OUT-2006, Quarta-feira - Texto postado por Kollision em 15-OUT-2006