O Massacre da Serra Elétrica tinha, até pouco tempo antes do advento massivo do vídeo-cassete no anos 80, uma aura de filme maldito que raramente qualquer produção B de hoje em dia poderia obter. Tudo graças ao impacto de uma história macabra e cenas que na época chocavam pelo seu conteúdo de violência explícita, que causaram o banimento do filme em muitos países devido à censura. Hoje alçada à condição de clássico cult e devidamente representada por cópias em VHS e DVD, a obra que deu a sacudidela definitiva no gênero do terror nos anos 70 teve até mesmo a recente honra de receber uma refilmagem.
O baixo orçamento e a falta de recursos do então iniciante diretor Tobe Hooper não são empecilhos quando o que está na tela é um festival de sadismo como poucos vistos, pelo menos em sua meia hora final. Os personagens principais da 'história' são os irmãos Sally (Marilyn Burns) e Franklin (Paul A. Partain), que viajam com um grupo de amigos até uma cidadezinha do Texas para checar se o túmulo de seu avô foi ou não atingido por uma recente onda de violações de cemitérios. A precariedade da região (representada por postos de gasolina sem combustível) e outras circunstâncias adversas acabam por conduzi-los a uma casa habitada por uma família de canibais. Um a um, todos encontram seu destino nas mãos do grandalhão da família (Gunnar Hansen), um retardado mental munido de uma moto-serra que recebe a alcunha de Leatherface ('rosto de couro'), muito embora não haja menção alguma a este nome durante todo o filme.
Da imagem desbotada e das falhas de iluminação aos vícios amadorísticos evidentes (como as tentativas de criar impacto através da movimentação da câmera em ambientes com decoração macabra, corpos em decomposição, ossos humanos, esqueletos de animais e até mesmo carne humana assada), tudo em O Massacre da Serra Elétrica representa o ápice do que uma boa produção classe Z deve mostrar. A qualidade da atuação do elenco nem mesmo merece menção, mas tudo aquilo que um dia viria a se tornar clichê do gênero aparece no filme: garotas gostosas com seus namorados bobocas, adolescentes acéfalos metendo o nariz onde não são chamados, diálogos/monólogos imbecis ou inúteis, garotas gritando em desespero enquanto o vilão desajeitadamente leva a cabo sua perseguição assassina, e por aí vai. Mas há também certos lampejos de estilo para compensar, como alguns ângulos inusitados utilizados ao longo do filme e a narração em off do posteriormente famoso John Larroquette.
O que chama a atenção é que, mesmo sendo este um dos embriões do sub-gênero slasher, o filme ainda mantém seu impacto quase inalterado. Veementemente ignorado na época de seu lançamento, sua base de fãs formou-se muitos anos depois, atingindo hoje níveis inacreditáveis para um pastiche violento filmado com muita vontade e determinação, apesar de todos os problemas. O clima das filmagens conduzidas por Hooper pode ser medido por uma declaração de Edwin Neal, que faz o papel do caroneiro masoquista irmão de Leatherface. Neal afirmou que, devido às condições quase inumanas da filmagem, fazer o filme foi um desafio pior que sua experiência como combatente no Vietnã, enfatizando que ele teria vontade de matar Tobe Hooper se alguma vez o visse de novo. A heroína do grito Marilyn Burns realmente se machucou nos arbustos durante a perseguição de Leatherface, e muito do sangue que cobre seu corpo na tela é real.
Num aspecto geral, o resultado do filme é comprometido por um ritmo desconjuntado que só se equilibra em sua meia hora final, quando a sensação de antecipação é definitivamente substituída pela tortura física e psicológica da heroína. Fica fácil então entender porque a verdadeira importância desta obra seminal de Tobe Hooper não está relacionada à qualidade do material, mas sim ao seu impacto temporal e ao estabelecimento de um novo padrão para o que poderia ser mostrado dentro do gênero do terror, o que infelizmente foi o principal responsável por inúmeras porcarias que pipocaram nos cinemas na década seguinte.
A edição em DVD da Flashstar vem com 13 minutos de cenas excluídas e alternativas, galerias de fotos e pôsteres, trailer e biografias de Gunnar Hansen, Edwin Neal e Marilyn Burns.
Texto postado por Kollision em 8/Março/2005