Desde que lançaram O Amor É Cego em 2003, os irmãos Farrelly paulatinamente se distanciaram do humor que os fez famosos e, digamos, nunca mais foram os mesmos. O amadurecimento (ou amolecimento) das mentes dos malucos responsáveis por Débi & Lóide continua em Amor em Jogo, novo trabalho que envereda muito mais pela comédia romântica propriamente dita do que pelo escracho anteriormente característico. A tradução que o título do filme recebeu em português pode ter sido idiota, mas não poderia ser mais apropriada.
O casalzinho da vez é a executiva Lindsey (Drew Barrymore) e o professor Ben (Jimmy Fallon), que acabam se conhecendo por insistência dos alunos deste último, engatando logo um saudável relacionamento. O que ela não sabe é que o simpático professor é também um fanático doente de baseball, mais propriamente do time do Boston Red Sox. Seu apartamento é uma espécie de templo de devoção ao time, e ele não perde nem mesmo os treinos preparatórios da equipe para a nova temporada que se inicia. É daí que surgem todos os conflitos que eventualmente colocarão o romance em xeque.
Num papel que tinha toda a cara de ser apenas mais um para Adam Sandler, o quase equivalente Jimmy Fallon tem bastante espaço para destilar sua aura de moço boa-praça que se transforma numa figura inflamada, quase patética em sua empolgação esportista. Ben é um camarada que sempre teve dificuldades em manter relacionamentos devido à sua paixão pelo esporte, que vem desde a infância graças a um tio que também era fã. A faceta exagerada de sua personalidade responde por boa parte das risadas do filme, como na cena em que Lindsey, completamente perplexa, finalmente tem uma idéia da dimensão do fanatismo do namorado por baseball. A quantidade de papéis semelhantes que Drew Barrymore (também uma das produtoras da película) já fez anteriormente dá uma idéia do que esperar da moça em Amor em Jogo.
A história deixa as preliminares um pouco de lado e salta logo para o romance entre a workaholic e o fanático. Há uma ou outra cena mais escatológica, como o festival de vômitos da protagonista, mas nada que relembre a época áurea do humor dos Farrelly. Muitas das cenas de baseball foram filmadas em locações e jogos reais, inclusive aquela em que o escritor Stephen King dá uma palhinha. Vários jogadores profissionais também participaram como extras em cena, ao passo que Fallon e Barrymore abriram alguns jogos atirando o tradicional primeiro arremesso da partida (o tal 'first pitch').
No geral, o que se vê na tela é a típica comédia romântica de estrutura clássica, com seus picos e vales característicos antes do clímax esperado. Ainda que o resultado final não seja ruim, é engraçado como as coisas mudaram e continuam a mudar para os irmãos Farrelly.
Texto postado por Kollision em 10/Setembro/2005