Quase a metade dos filmes aos quais assisti em Fevereiro foi no cinema, o que estabelece um recorde desde que iniciei este diário cinematográfico. Foram 7 na grande tela, totalizando 16 com as películas vistas em DVD. Tudo isso, claro, motivado pelo Oscar. Poderiam ter sido mais filmes, mas infelizmente nem Ray e nem Sideways - Entre umas e Outras entraram em cartaz em minha cidade. Coisas da vida, fazer o quê?
O mês foi aberto e fechado com dois clássicos da primeira era de ouro do horror: Frankenstein e A Noiva de Frankenstein (James Whale, 1931/35). O primeiro é uma das obras seminais do gênero, enquanto o segundo atinge o status de obra-prima inquestionável, sendo até hoje praticamente imbatível em sua combinação de horror clássico, drama e até mesmo um certo humor. Percebi que preciso conhecer mais trabalhos de Boris Karloff, de preferência fora do gênero que o tornou famoso. Triste é ver o descaso com que executivos e cineastas tratam essa época tão mágica, como pode ser comprovado na indecência chamada Van Helsing - O Caçador de Monstros (Stephen Sommers, 2004). Sommers nunca fez nada que prestasse, e muito pouca coisa se salva do festival insosso protagonizado por Hugh Jackman e Kate Beckinsale.
O novo suspense estrelado por Robert De Niro, intitulado O Amigo Oculto (John Polson, 2005), sucumbe ante um emaranhado de situações marcadas por clichês e uma reviravolta no roteiro que está muito aquém de convincente. A bola da vez no que se refere a thrillers foi o festejado Jogos Mortais (James Wan, 2004), a maior surpresa do ano nos cinemas até agora, pelo menos neste gênero. Um pouco mais antiga é a trama meio erotizada de Instinto Selvagem (Paul Verhoeven, 1992), longa mais conhecido por colocar o nome de Sharon Stone sob os holofotes com uma cena da moça cruzando as pernas sem calcinha.
A efervescência da cerimônia do Oscar até que não foi tão vazia este ano, pois consegui assistir a 3 dos 5 indicados a melhor filme. Não sei se sou só eu que tenho essa impressão, mas a esmagadora maioria dos filmes que concorrem ao Oscar quase sempre são lançados no final do ano anterior, fazendo com que seja quase impossível assisti-los antes da premiação. Bem, os dramas biográficos O Aviador (Martin Scorsese, 2004) e Em Busca da Terra do Nunca (Marc Forster, 2004) possuem atores principais talentosos, sem sombra de dúvida, pois Leonardo Di Caprio e Johnny Depp até concorreram à estatueta de melhor ator. O primeiro filme mostrou-se perfeito esteticamente, mas um pouco longo e calculado demais. O segundo apóia-se em clichês de eficiência garantida para narrar uma bela história. Já Menina de Ouro (Clint Eastwood, 2004), o grande vencedor deste ano, é um drama com estrutura simples, mas imbuído de um impacto visual e psicológico como há um bom tempo não se via. É um filme virtualmente irretocável, com interpretações e direção devidamente premiadas pelo Oscar.
Há mais ou menos um ano atrás, outra grande esperança para este Oscar era Alexandre (Oliver Stone, 2004), épico ambicioso que falha amargamente sob muitos aspectos. Seja pela história excessivamente homossexual ou pelas escolhas erradas do roteiro, a verdade é que Stone meteu os pés pelas mãos feio, e teve que amargar ver seu filme ser indicado ao Framboesa de Ouro em várias categorias. Já o bem-sucedido e aclamado Homem-Aranha 2 (Sam Raimi, 2004), marco do cinema-pipoca do ano passado, levou uma estatueta para casa, a de melhores efeitos visuais. O segundo filme do cabeça de teia merece o reconhecimento, já que se trata simplesmente da melhor adaptação de HQs da história. Na outra ponta da escala aparece Elektra (Rob Bowman, 2005), cuja personagem principal foi inicialmente introduzida em Demolidor - O Homem Sem Medo (Mark Steven Johnson, 2003). Os dois filmes praticamente se equivalem em sua precariedade como adaptação, recebendo com louvor os títulos de piores da recente safra de filmes baseados em quadrinhos da Marvel Comics.
As comédias descompromissadas foram representadas pelo leve O Segredo do Meu Sucesso (Herbert Ross, 1987), que traz Michael J. Fox no auge de sua fama no cinema acompanhado da ex-promessa Helen Slater. O diretor Curtis Hanson não acerta muito bem o alvo em Garotos Incríveis (2000), mas o elenco de primeira compensa os furos da história maluca envolvendo duas gerações de escritores, representadas por Michael Douglas e Tobey Maguire.
E cheguei à conclusão que Ingmar Bergman, o homem por trás da obra-prima Morangos Silvestres (1957), com certeza tinha um olhar único para capturar a essência da alma humana. Acredito que poucos filmes igualam-se à história mostrada pelo diretor, sobre um homem que busca um significado para a sua vida em plena velhice. Obra mágica como poucas, e essencial em qualquer acervo pessoal.
As trilhas mais marcantes de todos estes filmes são, com certeza, A Noiva de Frankenstein e Homem-Aranha 2. A trilha de Em Busca da Terra do Nunca amealhou o Oscar da categoria este ano, mas tenho que admitir que não me atentei muito a ela durante a sessão na sala escura. Garotos Incríveis também tem trilha saudosista bacana, inclusive com uma canção ganhadora de Oscar, interpretada por Bob Dylan.
Texto postado por Kollision em 3/Março/2005