Cinema

Jogos Mortais

Jogos Mortais
Título original: Saw
Ano: 2004
País: Estados Unidos
Duração: 102 min.
Gênero: Terror
Diretor: James Wan (Gritos Mortais, Sentença de Morte, Sobrenatural)
Trilha Sonora: Charlie Clouser (Jogos Mortais II, Resident Evil 3 - A Extinção)
Elenco: Cary Elwes, Leigh Whannell, Danny Glover, Monica Potter, Ken Leung, Dina Meyer, Michael Emerson, Mike Butters, Paul Gutrecht, Benito Martinez, Shawnee Smith, Makenzie Vega, Ned Bellamy, Alexandra Bokyun Chun, Avner Garbi, Tobin Bell
Distribuidora do DVD: Top Tape
Avaliação: 8/10

Revisto em DVD em 2-DEZ-2007, Domingo

A impressão que tenho de Jogos Mortais é agradável, visto que o filme conseguiu criar uma mitologia original o suficiente para gerar uma merecida base de fãs. O material apresentado nas subseqüentes continuações da história pode não ser nenhuma obra-prima, mas foi desenvolvido de forma decente e interliga os inúmeros personagens e situações com certa habilidade. Para se ter uma idéia, tudo o que acontece neste primeiro capítulo reverbera em todo o conflito da parte IV, o que prova que assistir à série reduzindo ao mínimo o intervalo entre os filmes é bastante aconselhável.

Os extras do DVD consistem numa faixa de empolgados comentários do diretor James Wan e do ator/roteirista Leigh Whannell (legendada), um curtíssimo making-of de menos de três minutos, as versões censurada e liberada do videoclipe de Bite the Hand that Bleeds You do Fear Factory (com um making-of para a versão sem censura), uma galeria de pôsteres animada, três trailers, 2 propagandas de TV e os trailers de Vingança Cega, Nemesis Game - Jogo Assassino, Garrincha - Estrela Solitária, O Clã das Adagas Voadoras, O Sétimo Dia, As Aventuras de Marco Polo, Nicotina, O Lobo, Duplo Assalto, Adorável Julia e Três Vidas e um Destino.

Texto postado por Kollision em 21-FEV-2005

O força dos bons filmes de suspense reside num roteiro bem amarrado, situações bem construídas, bom nível de tensão e, em última instância, boa trilha sonora e bons intérpretes. Raramente todas estas características aparecem ao mesmo tempo numa mesma obra mas, quando ocorrem, caracterizam-na como obra-prima ou quase (como é o caso de muitos filmes de Hitchcock, ou mesmo material mais recente como O Suspeito da Rua Arlington, Advogado do Diabo ou Copycat). Este não é o caso de Jogos Mortais, que não prima pela exatidão de seu roteiro ou pela qualidade da atuação de seu elenco, não tem produção suntuosa e nem foi apoiado por uma massiva campanha de marketing. Mesmo assim, o filme dirigido pelo estreante James Wan é surpreendente, apresentando uma trama que jorra originalidade e tensão do início ao fim.

Quando o jovem Adam (Leigh Whannell, também responsável pelo roteiro) acorda imerso numa banheira e descobre estar acorrentado a uma tubulação qualquer de um mictório imundo, nada mais faz sentido. Ele não se lembra como chegou ali, e nem faz idéia de quem poderia ter feito isso a ele. Seu desespero inicial logo é apaziguado pela presença de outro homem acorrentado, o médico Lawrence (Cary Elwes), que encontra-se na mesma situação e acordara alguns minutos antes. Entre eles jaz um homem morto, baleado na cabeça e segurando um revólver numa mão e um gravador na outra. Eis o estopim de um intricado quebra-cabeças que o autor da façanha, sadicamente, obriga seus dois cativos a jogarem, valendo nada mais nada menos que suas próprias vidas.

Qualquer desavisado pode dizer qualquer coisa de Jogos Mortais: que o filme não tem um roteiro convincente, que as cenas de violência são forçadas demais, que a atuação da dupla central é sofrível, que o filme tenta manipular o espectador, etc. Mas em nenhum momento pode-se acusar o filme de não ser original. Apesar de suas pequenas falhas, ele é mais do que competente em fazer a platéia entrar na pele de seus protagonistas, espertamente adicionando personagens periféricos que desviam o alvo das suposições da platéia o tempo todo, como o obcecado policial feito por Danny Glover. Todos, inclusive os próprios jogadores deste reality show às avessas, em algum momento da projeção soam como suspeitos de serem o assassino que quer ensinar os 'desviados' a serem pessoas melhores. Sim, o clichê está lá, mas ele é muito bem aproveitado, como também foi o caso do recente Por um Fio, do veterano Joel Schumacher.

Seguindo o caminho de outros filmes pequenos que fizeram um sucesso bastante além das expectativas, Jogos Mortais fez um percurso até mais tortuoso. O filme foi originalmente rodado para lançamento direto em vídeo. Porém, devido a reações extremamente efusivas das platéias de teste, ganhou sua estréia na tela grande. Carregado de violência e com um assassino bastante, digamos, metódico, o diretor se viu obrigado a refazer alguns cortes para lançar o filme no grande circuito, devido a irritantes problemas com a censura. A cena de uma das vítimas revirando as vísceras de outro ser humano foi uma das passagens suavizadas. Porém, como pode-se perceber, o grau de gore remanescente ainda é considerável.

O desempenho do elenco não é sofrível, mas também não é espantoso. Cary Elwes nunca teve muito carisma mesmo, nem quando foi príncipe encantado nas mãos de Rob Reiner, e o estreante Leigh Whannell tem como atenuante o fato de ter sido uma das mentes que conceberam o longa. Monica Potter também aparece como a esposa de Elwes, numa espécie de dčja vu de personagens cruciais dos filmes do detetive Alex Cross (Beijos que Matam e Na Teia da Aranha). Danny Glover, visivelmente deslocado e restringido em sua atuação física, soa tão desengonçado quanto seu personagem Murtaugh da série Máquina Mortífera. Destoando um pouco também há várias tomadas maculadas por um trabalho de maquiagem exagerado demais, e algumas cenas moderninhas em velocidade acelerada, que soam algo impróprias quando em contraste com o clima pesado da maior parte da produção.

São falhas que, considerando-se o resultado final do filme, podem ser ignoradas em detrimento de um programa como há muito tempo não se via em matéria de obras de terror e suspense.