Cinema

Em Busca da Terra do Nunca

Em Busca da Terra do Nunca
Título original: Finding Neverland
Ano: 2004
País: Estados Unidos, Inglaterra
Duração: 106 min.
Gênero: Drama
Diretor: Marc Forster (A Passagem, Mais Estranho que a Ficção, O Caçador de Pipas)
Trilha Sonora: Jan A.P. Kaczmarek (Confusões em Família, O Coração Corajoso de Irena Sendler, Sempre ao Seu Lado)
Elenco: Johnny Depp, Kate Winslet, Julie Christie, Radha Mitchell, Dustin Hoffman, Freddie Highmore, Joe Prospero, Nick Roud, Luke Spill, Ian Hart, Kelly Macdonald, Mackenzie Crook, Eileen Essel, Jimmy Gardner, Oliver Fox, Angus Barnett, Toby Jones, Kate Maberly
Distribuidora do DVD: Imagem Filmes
Avaliação: 7/10

Revisto em DVD em 10-FEV-2008, Domingo

Realidade + sensibilidade + liberdade poética. Combinação perfeita para uma indicação ao Oscar, digamos assim, o que não chega a ser nenhum demérito. O pequeno problema com este filme é a apatia que permeia praticamente todos os papéis do elenco adulto, característica que cai bem somente à esposa distante feita por Radha Mitchell, e confere aos demais um ranço que não deixa a história atingir o intento dramático pretendido. Ainda bem que as crianças fazem bem a sua parte, em especial Freddie Highmore, que daí passou a alçar vôos mais ambiciosos em sua ainda curta mas prolífica carreira no cinema. Bonitinho e quase ordinário, Em Busca da Terra do Nunca enternece como uma Sessão da Tarde ensolarada e sem pretensões.

Os extras do DVD consistem de um making-of de pouco mais de 20 minutos, uma galeria de fotos, trailer e os trailers de Maria Cheia de Graça, O Tempero da Vida e do documentário Riding Giants - No Limite da Emoção. Além deles, os trailers de Em Boa Companhia, Cinco Criaturas e a Coisa e Tentação também são exibidos quando o DVD é inicializado.

Texto postado por Kollision em 17/Fevereiro/2005

O mundo da fantasia deve muito a James Matthew Barrie, dramaturgo que na virada do século XIX para o século XX concebeu a história de Peter Pan, o garoto que não envelhecia e que podia voar. Presença atemporal na imaginação de crianças e adultos, a história de Peter Pan encanta gerações há décadas. A vida de seu criador, no entanto, nunca foi muito conhecida do grande público, mas encontra agora uma transposição cinematográfica que mescla com um pouco de liberdade o lado fantasioso de sua obra a aspectos reais de sua vida.

Barrie é interpretado no filme por Johnny Depp, que inicia a história encarnando o escritor em um período morno de sua carreira. Ele é mental e criativamente tolhido pelo fato de suas peças não fazerem mais sucesso junto à classe aristocrata inglesa, além de estar imerso num casamento infeliz com a bela mas fria Mary (Radha Mitchell). Tudo muda quando ele conhece a viúva Sylvia (Kate Winslet) e seus quatro filhos num passeio pelo parque. Instantaneamente fascinado pela vivacidade e capacidade imaginativa dos garotos, Barrie passa cada vez mais tempo na companhia deles e de sua mãe, aproveitando a oportunidade para, a parti daí, compôr os alicerces do que em breve se tornaria sua peça mais famosa, as aventuras de Peter Pan na Terra do Nunca.

Visualizar uma dramatização feita a partir de uma pessoa que realmente existiu pode ser complicado, ainda mais quando a história fictícia renega, distorce deliberadamente uma característica importante da vida de sua fonte ou concentra-se em apenas uma faceta de sua personalidade. Em Busca da Terra do Nunca deixa bem claro logo em seu início que o foco é a relação de Barrie com as crianças e sua mãe, e ponto final. Todo o resto é periférico. E, pelo menos neste quesito, a escolha dos realizadores do filme é levada a cabo com bastante competência.

Tudo o que poderia ser considerado polêmico, ou mesmo criar qualquer conflito desnecessário, foi retirado do roteiro em detrimento da fantasia. Há, inclusive, várias cenas que retratam a imaginação de Barrie em plena atividade, apontando para inúmeros elementos e referências que viriam a fazer parte da história de Peter Pan. Os maiores empecilhos ao exercício criativo do dramaturgo no filme, as figuras da esposa e de sua sogra adotiva (Julie Christie), parecem não lhe causar muito mais que um desconforto casual relacionado à sensação de perda e autoridade, o que é compreensível quando se analisa a personalidade do verdadeiro J. M. Barrie. Seus biógrafos atestam que o escritor era impotente, ou mesmo assexuado, alguns até mesmo apontam-no como outro filho que Sylvia agregou à sua família, ao invés de um suposto amante. Nada disso é sequer esboçado no filme, que limita-se a manter Barrie numa redoma intransponível de inspiração e seriedade. Outra característica singular apontada por seus biógrafos é que ele também quase não sorria na vida real, assim como Johnny Depp em sua correta atuação. Alguns dos melhores momentos estão reservados à dupla formada por Depp e Freddie Highmore, excelente como Peter, o mais cético dos quatro garotos e cujo nome foi a provável inspiração para o personagem fantasioso concebido por Barrie. Dustin Hoffman, como o compreensivo produtor das peças do dramaturgo, tira uma onda do nome Capitão Gancho e de si mesmo, já que ele interpretara o personagem em Hook (Steven Spielberg, 1991).

Em Busca da Terra do Nunca é um filme belo, poético, desguarnecido de reservas realistas e valorizado por uma linguagem mais lírica que o habitual, em se tratando de um trabalho biográfico. É cinema para emocionar, enternecer e enaltecer, que carrega a mensagem de que na vida, às vezes, é preciso também fantasiar e acreditar.