Cinema

Elektra

Elektra
Título original: Elektra
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 96 min.
Gênero: Ação/Aventura
Diretor: Rob Bowman (Arquivo X - O Filme, Reino de Fogo)
Trilha Sonora: Christophe Beck (Sonhos no Gelo, Tudo por Dinheiro, A Pantera Cor-de-rosa [2006])
Elenco: Jennifer Garner, Terence Stamp, Goran Visnjic, Kirsten Prout, Will Yun Lee, Cary-Hiroyuki Tagawa, Natassia Malthe, Bob Sapp, Chris Ackerman, Edson T. Ribeiro, Colin Cunningham, Hiro Kanagawa, Mark Houghton, Laura Ward, Kurt Max Runte
Distribuidora do Blu-ray: Fox
Avaliação: 3/10

Revisto em Blu-Ray em 18-JUN-2011, Sábado

Elektra, o filme, tinha potencial para ser uma boa adaptação. A opção por seguir um caminho menos espalhafatoso é interessante, mas é uma pena que as decisões tomadas dentro da história sejam tão carentes de personalidade. Outra coisa que prejudica o filme sobremaneira é a necessidade de mantê-lo acessível a plateias jovens, o que expurga completamente o lado subversivo e violento da personagem, tal qual delineado originalmente pelo traço e pela prosa de Frank Miller. A favor do longa, é preciso dizer que Jennifer Garner está perfeitamente caracterizada, e foi uma escolha esteticamente ideal para o papel. Outro aspecto que não faz feio é a trilha sonora, que transforma as cenas de ação em algo minimamente palatável. Enquanto fãs das HQs se contorcem de desgosto com as liberdades aberrantes da história, leigos podem até aproveitar alguma coisa se estiverem em espírito de Sessão da Tarde, mas a verdade é que Elektra é uma colossal decepção.

O blu-ray tem como extras um extenso material de making-of com duração de praticamente três horas e meia que cobre todo o processo de produção e pós-produção, além da origem de Elektra nas HQs e dos ecos da personagem na mitologia grega. Há ainda quase 20 minutos de cenas excluídas/estendidas com comentários opcionais do diretor (incluindo uma participação cortada de Ben Affleck como o Demolidor), quatro cenas com apresentação multi-ângulo e dois trailers.

Texto postado por Kollision em 7/Fevereiro/2005

Não é novidade que os filmes baseados em HQs (histórias em quadrinhos) vêm atravessando uma fase excelente dentro da sétima arte. Não só sucessos de bilheteria como também de crítica, converteram-se rapidamente em apostas quase sempre certeiras para os estúdios. Apostas estas que começam já a mostrar sinais de cansaço. Aparentemente, estamos agora atravessando a segunda fase da hegemonia dos filmes baseados nessa mídia, isto é, as produções que se originam a partir de filmes baseados em HQs. Spin-offs, como se diria em inglês, mas em português completamente intraduzível. A origem em questão é Demolidor - O Homem Sem Medo, longa morno e equivocado de 2003, e o fruto é Elektra, o primeiro spin-off desta nova geração.

Jennifer Garner (Elektra Natchios) retorna ao papel feito em Demolidor, desta vez sem estar acompanhada do insuportável Ben Affleck, e também um pouco mais à vontade em seu traje de super-heroína. Misteriosamente ressuscitada por um guru cego chamado Stick (Terence Stamp), ela passa a ser sua melhor aluna no aprendizado contínuo das artes marciais. Após ser expulsa por seu mestre, Elektra inicia uma carreira de mercenária, convertendo-se numa assassina fria e calculista, e é neste ponto que o filme se inicia. Após concluir mais um assassinato, ela recebe uma missão estranha: ficar numa casa de campo enquanto aguarda instruções sobre quem serão suas próximas vítimas. Enquanto isso, a moça acaba se afeiçoando aos seus vizinhos, vindo a saber mais tarde que eles são a sua tão esperada missão. Disposta a protegê-los, ela terá que encarar os sinistros ninjas do Tentáculo, uma seita demoníaca com estranhos interesses pelos protegidos de Elektra e por ela mesma.

Dentro das histórias do Demolidor, personagem bastante conhecido e amado entre a base de fãs de HQs, Elektra nunca passou de uma boa coadjuvante. Misteriosa, linda e assassina. Mas, ainda assim, uma coadjuvante sem força para sustentar um título próprio, como mostram as inúmeras e malfadadas séries produzidas pela Marvel Comics ao longo dos anos. Nestas séries, a personagem foi morta e ressuscitada uma pá de vezes, trocou de personalidade umas tantas e trilhou um caminho vergonhosamente redundante, que nunca a aproveitou tão bem quanto Frank Miller em seu período clássico à frente das histórias do Homem Sem Medo. Com o cinema seria difícil ser diferente, e é isso que Elektra, o filme, acabou se tornando. Um filme à parte, desprovido da força dos principais nomes da Marvel Comics, entregue à própria sorte por não ter muito o que apresentar a partir de um roteiro que, muito antes de ser elaborado, corria sério risco de ser uma porcaria.

Rob Bowman é um diretor bem mais qualificado que Mark Steven Johnson, a mente por trás de Demolidor - O Homem Sem Medo, e tenta do jeito que sabe garantir um mínimo de diversão à platéia. Uma tarefa complicada, já que a história pífia limita-se a colocar os ninjas atrás da heroína e de seus protegidos, não explica direito porque eles são perseguidos e incomodamente enfia Stick (sem trocadilhos infames, por favor) na lambança perto do final do filme. O que é uma pena, pois o longa começa muito bem. Ele enfia os pés pelas mãos justamente quanto os orientais do Tentáculo decidem mostrar as caras. Nem a escalação de Mary Tyfoid, fascinante personagem da galeria de vilões do Demolidor, em meio aos ninjas do Tentáculo, é capaz de melhorar a palhaçada. A heroína Elektra e seu aspecto sombrio e nada palatável é logo substituído pela empatia fácil, ainda que o clima do filme se mantenha melancólico e algo opressivo durante a maior parte do tempo.

Os aspectos psicológicos e físicos da heroína são assimilados com maestria por Jennifer Garner. É uma lástima que a moça, decididamente uma boa atriz e motivo principal para qualquer platéia se arriscar assistindo a Elektra, não tenha tido uma história à altura.