A novela em que se tornou o lançamento deste remake quase destruiu as expectativas dos fãs da série original da Pantera Cor-de-rosa, um marco no cinema de comédia, imortalizado por Peter Sellers e pelo diretor Blake Edwards. Chegaram também a concorrer à vaga do incompetente inspetor Clouseau nomes tão díspares quanto Kevin Spacey e Chris Tucker, mas talvez a melhor escolha tenha sido de fato Steve Martin, um dos típicos protagonistas do palerma de meia-idade (ao lado de comediantes como Chevy Chase ou Rowan Atkinson). O que o diretor Shawn Levy fez foi utilizar várias das idéias espalhadas ao longo da série original, condensando-as num espetáculo pueril que tenta de todas as formas bombardear a platéia com motivos para rir.
Assim que o técnico do time de futebol francês é assassinado em pleno campo e seu famoso diamante "Pantera Cor-de-rosa" desaparece no meio do tumulto, o inspetor Dreyfus (Kevin Kline), a autoridade máxima da polícia de Paris, vê a oportunidade perfeita para conseguir notoriedade e amealhar um prêmio de honra ao mérito há muito cobiçado. Seu plano é, no momento adequado, tornar-se o herói da nação puxando o tapete do recém-promovido inspetor Jacques Clouseau (Steve Martin), um palerma indicado por ele para cuidar do caso. Clouseau assume uma parceria com o policial Ponton (Jean Reno), na realidade um subalterno de Dreyfus, e parte para uma investigação abominavelmente estúpida. Todas as suspeitas apontam, inicialmente, para a voluptuosa namorada do falecido, a cantora Xania (Beyoncé Knowles).
Steve Martin entra na pele de um detetive que tem, sim, muito do Clouseau original. O que azeda um pouco esta refilmagem é a vontade exacerbada que o roteiro tem de inserir o maior número de gags possível por minuto, o que resulta em passagens forçadas, algumas até mesmo infantilizadas em demasia. Reciclando a experiência de anos cultivada pelos melhores filmes realizados pela parceria Edwards/Sellers, a história consegue entregar momentos engraçados, mas obviamente não é capaz de manter a classe das aventuras originais. Ainda bem que decidiram manter o tema inconfundível composto por Henry Mancini e, para não fugir do padrão, a famosa animação dos créditos de abertura.
Jean Reno aparece como o novo Cato, o parceiro inteligente e sensato do incompetente inspetor Clouseau. Um dos melhores momentos deste filme é aquele em que os dois precisam se desdobrar para convencer um segurança de que são dançarinos de palco de Beyoncé Knowles. A morena, por sua vez, só traz de bom mesmo a sua saudável presença cênica, já que visivelmente não nasceu para atuar. Assim, a figura feminina mais interessante do filme acaba sendo a assistente do escritório da polícia (Emily Mortimer), que parece ter o dom de ser surpreendida em situações libidinosas com Clouseau, num aspecto do roteiro que poderia ter sido mais bem explorado do meio para o final do filme. Quem faz uma aparição surpresa é Clive Owen, naquilo que seria o mais próximo de uma performance sua como o agente James Bond (ele que chegou a ser seriamente cogitado para o papel).
Este novo A Pantera Cor-de-rosa é passável como passatempo de descartável eficiência, mas não deixa de trazer saudades dos tempos em que Peter Sellers ainda agraciava o mundo com sua inestimável presença diante das câmeras.
Texto postado por Kollision em 5/Março/2006