Em tempos de terrorismo em escala global e ameaças de bomba e explosão pipocando direto em aeroportos e estações de metrô, um filme que retrata a rotina de segurança máxima que cerca o presidente dos Estados Unidos é quase um convite de luxo para o aprendizado dos conspiradores que desejam de alguma forma atingir a nação mais poderosa do globo. Considerando-se, no entanto, que o filme em questão é um produto bem-acabado direcionado exclusivamente ao entretenimento das massas, e que só mesmo quem está dentro do circuito retratado no longa sabe o quanto do que é nele mostrado corresponde à realidade, o jeito é relaxar e curtir mais este jogo de gato e rato com elenco tarimbado no gênero.
Pete Garrison (Michael Douglas) é um agente veterano do serviço secreto americano, e um dos homens de confiança do próprio presidente dos Estados Unidos (David Rasche). De currículo irretocável, sua única grande mancada foi se apaixonar por uma das pessoas que deve proteger com a vida. E ela é ninguém menos que a própria primeira dama (Kim Basinger). Quando um de seus colegas é assassinado e seu mais confiável informante revela que uma trama para assassinar o presidente está em andamento, Garrison aciona todos os agentes numa pesada investigação, liderada por seu ex-amigo e atual desafeto David Breckinridge (Kiefer Sutherland). Os eventos, porém, se desenrolam de tal forma que logo o principal suspeito por estar liderando o complô de assassinato é o próprio Garrison, que precisa usar de toda sua experiência para sobreviver à caçada implacável de Breckinridge, proteger o presidente e provar sua inocência.
Tudo é muito bem feito e dentro dos padrões do bom cinemão hollywoodiano de suspense policial, o que ganha uma força ainda maior com a presença do medalhão Douglas e de um quase sósia do agente Jack Bauer feito pelo próprio Kiefer Sutherland na série 24 Horas. A ação é dinâmica, e há uma tentativa de se criar um estilo modernoso em torno da idéia do combate ao terrorismo dentro da alta cúpula americana, que desaparece tão logo a teia de traição é jogada sobre o agente Garrison. O roteiro é enxuto, mas força um pouco no início do conflito ao dar uma importância demasiada ao informante com cara de Tom Green depois de uma boa surra. Felizmente, o restante da trama envolve e consegue desenvolver uma boa relação de antagonismo/respeito entre Garrison e Breckinridge, expondo as fraquezas de um em relação ao outro nos momentos apropriados e preparando o terreno para a revelação final.
Nem mesmo a ainda bela Kim Basinger e a revelação plástica tardia Eva Longoria escapam das suspeitas em torno de quem possa ter armado a sacanagem sobre o personagem de Michael Douglas. Longoria só foi inserida como uma coadjuvante de luxo, quiçá para dar uma sensação mínima de simpatia para o inicialmente impassível Kiefer Sutherland. Uma coisa é certa: mais uma vez, e não é a primeira vez que escrevo isso por aqui, a história do filme cai na categoria do "cara fodão que se estrepa todo por causa de uma mulher bonita". Não tem jeito, não tem controle que segure o poder da influência feminina sobre um homem. Coincidentemente, um dos candidatos a recordista em protagonizar filmes do tipo é ninguém menos que o próprio Michael Douglas.
Sentinela diverte, e serve para confirmar o tino do diretor televisivo Clark Johnson (que faz aqui o papel do primeiro agente assassinado) para o comando de filmes policiais, mostrado também em seu único trabalho anterior de vulto, o longa S.W.A.T..
Texto postado por Kollision em 18/Agosto/2006