As décadas de 30 e 40 são notórias pelas produções clássicas de horror que fizeram parte da fama inicial dos estúdios Universal. Capitaneadas pelas lucrativas séries iniciadas por Drácula (1931), Frankenstein (1931) e O Lobisomem (1941), quase nenhuma destas produções primava pela finesse, qualidade dos roteiros ou resultado narrativo. Porém, ajudadas pela crescente fascinação do mundo pela sétima arte e dotadas de um charme que ainda se faz notar nos dias atuais, ascenderam à condição de clássicos do cinema. Infelizmente, a própria casa dos lendários monstros parece simplesmente não se importar com os clássicos, ou fingir que não se importa. A maior prova disso é o filme-amálgama Van Helsing - O Caçador de Monstros, uma cria maldita de Stephen Sommers, o mesmo homem que teve a capacidade de recentemente ressuscitar outro monstro sagrado da Universal no insosso A Múmia, de 1999.
Para quem não sabe, Abraham Van Helsing é um dos principais personagens do romance Drácula, escrito por Bram Stoker no final do século XIX. Adversário notório do conhecido vampiro, ele é um dos principais personagens em qualquer peça ou filme encenados a partir da obra de Stoker. Na história concebida por Sommers, Gabriel Van Helsing (Hugh Jackman - e, sim, Sommers também mudou o primeiro nome e a origem do personagem) é um agente guerreiro a serviço da igreja que roda o mundo incógnito exterminando coisas malditas, sendo tido por uns como um santo e por outros como um assassino. Após despachar o Sr. Hyde em Paris (sim, o Hyde de O Médico e o Monstro), Van Helsing recebe a missão de proteger uma família de ciganos ameaçada pelo mal ancestral de Drácula (Richard Roxburgh), os quais por algum motivo também precisam eliminar a linhagem do malfadado vampiro. Drácula, por sua vez, possui um plano mirabolante para dar vida a seus filhos desmortos, usando para isso o monstro de Frankenstein (Shuler Hensley) e contando com a proteção de seus servos Lobisomens. Aliado à bela Anna Valerious (Kate Beckinsale) e auxiliado pelo atrapalhado frade Carl (David Wenham), Van Helsing tem que enfrentar todo tipo de obstáculo demoníaco para vencer a ameaça de Drácula.
Alguém deveria pôr um pouco de juízo na cabeça dos executivos dos estúdios Universal. Não dá para imaginar onde a equipe executiva responsável pela produção estava com a cabeça ao dar poderes a alguém tão incapaz quanto Stephen Sommers para trabalhar com alguns dos maiores ícones do cinema de horror. Chega a ser inacreditável que, após todos esses anos, tudo o que o cinema tem a acrescentar aos clássicos seja um punhado de efeitos especiais e só! Atingir determinada faixa etária da platéia também não significa chamar o restante dos espectadores de imbecis acéfalos. Mas é exatamente isso o que a história e a direção de Sommers foram capazes de fazer, arrastando para a lama os nomes de Hugh Jackman e Kate Beckinsale no processo.
Além do óbvio, pode-se constatar várias coisas no filme, cujas partes chegam a funcionar, porém individualmente. Os efeitos especiais dos monstros, por exemplo, estão magníficos. Os visuais obtidos para os lobisomens e as mulheres vampiras realmente impressionam. O único porém é o Sr. Hyde, cujo resultado não ficou muito bom. O design de produção é eficiente, e recria desde um vilarejo romeno a um castelo gigantesco com o requinte sombrio adequado ao filme. Jackman e Beckinsale, coitados, se esforçam em vão para dar um pingo de credibilidade a seus personagens, enquanto a história segue seu curso canhestro e totalmente incapaz de realmente envolver a platéia. As seqüências de ação são no máximo medianas, e beiram o absurdo em quase a sua totalidade. Sem contar que, em pleno século XIX, o herói empunha algumas armas capazes de fazer inveja ao Blade de Wesley Snipes. Tudo graças ao poder oculto da igreja, não se esqueçam disso...
Van Helsing, como todos os filmes já feitos pelo sr. Sommers, é em suma um belo e vitaminado amontoado de celulóide que, na verdade, revela-se vazio, perdido, inútil e, em última instância, um desperdício quase completo de material e elenco.
Na seção de extras do DVD há 5 minutos de erros de gravação, um featurette com um passeio dentro do castelo de Drácula, um especial de 10 min. sobre os efeitos especiais dos monstros, 4 min. de cenas de bastidores e outro featurette/making-of de 10 min. centralizado no personagem de Van Helsing. Há também dois trailers do filme, além de trailers de Shrek 2, A Supremacia Bourne, A Batalha de Riddick e ainda do polpudo lançamento do Monster Collection definitivo, com todos os filmes clássicos de Frankenstein, Drácula e do Lobisomem.
Texto postado por Kollision em 8/Fevereiro/2005