Cinema

Menina de Ouro

Menina de Ouro
Título original: Million Dollar Baby
Ano: 2004
País: Estados Unidos
Duração: 137 min.
Gênero: Drama
Diretor: Clint Eastwood (A Conquista da Honra, Cartas de Iwo Jima, A Troca)
Trilha Sonora: Clint Eastwood
Elenco: Clint Eastwood, Hilary Swank, Morgan Freeman, Jay Baruchel, Mike Colter, Lucia Rijker, Brian F. O'Byrne, Anthony Mackie, Margo Martindale, Riki Lindhome, Michael Pena, Benito Martinez, Bruce MacVittie, David Powledge, Joe D'Angerio, Marcus Chait, Tom McCleister
Avaliação: 10

Como poucas pessoas hoje em atividade no mundo do cinema, Clint Eastwood é um profissional completo. Já foi aprendiz, hoje é mestre. De ator de faroestes passou a astro de filmes policiais, e daí para um excelente orquestrador de histórias também atrás das câmeras. Até mesmo compôr as trilhas de seus próprios filmes, como somente gênios como Charles Chaplin eram capazes de ser, Clint faz. É inegável a carga de experiência que o ex-Dirty Harry traz nas costas. A progressão de uma carreira tão abrangente e sólida quanto a sua tem resultado em ótimos filmes, e a mais recente amostra de seu estilo pode ser conferida em Menina de Ouro, drama que se apóia com força surpreendente num amálgama de Rocky com, bem... É preciso ver para crer.

Frank Dunn (Clint Eastwood) é um treinador de boxe que o tempo levou a se contentar com uma academia no subúrbio de Los Angeles. Conhecido por fabricar campeões, é só depois de levar uma rasteira de um de seus protegidos que ele cede à insistência de Maggie Fitzgerald (Hilary Swank) para que ele a treine. Maggie, uma mulher já na casa dos trinta anos, acredita que o único meio de deixar a vida pobre de garçonete é mostrando seus dotes num ringue de boxe. Seu talento é logo percebido pelo ajudante de Dunn, o observador Eddie Dupris (Morgan Freeman), que faz a ponte entre a esforçada aprendiz e o carrancudo e grosseiro mestre. Quando a jornada dos dois no mundo do boxe se inicia uma troca interessante ocorre, arranhando temas como o relacionamento entre pai e filha, laços familiares mais prejudiciais que a orfandade e, por último, as conseqüências de um esporte tão amado quanto polemizado.

Ao partir de uma premissa banal, Eastwood tece uma história simples, cuja força advém do realismo com que a maioria das situações é tratada. A estrutura dramática tem seus momentos de peso, que no entanto são entremeados por alguns alívios cômicos (como o rapaz magrelo que é tão incapaz quanto esperançoso de algum dia vencer uma luta nos ringues), e lances heróicos e redentores (como a lição que Morgan Freeman aplica num lutador arrogante). A própria natureza superficialmente rude do personagem de Frank Dunn acaba por logo fazê-lo simpático aos olhos da platéia, que já sabe de antemão que ele não resistirá à tentação de treinar a moça, principalmente após descobrir que ela tem um talento nato para ser campeã.

O trio principal de atores, onde praticamente toda a história se concentra, dá uma aula de interpretação em cena. Morgan Freeman traz o toque de classe de sempre, e Hilary Swank demonstra que o Oscar recebido por Meninos Não Choram (Kimberly Peirce, 1999) não foi obra do acaso. A moça passou por um pesado programa de treinamento durante a preparação para o papel. Não é todo dia que se ganha quase 10 quilos de músculo para se fazer um filme, mas o mais importante de tudo é que seu esforço valeu a pena, pois Swank demonstra que, além de ser boa atriz, manda muito bem quando o assunto é boxe. Uma progressão interessante, considerando-se que ela começara a carreira substituindo um desgastado Ralph Macchio na série Karate Kid. De um realismo que chama a atenção, as cenas de luta dentro do ringue de boxe e a veia de campeã da suburbana Maggie compõem algumas das melhores tomadas do filme, somente suplantadas pelo seu trecho final, um soco no estômago que dificilmente sairá da memória da platéia.

A parceria de longa data de Eastwood com o compositor Lennie Niehaus, responsável pelo acompanhamento de outros de seus filmes (Cowboys do Espaço, As Pontes de Madison), rendeu-lhe experiência suficiente para compôr sozinho a melancólica trilha de Menina de Ouro. Soberbamente realizado em pouco mais de um mês, o filme é a prova definitiva de que o nome de Clint Eastwood deve figurar em qualquer rol de melhores diretores de todos os tempos.

Texto postado por Kollision em 22/Fevereiro/2005