Nem me lembro direito quantos anos tinha quando a Tela Quente, a janela de filmes mais famosa da TV Globo, foi ao ar pela primeira vez. Tudo o que me recordo é que, entre a gurizada, o alvoroço era grande, assim como o desespero de Sílvio Santos ao ridicularizar a concorrente em seu programa dominical, referindo-se ao filme de estréia da segunda-feira como 'O Retorno do Jegue'. Óbvio que a obra em questão era Star Wars Episódio VI - O Retorno dos Jedi (Richard Marquand, 1983), filmaço que finalmente aportava na TV e solidificava minha apreciação pela saga fantástica concebida por George Lucas. Não por acaso, o Episódio VI permaneceu como meu favorito durante muitos anos, até a recente estréia nos cinemas de Star Wars Episódio III - A Vingança dos Sith (George Lucas, 2005).
Este mês tive o prazer de assistir a uma maratona Star Wars em ordem cronológica de eventos, ou seja, comecei vendo o pequeno Darth Vader em Episódio I - A Ameaça Fantasma (Lucas, 1999), partindo daí para o Episódio II - Ataque dos Clones (Lucas, 2002). Infelizmente, e apesar de serem bons filmes, a overdose de efeitos especiais nestas duas primeiras partes não foi suficiente para suplantar as várias deficiências dos roteiros e diálogos. Eis então que, na primeira estréia cinematográfica bombástica de 2005, A Vingança dos Sith destrona O Retorno dos Jedi como o melhor filme da hexalogia, espetacular em praticamente todos os sentidos. Daí há uma diferença técnica avassaladora para o Guerra nas Estrelas original (dirigido por George Lucas 1977 e rebatizado como Episódio IV - Uma Nova Esperança). A mágica (e as falhas) do filme produzido há quase três décadas permanece intacta, retomando a lenda dos jedi com bastante estilo. O intermediário Episódio V - O Império Contra-ataca (Irvin Kershner, 1980) elevou o nível de diversão com honra, abrindo caminho para o já mencionado e celebrado epílogo mostrado no Episódio VI.
Além dos quatro filmes da série dirigidos por George Lucas, assisti também ao seu primeiro esforço em longa metragem, o desafio cerebral chamado THX 1138 (1971). Isso significa que em apenas um mês assisti a 83% de sua filmografia como diretor, já que o único que falta é Loucuras de Verão, de 1973! Lento, às vezes arrastado e belamente fotografado, acredito que THX deve ser visto no mínimo umas três vezes para uma absorção satisfatória da história, mais ou menos o que acontece com o clássico 2001: Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick, 1968).
De um cineasta surgido também na mesma época, mas que não pertencia à panelinha de Lucas, Coppola e cia., fui ao cinema assistir a Cruzada (Ridley Scott, 2005). Uma grata surpresa, que ajudou até a derrubar um pouco minha birra com o queridinho do mainstream Orlando Bloom. O tema da guerra também aparece em outra obra, o ganhador do Oscar O Paciente Inglês (Anthony Minghella, 1996), uma bela história de amor que comete o delito de ser muito longa e um pouco arrastada. Decepção ainda maior foi o concorrente ao Oscar do mesmo ano Fargo (Joel Coen, 1996). Cedi a todos os elogios de vários colegas e assisti ao meu segundo filme dos irmãos Coen. Não vi nada de especial na história. Muito pelo contrário, a sensação ao final do filme foi mesmo de ter perdido quase duas horas vendo algo feito com competência, mas completamente sem sentido.
O excelente Corpos Ardentes (Lawrence Kasdan, 1981) tem como bônus a estréia no cinema de Kathleen Turner, uma das mais belas atrizes dos anos 80, numa trama noir que ainda dá de dez a zero em muito suspense porcaria que aparece por aí. A adaptação do romance de Agatha Christie Assassinato no Expresso Oriente (Sidney Lumet, 1974), por sua vez, carece de ousadia e repousa sobre os ombros magros mas competentes de Albert Finney, ótimo no papel de Hercule Poirot.
Com exceção de Tudo sobre Minha Mãe (1999), um ótima obra que representa a essência do cinema de Pedro Almodóvar, todos os demais filmes que assisti em Maio foram fracos. O único a ficar um pouco acima da média é A Isca (Antonie Fuqua, 2000), suspense policial com bons momentos a cargo do subestimado David Morse e do futuro ganhador do Oscar Jamie Foxx.
A única comédia que vi poderia até encher algum buraco de Sessão da Tarde. Inimigos para Sempre (Steve Miner, 1996) me atraiu pelo nome do diretor, mas nem Rick Moranis ou Tom Arnold conseguem tirar o filme da média. Como representante único do cinema de horror este mês, a refilmagem A Casa da Colina (William Malone, 1999) com certeza não consegue ser melhor que sua versão original, muito embora eu não a tenha assistido. Clichês muito mal-aproveitados e a completa falta de suspense estragam completamente a produção moderninha e recheada de efeitos especiais.
Num total de 16 filmes vistos, todo o destaque para a trilha sonora vai, é claro, para os seis filmes da série Star Wars, já que nenhum outro filme da lista tem uma trilha que chegue perto de ser tão marcante.
Texto postado por Kollision em 4/Junho/2005