Dioguito era menino levado, que aos 5 anos de idade já sabia contar até 100 e maltratar o gatinho da vizinha com requintes de crueldade que fariam Hannibal Lecter se morder de inveja. Gostava de ler revistinhas do Mickey, mas detestava a Turma da Mônica, porque sentia que Maurício de Souza havia inventado o Cebolinha apenas para tirar sarro da cara dele, que nessa idade ainda falava 'elado'. Tudo começara quando o pequeno Dioguito bebê descobriu o prazer de amassar e comer o próprio cocô enquanto se divertia na bacia cheia d'água, então com um ano de idade. Isso com certeza afetara a capacidade de dicção do garoto, problema que com o passar dos anos acabou sendo transferido para o cérebro de Dioguito.
Quando Dioguito fez 8 anos, ganhou uma bola de futebol de presente. O moleque, além de danado, era egoísta como um caracol com sua concha, e acabou levando uma surra dum moleque menor porque não deixara o guri ser gandula do timinho dente-de-leite da escola. No colégio, esta foi uma época em que Dioguito começara a desenvolver o dom da redação, devidamente incentivado pela professora barbuda que tinha mais cabelos nas pernas que aquele personagem de revista em quadrinhos todo peludo e com garras de adamantium. Essa professora gostava de tomar chá com a mãe do moleque, sempre relatando os porquês dela ficar preocupada com o estranho comportamento de Dioguito na escola, apesar do garoto ser um aluno até razoável em matemática e educação artística (principalmente nas aulas de tricô e crochê).
Depois de um certo tempo, Dioguito passou a não fazer nada em grupo com os colegas de escola. Jogar bola, peteca, brincar de "stop", pega-pega, esconde-esconde... Nem mesmo a menininha ruiva, a mais bonitinha da classe, conseguia fazer Dioguito sair para brincar, o que começou nessa época a provocar suspeitas dos mais velhos e risinhos sardônicos do resto da molecada. Tudo o que Dioguito fazia era ficar enfiando o dedo na merenda do recreio (e depois no nariz, dizem alguns colegas, mas isso era escondido) e se entocar no almoxarifado da escola para brincar com o zelador.
O Dioguito adolescente não foi muito diferente. Rapaz raquítico e complexado, reclamava até mesmo das rodelas de banana frita que a mãe fazia com tanto carinho para o almoço, além de xingar todo mundo que entrava em seu quarto sem avisar. Tinha crises de choro quando passava muito tempo fora de casa ou se via cercado de muita gente. Falar em público era a morte para o pobre Dioguito. Em desespero, às vezes ele dizia que 'o povão' insultava sua inteligência alexandrina com colóquios de 'conteúdo estupidamente inútil'. Como resultado, isolou-se de todos em sua faixa etária e cultivou o hábito de passar tardes e tardes a se masturbar vendo as revistas pornográficas do tio Aroldo. A gota d'água foi quando o pai de Dioguito foi obrigado a comprar de presente para o rapazote um casal de bonecos infláveis importados. Dioguito chantageara o velho ameaçando relatar à mãe todas as escapulidas do pai com o açougueiro barrigudo da esquina.
A profissão de jornalista, ao invés de dar um jeito do rapaz problemático, só fez a situação piorar. Dioguito cheirou tanta tinta de impressão que alguma coisa se soltou em sua mente já atribulada pelas humilhações sofridas na época da faculdade. Passou a sofrer de tiques nervosos acompanhados por uma metralhadora verbal de agressividade inumana. Acreditem, encontrar Dioguito pelo caminho pode ser tão ou mais perigoso que encarar uma horda de pitbulls famintos e ensandecidos.
Diz-se que Dioguito perambula pelas páginas de periódicos sob pseudônimos, destilando sua raiva incontida por não mais poder amassar cocô da mesma forma que fazia com 1 ano de idade.
Texto postado por Kollision em 18/Maio/2005