Cinema

Tudo sobre Minha Mãe

Tudo sobre Minha Mãe
Título original: Todo sobre Mi Madre
Ano: 1999
País: Espanha, França
Duração: 102 min.
Gênero: Drama
Diretor: Pedro Almodóvar (Fale com Ela, A Má Educação, Volver)
Trilha Sonora: Alberto Iglesias (Lucía e o Sexo, Guerrilha sem Face)
Elenco: Cecilia Roth, Marisa Paredes, Antonia San Juan, Penélope Cruz, Candela Peña, Rosa Maria Sardà, Eloy Azorín, Toni Cantó, Fernando Fernán Gómez, Fernando Guillén, Carlos Lozano, Manuel Morón, José Luis Torrijo, Juan José Otegui
Distribuidora do DVD: Fox
Avaliação: 8

Mergulhar no universo de personagens de Pedro Almodóvar parece sempre representar uma experiência única, pontuada por visuais de cores acachapantes e histórias às vezes absurdas. O espetáculo pode ser bizarro, tocante, chocante, mas nunca se pode dizer que algo que venha do diretor espanhol é desinteressante. Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, Tudo sobre minha Mãe é em seu âmago um drama. Porém, assim como boa parte de nossa vida cotidiana, há um toque bastante sutil de comédia que flutua sob a camada superficial da história de uma mulher que, para tentar superar uma tragédia pessoal, vai em busca de seu passado e nele encontra muito mais que refúgio e alento.

Manuela (Cecilia Roth) é uma enfermeira que mora sozinha com o filho que acaba de completar 17 anos. No dia do aniversário do rapaz, os dois vão assistir à peça Um Bonde Chamado Desejo, que termina por trazer à tona a vontade que ele tem de saber mais sobre o pai que nunca conhecera. Manuela lhe faz a promessa de contar tudo quando chegam em casa, mas uma tragédia acaba impedindo que isso aconteça. Disposta a reencontrar o pai do rapaz e revelar-lhe toda a verdade, Manuela deixa seu emprego e parte para Barcelona. Logo ela revê a antiga amiga prostituta Agrado (Antonia San Juan), que é na realidade um travesti, faz amizade com uma freira que ajuda os necessitados da região (Penélope Cruz) e se infiltra na vida da atriz Huma Rojo (Marisa Paredes), que desempenhara papel crucial no destino final de seu filho. Manuela acaba se tornando o epicentro de uma crônica que dará um novo sentido à sua vida, enquanto sua influência acaba mudando as de todos à sua volta.

O estilo típico de Almodóvar transparece na tela desde a primeira seqüência. São personagens comuns e mundanos, que a seguir adentram uma atmosfera quente, mais íntima e caótica. Com exceção de Manuela, do filho e dos pais da personagem de Penélope Cruz, todas as pessoas com participação ativa na história são transviados. Atrizes lésbicas, homens que implantam seios e se prostituem, freiras inocentes que aparecem grávidas de uma hora para outra, e por aí vai. O ritmo da história só engrena mesmo quando Manuela se aloja em Barcelona e passa a fazer parte da vida de uma consagrada e experiente atriz espelhada na persona de Bette Davis em A Malvada (Joseph L. Mankiewicz, 1950). Até mesmo o título é uma homenagem ao clássico ganhador do Oscar, onde Tudo sobre Minha Mãe é referência direta ao título original de A Malvada (em inglês, All About Eve, ou 'Tudo sobre Eva').

O caldeirão de referências que Pedro Almodóvar destila em sua 'homage' é prato cheio para os cinéfilos que já tiverem visto A Malvada e, de quebra, Uma Rua Chamada Pecado (Elia Kazan, 1951), outra obra que é homenageada muitas vezes ao longo do filme. É com maestria que o roteiro introduz as similaridades narrativas com as obras citadas na vida de Manuela, carregada de momentos ora tocantes, ora hilários. A certa altura a película adquire um tom mais desbocado e apimentado, centrado em torno das personagens femininas da história, sejam elas do sexo feminino ou não. Mais uma marca registrada do diretor, a franqueza com que os diálogos são proferidos não soa em nenhum momento vulgar, adequando-se perfeitamente ao universo tecido pelo roteiro. A maior prova disso é a poesia obtida com o desfecho da história, coisa que somente alguém como Almodóvar é capaz de levar a cabo sem parecer piegas ou simplesmente constrangedor. Cecilia Roth entrega uma performance tocante, mas o restante do elenco também está ótimo, principalmente Antonia San Juan como o travesti Agrado.

A edição em DVD da Fox traz apenas o filme em formato widescreen, sem nenhum extra sequer.

Texto postado por Kollision em 15/Maio/2005