Revisto em DVD em 2-NOV-2015, Segunda-feira
Iniciando a maratona de recapitulação para a estreia do Episódio VII da saga de Star Wars, nada melhor que começar do início. E que início desastroso... Passados pouco mais de 15 anos do lançamento deste Episódio I, dele não dá para se tirar outra qualificação que seja muito diferente de "enfadonho", ou "desastre" se levarmos em conta os fãs mais ardorosos desse peculiar universo escapista. O que ocorre é que George Lucas, como diretor e roteirista, é de fato um desastre. A Ameaça Fantasma deveria ser a origem de tudo o que é mais importante na trilogia original, em especial o vilão Darth Vader e o domínio nefasto do império galáctico. No entanto, o que se vê é uma fábula infantiloide cheia de politicagem, que carece de respaldo de caracterização de personagens e de situações - como o domínio estrangeiro sobre o planeta Naboo, que jamais é mostrado de forma efetiva e deixa o espectador imaginando onde estaria o povo num planeta que é deserto e só tem aborígenes desengonçados que vivem nas pradarias verdes que mais parecem saídas diretamente dos episódios de Teletubbies. A introdução para a história dos jedis dá sono. Jake Lloyd é um ator muito ruim, não dá para culpar exclusivamente a falta de direção por parte de Lucas.
Enfim, o filme só tem valia mesmo para os fãs ardentes ou para quem não deixa passar uma bobagem numa programação de retrospectiva. A história continua em Star Wars Episódio II - Ataque dos Clones.
Texto postado por Kollision em 12/Maio/2005
O segundo início de uma das maiores sagas do cinema e o retorno de um cineasta que representa uma das maiores anomalias da história desta arte: George Lucas. O segundo início é na realidade o primeiro, cujos eventos fazem parte do passado do hoje inegavelmente clássico Star Wars Episódio IV - Uma Nova Esperança (Lucas, 1977), filme que em português foi rebatizado nestes novos tempos para o formato serial da saga de 9 partes, cujas 3 últimas provavelmente jamais chegarão a ver a luz do dia. Pelo menos isso é o que Lucas, o pai da criança, apregoa aos quatro ventos. Considero o homem uma anomalia porque, fora os filmes que ele dirigiu em início de carreira até o primeiro Star Wars, não houve nenhuma outra incursão sua na cadeira de diretor em mais de 20 anos! Ele viria a ficar bem mais conhecido como produtor e parceiro por trás das câmeras de gente mais talentosa como, por exemplo, o chapa Steven Spielberg.
O lado mais triste de tudo isso é que o grande hiato profissional de Lucas custou-lhe a realização do mais fraco filme de toda a série, justamente este episódio I. Sua culpa é ainda maior pelo fato dele ser o único responsável também pelo roteiro (não que ele não tenha tentado contratar gente mais experiente para a tarefa, o que ele tentou).
Há muitos e muitos anos, numa galáxia muito distante, um sistema planetário começa a viver um período turbulento de sua história. O planeta Naboo torna-se vítima de um embargo comercial promovido pela frota da chamada Federação, que ameaça dominar o planeta e forçar a rainha Amidala (Natalie Portman) a assinar um tratado escravo. O Senado envia então os cavaleiros jedi Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e seu aprendiz Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) para tentar uma solução pacífica para o conflito. Os jedi são guerreiros habilidosos, dotados de capacidade sensorial fora do comum e de uma poderosa telecinésia. À arma comum a todos eles (um sabre de luz laser) soma-se uma doutrina secular de conhecimento (a "Força"), os quais eles usam para preservar a paz na galáxia. Quando as intenções malignas da Federação ficam mais do que evidentes, Qui-Gon e Obi-Wan são obrigados a proteger a rainha e escoltá-la até o planeta Coruscant, onde ela poderá pleitear uma intervenção política e militar junto ao Senado. Ao longo do caminho, eles encontram um desajeitado alienígena Gungan que atende por Jar Jar Binks, um garoto prodígio chamado Anakin Skywalker (Jake Lloyd), o qual Qui-Gon toma como discípulo, e enfrentam a ameaça do misterioso cavaleiro Sith Darth Maul (Ray Park).
OK, aqui é onde tudo começa. Para os incontáveis fãs da trilogia original, a miríade de personagens e o clima geral de todo o filme é bastante natural, o que pode não ocorrer para o marinheiro de primeira viagem. As comparações, logo de cara, são inevitáveis, mas evitarei fazê-las. Ponho de lado, portanto, toda a aura fantástica e todo o impacto que o primeiro Star Wars representou culturalmente para a sétima arte e para o mundo em geral.
O design de produção deste Episódio I é excelente, os efeitos em sua maioria convincentes e a trilha sonora bombástica de John Williams é 80% responsável por reativar mais uma vez a chama, fazendo do filme uma ficção razoável. No entanto, como retorno de um dos mais cultuados cineastas do início dos anos 80, A Ameaça Fantasma é prova cabal de que Lucas perdeu um pouco o toque, como já mencionei. Sua direção é fraca, como comprovam várias passagens inúteis e uma boa parte dos diálogos trouxas que ele obrigou atores do porte de Liam Neeson a proferir. Tudo bem que este era o primeiro capítulo e era necessário apresentar os personagens e blá-blá-blá, mas a verborragia explicativa (ou simplesmente inútil mesmo) não faz jus ao excelente requinte visual concebido. Mesmo as seqüências decisivas, como a luta entre os jedis e a 'ameaça fantasma' que chega sob a forma dos Sith (uma espécie de jedi do mal), carecem de um requinte maior quanto à cobertura de cena e construção de tensão.
Contribui para a depreciação da história o exagero em colocar sobre os ombros de Anakin Skywalker uma participação decisiva no clímax do filme. Nem vou me dar ao trabalho de dissecar a horrível escolha de Lucas por Jake Lloyd, num papel que fôra disputado até mesmo por Haley Joel Osment! Jar Jar Binks só se torna irritante pela óbvia intenção do diretor em transformá-lo num vínculo ineficaz com a platéia infantil da série. O único coadjuvante cômico a arrancar algumas risadas genuínas é o robô C3PO, pelo menos isso. Com um elenco de luxo que traz ainda Samuel L. Jackson e Terence Stamp, e por ser prequel de uma das melhores trilogias do cinema, este Episódio I até que não faz feio e paga o valor da sessão. Porém, para os fãs da trilogia original, não deixa de ter um certo gostinho amargo de decepção.
O segundo disco do DVD duplo vem com um extenso material para fã nenhum botar defeito: o obrigatório making-of de 1 hora, 7 cenas excluídas com comentários introdutórios de um monte de gente bacana, 12 documentários curtos circulados na Internet durante a produção do filme, 5 featurettes de até 10 minutos sobre vários aspectos técnicos, 4 galerias de fotos, 2 amostras do design de animação com storyboards e comentários introdutórios, 7 spots de TV, trailer, teaser e um videoclipe especial montado sobre a faixa "Duel of the Fates", regida pelo compositor John Williams.