Algum tempo depois de sua estréia em seriados de TV e antes da consagração na pele de Ray Charles no filme biográfico Ray (Taylor Hackford, 2004), Jamie Foxx protagonizou A Isca, thriller que mescla comédia, ação e suspense com resultados satisfatórios. Tanto ele quanto o diretor estavam em trajetória ascendente em suas carreiras, já que Antoine Fuqua faria logo a seguir o competente Dia de Treinamento, que viria a dar o Oscar de melhor ator para Denzel Washington.
O roteiro aposta numa fórmula quase sempre imbatível: colocar uma pessoa comum diante de situações extraordinárias. A pessoa comum é Foxx, na pele de Alvin Sanders, um larápio de meia-tigela e ladrão de camarões. No lugar errado e na hora errada, Alvin acaba preso na mesma cela de um dos comparsas de uma dupla que roubara mais de 40 milhões de dólares em ouro do governo dos EUA. Com a morte do cara, ele acaba sendo a última esperança da polícia para encontrar o outro bandido (Doug Hutchison), um hacker maluco que parece estar sempre um passo à frente da inteligência americana e precisa de Alvin para encontrar o ouro escondido pelo parceiro morto.
Saindo de um início meio complicado e de um ponto de ataque confuso, que não explica direito a relação entre o bandido e o chip implantado na garganta do personagem principal, A Isca reserva a partir de então uma razoável diversão para a platéia, conseguindo fazer o espectador deixar de lado a patetice exagerada de Alvin e apresentando um material que tem o mérito de ser imprevisível de forma plausível. Há um embate interessante entre a vontade de Alvin de deixar a vida desregrada para trás e o cinismo do policial durão, que não tem dúvida alguma que sua "isca" eventualmente voltará ao mundo do crime. O filme é um veículo versátil para o astro Jamie Foxx, mas ele teve companheiros à altura no set. David Morse mostra-se ambiguamente ameaçador, deixando o espectador em constante suspense quanto a um eventual interesse oculto de seu personagem em toda a investigação. Doug Hutchison, seu parceiro de À Espera de um Milagre (Frank Darabont, 1999), faz um bom trabalho e compõe um vilão implacável.
Antoine Fuqua é bom em estabelecer ritmo, encontrando a cadência certa no meio do filme e criando momentos de considerável tensão. Mas ele exagera um pouco na parte final, que envolve a contagem regressiva e o embate entre Alvin e seu algoz. A evolução dos perseguidores pé-de-chulé de Alvin e de seu irmão transviado para os alívios cômicos do filme é outro ponto que parece destoar um pouco do todo. É bem provável, no entanto, que o saldo final para a maioria da platéia seja positivo. Mérito do elenco bem escolhido e do bom humor que permeia todo o trabalho.
Exceto pelo comentário em áudio de Jamie Foxx (sem legendas), não há nenhum outro extra no DVD.
Texto postado por Kollision em 8/Maio/2005