Corpos Ardentes, hoje um recente clássico do film noir, marcou a estréia de dois nomes que brilharam intensamente nos anos 80. O primeiro foi o do escritor/diretor Lawrence Kasdan, que aqui estreava na cadeira de direção, o segundo foi o de Kathleen Turner, que viria a protagonizar alguns dos melhores filmes-pipoca da década. Mais tarde, ambos cairiam num ostracismo que até hoje não foi rompido, principalmente por Turner, que abandonou o cinema devido a problemas de saúde.
O roteiro leva o espectador num percurso gradual que mistura erotismo e suspense na medida certa. William Hurt é Ned Racine, advogado meia-boca que certa noite é atraído pela beleza estonteante de Matty Walker (Kathleen Turner). Ela é casada com um ricaço, diz-se infeliz no casamento, e logo os dois estão elaborando um minucioso plano para assassinar o esposo traído (Richard Crenna) e garantir que Matty receba a polpuda e devida herança. Quando o crime é cometido, Ned acaba descobrindo que as coisas não eram bem o que ele pensava que fossem e, bem... Digamos que as surpresas para o advogado sejam tão impactantes quanto o arrebatamento carnal que surge entre os dois logo no começo do filme.
Não há nada gratuito no suspense de gente grande concebido por Kasdan, nem mesmo as cenas íntimas entre William Hurt e Kathleen Turner. Há uma nudez parcial da moça aqui e ali, mas a maior parte da carga de erotismo é devida aos diálogos francos do diretor e às ótimas interpretações dos protagonistas da história. Neste sentido, é interessante notar que este foi um dos primeiros filmes contemporâneos a dar um passo além na demonstração da relação carnal entre o mocinho e a mocinha, e é até mesmo possível detectar um certo estilo embrionário que seria a base de futuros sucessos no gênero, como Instinto Selvagem (Paul Verhoeven, 1992). O visual, o ritmo lento e a cinematografia do filme remetem aos antigos dramas policiais produzidos nas décadas de 40 e 50, aqui com a adição de cores. Não há a narração em primeira pessoa, uma das características mais marcantes dos films noir, mas é evidente que toda a história é contada sob o ponto de vista do advogado Ned, desde o envolvimento irresistível com seu objeto de desejo até cada novo indício de que o crime cometido pela dupla de amantes talvez não tenha sido perfeito. Entre o elenco coadjuvante, a curiosidade é um jovem Mickey Rourke no papel de um ex-delinqüente que auxilia Ned em seu plano assassino.
Além do show narrativo que representa, Corpos Ardentes cumpre um papel interessante junto à platéia masculina, o de reforçar a noção do estrago que uma bela mulher pode fazer na vida de um homem quando ela o tem sob seu poder.
O DVD traz o filme nas versões widescreen e fullscreen, mas a seção de extras da edição da Warner é bem magrinha. Vem com biografias curtas do elenco, do compositor e do diretor, além de notas de produção e trailer da época.
Texto postado por Kollision em 3/Maio/2005