O fascínio exercido pelas obras da escritora Agatha Christie nos leitores de todo o mundo é notório, e um de seus romances de mistério mais conhecidos é justamente Assassinato no Expresso Oriente, que volta a trazer à baila o perspicaz detetive belga Hercule Poirot. O personagem aparece em vários livros da autora, sempre às voltas com intrincados e aparentemente insolúveis mistérios. Albert Finney é quem o incorpora no filme de Sidney Lumet, sendo apoiado por um grande e impressionante elenco de astros, alguns deles no ocaso de suas carreiras.
O sempre ocupado detetive Hercule Poirot (Finney) recebe um chamado para ir à Inglaterra, e embarca num trem que parte da Turquia com destino à Europa ocidental. Durante a noite, um dos passageiros (Richard Widmark) é drogado e brutalmente assassinado com várias facadas. Com a locomotiva parada devido a um deslizamento que bloqueou os trilhos, Poirot atende ao pedido do capitão do trem e inicia uma investigação que coloca contra a parede todos os passageiros. Ele os entrevista um a um, e ao final apresenta a solução do crime, que envolve uma teia de conspiração inacreditável relacionada ao passado não muito inocente da vítima.
De direção convencional e visual bastante fiel àquilo que é descrito no livro, o filme tem seu valor incrementado devido à performance inspirada de Finney como Poirot. Aos não iniciados em Agatha Christie faltará uma introdução mais bombástica do personagem, o que constitui um dos pontos fracos do filme. Isso não significa que, lá pela metade da história, ele já não tenha capturado a atenção da platéia com sua capacidade inata de enxergar o que todos deixam passar batido. Os trejeitos e a postura de Poirot também são sutilmente incorporados pelo ator, cuja performance foi inclusive elogiada por Agatha Christie. O elenco coadjuvante estelar também entrega uma atuação de primeira, sendo Sean Connery, Anthony Perkins, Lauren Bacall e Ingrid Bergman os que mais se destacam. Por seu papel, Ingrid Bergman arrematou o Oscar de melhor atriz coadjuvante.
Todo o roteiro é intensamente dependente dos diálogos, e o ambiente do trem não deixa muito espaço aberto para um trabalho de câmera mais variado. Não há muita ousadia cinemática, e a fleuma britânica parece dominar tudo e todos, com exceção de um momento de exaltação do personagem de Sean Connery. E o final, com certeza, vai deixar muita gente que já leu o livro de cabelo em pé. Não por mudá-lo, mas sim por acrescentar ao desfecho um adendo politicamente polêmico. O filme vale uma espiada pelo menos devido ao elenco afiado e levemente caracterizado (John Gielgud fazendo mais um papel de mordomo sempre soará redundante), a serviço de uma trama analítica que, se não é bombástica como as páginas do livro a fazem crer, pelo menos não desaponta totalmente.
Infelizmente, não há um extra sequer no DVD de Assassinato no Expresso Oriente.
Texto postado por Kollision em 14/Maio/2005