Março foi, para mim, um dos meses mais conturbados dos últimos tempos, principalmente no que diz respeito a trabalho. Isso significa que foi até um milagre eu ter conseguido assistir a 15 filmes, dentre os quais figuram uma adaptação de quadrinhos e algumas dobradinhas interessantes.
Duas destas dobradinhas culminaram em filmes ansiosamente esperados pelos fãs de terror. O cult O Massacre da Serra Elétrica (Tobe Hooper, 1974) evoluiu para os nossos tempos numa refilmagem atordoante realizada há dois anos atrás, mas que só agora veio estrear no Brasil. O novo O Massacre da Serra Elétrica (Marcus Nispel, 2003) faz jus à reputação underground de seu antecessor, com um nível de violência realmente digno da censura 18 anos com a qual o filme foi exibido. Jessica Biel caminha, portanto, para se tornar a mais nova rainha do grito dentro do gênero. Quem grita bastante em outro filme de terror é Naomi Watts, que retorna na pele da repórter Rachel Keller em O Chamado 2 (Hideo Nakata, 2005). Infelizmente, o material revela-se aqui bastante inferior ao espetáculo macabro apresentado em O Chamado (2002), o grande acerto que colocou Gore Verbinski na lista de diretores badalados de Hollywood.
O pavor mainstream, durante a década de 70, não contava com loucos munidos de moto-serras ou meninas mutantes com cabelos compridos, mas sim com uma ameaça natural que aterrorizou os freqüentadores de uma praia ensolarada, pelo menos em celulóide. Tubarão (1975) fez o nome de Steven Spielberg e tornou-se o primeiro blockbuster da história, ao ultrapassar a marca dos 100 milhões de dólares de bilheteria. O filme ainda hoje é um espetáculo impressionante, o que não se pode dizer da continuação Tubarão 2 (Jeannot Szwarc, 1978), que reaproveita todos os elementos do original, sem no entanto primar pelo estilo único criado por Spielberg.
A última dobradinha corresponde às sobras da programação do Oscar. Os dois filmes indicados para melhor longa que eu ainda não tinha assistido entraram e saíram do circuito local como um relâmpago, como se os cinemas os tivessem exibido por pura e simples obrigação. A sessão de Ray (Taylor Hackford, 2004) corroborou a opinião de 99,9% da comunidade cinéfila quanto ao desempenho de Jamie Foxx no papel do pianista cego, que é em realidade o principal atrativo de um bonito e sincero filme. E a destreza de Paul Giamatti ajuda a sustentar o marasmo inicial de Sideways - Entre umas e Outras (2004), que melhora a cada cena enquanto a jornada de seu personagem se complica dentro das linhas concebidas pelo diretor Alexander Payne, ganhador do Oscar de melhor roteiro adaptado.
Um clássico moderno revisto com pompa foi Débi & Lóide - Dois Idiotas em Apuros (Peter Farrelly, 1994), uma verdadeira metralhadora de nonsense que nunca perde a graça. Já perdi as contas de quantas vezes assisti a Jim Carrey proferir o seu famigerado "I-like-it-a-lot!", e não hesito em dizer que, dentro de seu respectivo gênero, este foi o melhor filme do mês. Outra dupla que pude (re)conferir, esta bem menos atrapalhada mas ainda cheia de gracinhas, foi Sylvester Stallone e Kurt Russell em Tango & Cash - Os Vingadores (Andrei Konchalovsky, 1989), espécie de síntese do que o cinema da década de 80 tinha para oferecer na maior parte dos filmes direcionados ao grande público. Divertido e bobo, mas sem nenhum atrativo considerável.
Tempo Esgotado (John Badham, 1995) e A Filha do General (Simon West, 1999) são thrillers de razoável grau de entretenimento. O primeiro tem Johnny Depp e Christopher Walken se divertindo numa trama em tempo real, enquanto no segundo Madeleine Stowe faz companhia a John Travolta na resolução de um mistério de tema pesado. Dois filmes geralmente subestimados, e com razão. O grande diferencial de ambos é o elenco atraente, que eleva a qualidade das películas e justifica as duas horas diante da TV.
Finalmente pude conferir (pela primeira vez) o clássico O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939). As maravilhas que o DVD proporciona aparecem nesta versão restaurada, que torna a colorida fábula de Dorothy ainda mais cativante. Enquanto fábula inocente, o filme é fenomenal, mas algumas musiquinhas repetidas à exaustão no trecho intermediário acabam torrando um pouco a paciência. Tons de fábula possui também o romance Grandes Esperanças (Alfonso Cuarón, 1998), que tenta sair do lugar comum com uma história relativamente bem contada, com estilo e sensibilidade.
E, finalmente, parece que as adaptações de quadrinhos da DC Comics saíram da lama. A prova disso é Constantine, uma grata surpresa que aproveita bem as idéias da HQ Hellblazer. Entretenimento com qualidade, e até mesmo dotado de uns sustos aqui e ali. Pena que isso ainda não tenha recuperado minhas esperanças em Batman Begins, que estréia em breve e cujo material de divulgação muito me desagrada. Christian Bale não tem cara de Batman, o Batmóvel será uma coisa horrível, os trailers têm sido uma porcaria... Talvez pese também o fato de eu não ter a mínima empatia pelo personagem. Well, vamos ver!
De todos estes filmes, as trilhas que DEVEM fazer parte de qualquer coleção são as de Ray, O Mágico de Oz, Tubarão e Débi & Lóide - Dois Idiotas em Apuros, por motivos óbvios. Merece menção honrosa o trabalho bacana de Hans Zimmer em O Chamado.
Texto postado por Kollision em 1/Abril/2005