Cinema

Constantine

Constantine
Título original: Constantine
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 121 min.
Gênero: Terror
Diretor: Francis Lawrence (Eu Sou a Lenda, Água para Elefantes, Jogos Vorazes - Em Chamas)
Trilha Sonora: Klaus Badelt (16 Quadras), Billy Howerdel, Brian Tyler (Possuídos [2006])
Elenco: Keanu Reeves, Rachel Weisz, Shia LaBeouf, Djimon Hounsou, Max Baker, Pruitt Taylor Vince, Gavin Rossdale, Tilda Swinton, Peter Stormare, Jesse Ramirez, José Zúñiga, Francis Guinan, Larry Cedar, April Grace, Suzanne Whang, Johanna Trias, Alice Lo, Nicholas Downs, Tanoai Reed
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 6/10

Revisto em DVD em 26-DEZ-2010, Domingo

Se um cara vive de desvendar mistérios do outro mundo e trilha um caminho que vai e vem entre este universo e o do além conforme regras firmemente estabelecidas, o que dizer quando as criaturas do lado de lá parecem estar atravessando a fronteira e vindo para a nossa realidade sem qualquer passaporte e visto? Parece uma boa ideia para um filme de cunho semiapocalíptico, ou pelo menos parecia quando eu assisti a Constantine há alguns anos atrás. Não há nada de errado em ter Keanu Reeves no papel-título, mas nessa revisão o filme perdeu a força por causa da reta final da história, que envolve o capeta em pessoa e o deixa com cara de palerma diante de toda a situação. Além disso, para um longa associado a um gênero tão específico, faltou um pouco mais de suspense e gore.

Em resumo, Constantine não é um filme ruim, mas não atinge todo o potencial que poderia ter demonstrado. Apesar disso, os valores de produção são excelentes, e me fazem pensar numa possível sequência, mais voltada a uma trama intimista e menos ambiciosa.

Os extras da edição em DVD simples consistem de uma faixa de comentários em áudio conjunta com o diretor, o produtor e os roteiristas (legendada em português), dois trailers do filme e o videoclipe de Passive, do A Perfect Circle.

Texto postado por Kollision em 23-MAR-2005:

Filmes que lidam com a temática do céu e do inferno, anjos e demônios, danação e absolvição, são definitivamente legais. Só mesmo um roteiro tosco ao extremo ou um diretor incompetente podem destruir uma história com temática tão atraente tanto para católicos, evangélicos ou ateus. Não importa qual seja o enfoque de uma produção assim, desde que a platéia não deixe a religião influir demais em seu julgamento, a probabilidade de um filme razoável sobre céu/inferno agradar é muito boa. Este é o caso de Constantine, que tem a seu favor uma história que tenta se distanciar de vínculos religiosos dedicados e apela para uma aproximação mais universal dos registros sagrados que são base para praticamente todas as religiões contemporâneas.

John Constantine é um personagem que passou de coadjuvante das histórias do Monstro do Pântano para protagonista de um título próprio no selo de HQs adulto Vertigo, da DC (principal rival da quase onipotente Marvel Comics, casa de alguns pesos-pesados como Homem-Aranha, X-Men e Hulk). Fumante compulsivo, o magro e arrogante Constantine (Keanu Reeves) é um especialista no oculto, que combate os seres das trevas em nosso mundo na tentativa de escapar das garras do Diabo em pessoa (Peter Stormare) e comprar sua entrada no céu. Sim, no mundo de Constantine, anjos bons e maus, demônios e entidades mitológicas são coisas tão naturais quanto o vizinho esquisito do apartamento ao lado. A origem do personagem é explicada ao longo do filme, que tem como linha central a investigação que uma bela policial (Rachel Weisz) conduz sobre o assassinato de sua irmã gêmea. Ela logo se vê forçada a apelar para a ajuda de Constantine, o único que parece compreender a natureza dos estranhos eventos que começam a acontecer com freqüência cada vez maior no submundo de Los Angeles. Juntos, eles se deparam com uma conspiração demoníaca destinada a trazer o inferno à Terra.

O nome da revista original de John Constantine é Hellblazer, que foi escolhido na época porque Hellraiser já havia sido registrado por Clive Barker. A mudança até que foi boa comercialmente, cortando a associação com o conceito de inferno e distanciando-a do gênero do terror, do qual o filme é representante legítimo. Tão legítimo que o resultado chega a ser igual, ou talvez até superior, a filmes incensados como Anjos Rebeldes (Gregory Widen, 1995).

Escândalos de fãs à parte, a transformação do personagem de um britânico para um americano não faz muita diferença quando a essência da história é mantida. Uns dizem que a mudança ocorreu para possibilitar um mínimo de decência na atuação de Keanu Reeves, outros que o projeto só foi pra frente quando o roteiro foi alterado. Embora não seja loiro como Sting (que inspirou o visual do personagem nas HQs), a verdade é que Reeves caiu bem no papel, reaproveitando elementos de sua performance como o Neo de Matrix. Seu universo macabro tem algumas figurinhas fáceis, como o padre amigo (Pruitt Taylor Vince), o sidekick que o admira (Shia LaBeouf), o fornecedor de informações e armas (Max Baker), um mercador divino que alega neutralidade entre os planos (Djimon Hounsou) e um demônio com feições humanas (Gavin Rossdale). Mas quem dá um show mesmo em cada cena onde aparece é Tilda Swinton, na pele do anjo andrógino Gabriel. Seu perfil esguio e sua loirice aguada parecem ter sido delineados sob encomenda para o papel.

O visual do filme é estonteante, assim como os efeitos especiais, e o diretor estreante Francis Lawrence foi bastante esperto ao manter a cena inicial de exorcismo, que estabelece o clima do longa logo de cara. Praticamente todo o elenco entrega pelo menos um patamar mínimo de boa atuação, como demonstra até mesmo o vocalista da banda Bush, fora de sua esfera rotineira como o demônio à paisana Balthazar. Há alguns furos no roteiro, como o mistério de como a policial de Rachel Weisz consegue retornar de sua visita ao inferno, ou a inconsistência relacionada ao artefato arcano que fica em seu poder em determinado ponto do filme. Felizmente, Constantine é mais um caso em que o conjunto final acaba compensando esses pequenos deslizes.