Cinema

Hulk

Hulk
Título original: Hulk
Ano: 2003
País: Estados Unidos
Duração: 138 min.
Gênero: Ficção Científica
Diretor: Ang Lee (O Segredo de Brokeback Mountain, Desejo e Perigo, Aconteceu em Woodstock)
Trilha Sonora: Danny Elfman (Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, Homem-Aranha 2)
Elenco: Eric Bana, Jennifer Connelly, Sam Elliott, Josh Lucas, Nick Nolte, Todd Tesen, Cara Buono, Paul Kersey, Kevin O. Rankin, Celia Weston, Mike Erwin, Geoffrey Scott, Lou Ferrigno, Stan Lee
Distribuidora do DVD: Universal
Avaliação: 6

Esta foi, definitivamente, a mais controversa das adaptações de HQs cujo boom iniciou-se e faturou muitos milhões com X-Men - O Filme (Bryan Singer, 2000). Não pelo conteúdo de sua história, extremamente inofensivo em vista do potencial de seu personagem, mas sim pela escalação de seu diretor, o cineasta de Taiwan Ang Lee. O nome de Lee, sempre associado a filmes contemplativos e de arte, causou tanto espanto por parte dos fãs mais hardcore quanto esperança dos mais ecléticos, que passaram a torcer por uma releitura que saísse do lugar-comum sempre relacionado a histórias de super-heróis. Não que o lugar-comum seja uma coisa ruim, mas o olhar de alguém "de fora", mesmo que arriscado, é sempre bem-vindo em qualquer gênero cinematográfico.

A origem do golias esmeralda, carinhosa alcunha que o monstro verde recebeu em seu berço de origem, tem no filme de Ang Lee uma retratação diferente da original, principalmente devido às óbvias limitações físicas inerentes à idéia de uma explosão militar no deserto. Na versão do filme, Bruce Banner (Eric Bana) é um cientista que trabalha para os militares num projeto de reconstituição celular cujos primórdios datam das atividades obscuras desenvolvidas pelo pai que não conheceu (Nick Nolte), também cientista e estigmatizado por uma terrível tragédia do passado. Trabalhando ao lado da ex-namorada Betty Ross (Jennifer Connelly), filha do implacável general Ross (Sam Elliott), Bruce é acidentalmente exposto a uma alta dose de raios gama em seu laboratório, o que desencadeia em seu organismo uma terrível metamorfose condicionada ao seu estado emocional. Quando alterado, ele se transforma num super-humano gigante, verde e virtualmente indestrutível, que causa o caos ao seu redor e só a frágil Betty Ross parece ser capaz de acalmar. O aparecimento do Hulk coincide com o retorno em cena do pai de Bruce, o que desperta a ira do general Ross e a cobiça de Glen Talbot (Josh Lucas), um subalterno seu que deseja se aproveitar do monstro.

Havia dois grandes empecilhos diante de Ang Lee e sua equipe durante o processo adaptar o Hulk para as telas: 1) como manter a fidelidade aos quadrinhos e 2) como fazer os efeitos do monstro. O primeiro desafio foi contornado modificando-se muita coisa da cronologia original, porém com uma preocupação constante em manter intacta a essência dos personagens. Neste ponto, não há dúvida de que o filme foi bem-sucedido. No segundo a história já muda de contexto. A preocupação com a composição digital da criatura, uma decisão que desde o começo causara polêmica, é tamanha que parece eclipsar todo o resto do filme. Pode-se dizer que, quando o Hulk está em ação (leia-se cara feia, músculos em riste, violência e destruição) o negócio funciona que é uma beleza, apesar de algumas das cenas envolvendo dublês saltarem aos olhos pela falta de sincronismo com o material digital adicionado na pós-produção. Os momentos de calmaria e contemplação, no entanto, mostram-se muito mais complicados do ponto de vista dramático, e não chegam a convencer de todo.

Para os fãs mais ardorosos do Hulk, outras pequenas coisas que arranham o entusiasmo são a verborragia exacerbada de alguns diálogos, as metáforas meio bobas que acompanham as explosões de fúria do Hulk, e as próprias explosões de fúria em si, que carecem de uma motivação mais forte para que o personagem de Bruce Banner seja levado ao limite e a transformação tenha início (coisa em que o seriado com Bill Bixby e Lou Ferrigno era muito bom). De resto, os saltos gigantescos que ele dá em meio à paisagem desolada do deserto americano são puro deleite visual, assim como o confronto dele com as forças armadas lideradas pelo general Ross, perfeitamente personificado por Sam Elliott. O resto do elenco assume seus papéis com igual competência, mas acredito que Jennifer Connelly poderia ter se soltado mais ao fazer o papel do grande amor de Bruce Banner.

Um dos melhores aspectos deste filme, e muitos hão de concordar com isso, é o estilo de edição "quadrinístico" adotado pelo diretor, que emula muitos dos conceitos das HQs e confere bastante dinamismo à ação. Desta forma, a narrativa consegue suscitar por vários momentos a sensação de se assistir a uma HQ em movimento. Pontos polêmicos, como a presença dos cachorros mutantes e o aproveitamento abusivo do pai de Banner como alavanca de conflito na história, não ferem em nenhum momento a estética adotada pelo filme, que inclui homenagens veladas a vários personagens secundários da revista em quadrinhos, como os vilões Homem-Absorvente e Zzaxx. São detalhes bacanas que ajudam a despertar o apreço por um filme atípico em se tratando de adaptações de HQs, que infelizmente decepciona por demorar um pouco para se estabelecer como narrativa e não consegue capturar com eficiência o clima dos quadrinhos.

O primeiro disco do DVD duplo vem com uma faixa de comentários de Ang Lee acompanhando o filme, além de um recurso que permite acessar especiais behind-the-scenes durante a sessão. O DVD extra traz um making-of enxuto de 23 minutos, quatro especiais que variam de 5 a 16 minutos e cobrem a evolução do Hulk nos quadrinhos, a performance de Ang Lee fazendo o processo de motion capture para o monstro, a briga do Hulk com os cachorros mutantes e as técnicas especiais de edição do filme. Há ainda 6 minutos de cenas excluídas, um recurso meio bobo que mostra curiosidades triviais sobre a força do Hulk, e a recriação de quatro desenhistas renomados para a cena em que Bruce Banner/Hulk dão uma lição em Glen Talbot, acompanhadas de biografias dos artistas (Adam Kubert, Salvador Larroca, Tommy Ohtsuka e Katsuya Terada).

Texto postado por Kollision em 24/Abril/2006