Cinema

O Segredo de Brokeback Mountain

O Segredo de Brokeback Mountain
Título original: Brokeback Mountain
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 134 min.
Gênero: Drama
Diretor: Ang Lee (Desejo e Perigo, Aconteceu em Woodstock, As Aventuras de Pi)
Trilha Sonora: Gustavo Santaolalla (21 Gramas, Diários de Motocicleta, Babel)
Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Randy Quaid, Michelle Williams, Anne Hathaway, Valerie Planche, Graham Beckel, David Harbour, Kate Mara, Roberta Maxwell, Peter McRobbie, Anna Faris, Linda Cardellini, Scott Michael Campbell
Avaliação: 8

Muitas vezes caracterizado como o melhor diretor asiático em atividade em Hollywood, Ang Lee é notório por mencionar em entrevistas que não tem nada contra o cinema de entretenimento. Talvez isso sirva para explicar o porquê dele ter aceitado dirigir a adaptação de quadrinhos Hulk (2003), mas a verdade é que ele é bem mais conhecido por realizar obras sérias, algumas transcendentais, e ser laureado com prêmios da crítica por elas. Este filme cai exatamente nesta categoria, onde a veia poética tão conhecida do diretor atinge ponto crítico, numa história construída a partir de um conto não convencional sobre um romance entre dois cowboys numa das regiões mais caipiras dos Estados Unidos.

Durante a época mais propícia para a peregrinação livre de ovelhas na imensidão rural do estado de Wyoming, os jovens Ennis (Heath Ledger) e Jack (Jake Gyllenhaal) são contratados por um ranzinza criador (Randy Quaid) para pastorearem seus rebanhos na belíssima região montanhosa de Brokeback (a tal "Brokeback Mountain"). Isolados, os dois vêm a descobrir que partilham de sentimentos mútuos e iniciam um romance que se estende além do frio inverno que inicialmente os une. O restante da história consiste na evolução deste romance, e como cada um deles lida com a sua realidade.

Discorrer sobre o tema de Brokeback Mountain é um pouco complicado, principalmente porque o filme, em si, exala romantismo entre pessoas do mesmo sexo, entre homens que se entregam de corpo e alma a um desejo irrefreável. Por mais que a sociedade atual esteja mentalmente evoluída, isso ainda é causa de estranheza, em maior e menor impacto em todas as diferentes culturas do planeta Terra. A verdade é que poucas vezes o cinema das massas havia retratado a homossexualidade masculina de forma tão séria. Em nenhum momento o assunto é banalizado pelo filme de Lee pois, se é um ato corajoso ambientar a história numa das regiões mais conservadoras do país, mais coragem ainda é exigida dos protagonistas deste drama, numa época (a década de 60) onde a mais ínfima insinuação de homossexualidade era furiosamente reprimida por uma sociedade que ainda não estava preparada para tal comportamento.

A maior prova disso é o próprio temperamento de Ennis, o personagem feito por Heath Ledger. Por motivos que ficam claros no decorrer do filme, essa é a sua história, o relato de como ele veio a amar um semelhante do próprio sexo e, diante do mundo, representar o papel do machão caipira casado e pai de família. Sua jornada transpira fatalidade, desencadeia uma quase insuportável tensão familiar, carrega as chagas da dissimulação e trilha, durante boa parte do tempo, o caminho convencional ditado pela sociedade. Mas não há culpa. Exatamente como as boas histórias de amor devem ser. Basta dizer que, quando o fantasma da culpa ameaça se instalar em seu relacionamento, o destino intervém e faz uma das suas.

Não é justa a atribuição leviana do rótulo de "filme gay", ou pior, "filme dos cowboys gays", dada em tom de brincadeira a Brokeback Mountain. Trata-se de um trabalho sólido, como ótima cinematografia e marcante trilha sonora, cujo diferencial maior é não demonstrar nenhum pudor ao exibir dois homens trocando beijos apaixonados. A passagem do tempo, contudo, causa uma certa confusão porque os dois não parecem envelhecer de acordo. Pelo menos não há dúvida de que Ledger e Gyllenhaal não estão para brincadeira quando aparecem juntos em cena. Há de se lembrar que também ótimas estão as respectivas esposas, as belas Michelle Williams (Dawson's Creek) e Anne Hathaway (O Diário da Princesa), ainda que elas não tenham lá muito tempo em cena.

Texto postado por Kollision em 11/Fevereiro/2006