Não há dúvida: o Homem-Aranha é o maior ícone do universo dos super-heróis, ao lado do Super-Homem. Há décadas ele encanta novas gerações de leitores de histórias em quadrinhos, tendo aparecido também em inúmeras séries de desenhos animados, todas com relativo sucesso. No entanto, ao contrário do seu rival, nunca teve uma transposição cinematográfica retumbante como o bombástico Superman de Richard Donner (exceto pela capenga produção da década de 70 que tinha Nicholas Hammond como protagonista e acabou gerando uma série de TV), até a façanha de Sam Raimi no filme de 2002.
A identidade secreta do fotógrafo Peter Parker é conhecida por todos, leitores ou não, já que ele é hoje, praticamente, um personagem da cultura mundial. O jovem Peter Parker vive com sua tia May e combate o crime vestindo o uniforme do escalador de paredes conhecido como Homem-Aranha, o herói difamado pelo jornal Clarim Diário e seu tirano editor J. Jonah Jameson. A parte talvez menos conhecida de sua história é a sua gênese, que é muito bem narrada no filme de Raimi e mantém-se bastante fiel às páginas das revistas em quadrinhos, detalhando de forma esplêndida a real motivação por trás das atitudes do herói picado por uma aranha geneticamente modificada. O filme vale-se de um bom elenco e de efeitos especiais de última geração, algo impensável há algumas décadas atrás, quando o projeto de um filme sério com o personagem foi cogitado.
Algumas mudanças menores na história foram introduzidas para adaptá-la aos novos tempos, como trocar a aranha radioativa por uma geneticamente modificada, mostrar o primeiro amor de Peter como sendo Mary Jane (e não Gwen Stacy) e fazer com que a teia do herói seja expelida organicamente de seu corpo, ao invés dele usar os dispositivos lançadores de teia. Estas mudanças não afetam em nada o filme, diga-se de passagem. É evidente a preocupação do diretor em contar uma boa história, e não simplesmente encher a tela com uma overdose de efeitos especiais. Os efeitos estão lá, mas estão todos a serviço da ação quando necessário e, mesmo assim, não são completamente perfeitos, como é possível notar em algumas seqüências.
Fãs ardorosos notarão ainda algumas gafes no roteiro, como a falha do sentido de Aranha na cena do incêndio, que deveria supostamente alertar o herói do perigo iminente. A concepção visual do vilão, o Duende Verde, pode não agradar muito a princípio, mas seu planador e seus respectivos efeitos de vôo ficaram muito bem-feitos. Willem Dafoe dá um show no papel do Duende, e Tobey Maguire caiu como uma luva no papel do herói, já que possui um eterno semblante de adolescente abobalhado e perdido, exatamente como o Peter dos quadrinhos, e não precisa de muita expressão facial quando veste o uniforme do Homem-Aranha. As cenas com o herói se balançando entre os prédios são espetaculares, e o resultado final é realmente empolgante. A essência das HQs foi mantida, e mais um clássico das adaptações dessa arte foi criado.
O DVD duplo lançado pela Columbia traz o filme em formato fullscreen, infelizmente. Essa falha assombrosa da distribuidora é compensada em parte pela avalanche de extras do segundo DVD: três documentários legais de 25 a 40 min. sobre o herói, vários extras interativos mostrando a história do personagem ao longo dos anos, galeria de arte com amostras de desenhos de muitos feras da casa das idéias (como é chamada pelos leitores a editora Marvel Comics), testes de cena com Tobey Maguire e J. K. Simmons, especiais curtos sobre o diretor Sam Raimi e o compositor Danny Elfman, cenas cortadas com erros de gravação, dicas para o jogo da Activision baseado no filme e algumas outras apresentações em DVD-ROM. No primeiro disco há ainda trailers e os videoclipes da canção-tema do filme, Hero (cantada pelo vocalista do Nickelback, Chad Kroeger) e de uma música do grupo Sum 41.
Texto postado por Kollision em 2/Julho/2004