Revisto em DVD em 7-OUT-2007, Domingo
Numa primeira revisão, o que fica mais evidente no terceiro capítulo da saga dirigida por Sam Raimi é o quanto uma certa infantilização afeta o desenvolvimento da história. O resultado é um grupo de personagens com motivação rala, como o Venom (praticamente jogado dentro da bagunça) e o próprio Homem-Areia (se ele não é de fato um criminoso, porque a sua conivência junto com Venom em partir com tudo pra cima do Homem-Aranha no clímax?). A sorte é que o carisma do universo criado por Stan Lee é mais do que suficiente para garantir que ninguém consiga tirar os olhos enquanto qualquer um dos filmes do Homem-Aranha estiver passando numa tela de TV ou de cinema.
O primeiro disco do DVD duplo tem, além do filme, duas faixas de comentários em áudio legendadas (uma com Sam Raimi e o elenco e outra com a equipe técnica, liderada pelo produtor Avi Arad), seis minutos de erros de gravação, cinco galerias de fotos e desenhos, o videoclipe da canção Signal Fire do Snow Patrol e os trailers de Across the Universe, Ponto de Vista, Superbad - É Hoje, Motoqueiro Fantasma e de um compêndio de lançamentos em tecnologia blu-ray. O segundo DVD tem onze documentários de making-of que variam de 4 a 19 minutos, oito propagandas de TV e quatro trailers do filme.
Visto no cinema em 13-MAI-2007, Domingo, sala 5 do Multiplex Pantanal
A geração do Homem-Aranha protagonizado pelo "cara de pastel" (minha mãe é quem disse isso) Tobey Maguire finalmente atinge regime de cruzeiro neste terceiro filme. E Sam Raimi definitivamente incorpora a carapuça de diretor exclusivo de uma única franquia, já que ele não fez absolutamente nada que não estivesse relacionado ao Homem-Aranha de 2001 em diante.
É preciso separar bem as coisas quando se avalia um filme como este. Refiro-me especialmente à visão que tenho como fã, que inevitavelmente afeta qualquer julgamento sobre uma adaptação de tamanho vulto e responsabilidade. Portanto, como fã, tenho que admitir que o terceiro filme fica abaixo dos dois primeiros no que diz respeito à caracterização de personagens e situações. Motivos: o pouco envolvimento dramático de Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard, belíssima como M. Night Shyamalan jamais pensou em retratá-la em seus filmes), a falta do conflito entre hospedeiro e criatura que sempre foi uma forte característica de Venom (Topher Grace), a ignorância continuada sobre o "sentido de aranha", o acidente que provoca a transformação do Homem-Areia (um atentado contra todas as normas de segurança de qualquer instalação industrial) e o aparente esquecimento por parte dos roteiristas da pindura que sempre assombrou a rotina universitária de Peter Parker, tão bem retratada na trama de Homem-Aranha 2.
A história se suporta com um amálgama de personagens que aproveita o desenvolvimento dos dois primeiros longas para apresentar um conflito que culmina num desfecho emocional bem mais intenso que antes. Harry Osborn, o melhor amigo de Peter, dá um jeito de se tornar o novo Duende Verde e, assim, representar perigo constante tanto para o herói quanto para sua identidade secreta. O Homem-Aranha nem chega a sentir muito os outros problemas que aparecem com o surgimento do Homem-Areia (Thomas Haden Church), já que agora está por cima da carne seca e é um sucesso com a população. Mas a virada ocorre quando uma criatura pegajosa e negra une-se ao seu corpo e lhe dá um vigor a mais, e sem que ele perceba passa a afetar seu comportamento e sua atitude. O uniforme negro, como todos sabem (quase todos, espero), é um alienígena que, depois de algum tempo, dará origem ao anti-Aranha, a criatura conhecida como Venom.
São muitos personagens. Mas a história dá conta de todos eles, salvo as ressalvas que menciono dois parágrafos acima. O filme tem as cenas mais engraçadas da trilogia, que se passam quando o lado negro do herói se manifesta e ele se torna "emo". Tanto Tobey Maguire quanto Kirsten Dunst têm aqui seus melhores momentos dramáticos (a cena da ponte é um primor de interpretação), e Haden Church foi uma escolha PERFEITA para o papel de Flint Marko, um dos mais bacanas vilões ambíguos da Marvel.
Os efeitos especiais são primorosos e são o maior indício de que, tecnicamente, Homem-Aranha 3 é um trabalho impecável.