Revisto em Blu-Ray em 14-AGO-2011, Domingo
Em se tratando de adaptações cinematográficas certas decisões artísticas, por mais bem fundamentadas que sejam sob o ponto de vista técnico, muitas vezes falham completamente por não considerarem a essência do material-fonte. A necessidade de manter uma censura PG-13 transforma Motoqueiro Fantasma num filme para crianças com um personagem que, à exceção do visual flamejante, em nada condiz com a personalidade e a ambientação mais barra-pesada das HQs. Ao mesmo tempo, para um longa sem sangue e sem nenhum indício de anarquia, Motoqueiro Fantasma não deixa de ser uma diversão passageira sem contraindicações. O eterno dilema permanece: excluir a fatia mais rentável da plateia, os adolescentes, ou manter uma visão mais fiel e "realista" do conceito primordial? Gavin Hood e Hugh Jackman fizeram propaganda enganosa com X-Men Origens - Wolverine, prometendo crueza e fideliade porém entregando uma bobagem sem conteúdo tanto para fãs quanto não fãs de HQs. Em toda sua mediocridade diretorial, pelo menos Mark Steven Johnson não se atreveu a tanto. E pelo menos seu filme tem Eva Mendes, que infelizmente está fora da continuação. O resto é uma caveira flamejante que pode ser exibida na Sessão da Tarde sem que você precise tirar as crianças da sala.
O filme recebeu uma sequência em 2011: Motoqueiro Fantasma - Espírito da Vingança.
Os principais extras do Blu-ray consistem de três segmentos de making-of que totalizam quase uma hora e meia e duas faixas de comentário em áudio, uma com o diretor e o responsável pelos efeitos especiais e outra com o produtor Gary Foster. Completam o pacote os trailers de Os Mensageiros, Sangue & Chocolate, Premonições e Hellboy. Atenção para a propaganda enganosa do disco: apesar dele dizer que os extras são legendados em português, as únicas legendas disponíveis neste caso estão em espanhol e coreano.
Visto no cinema em 2-MAR, Sexta-feira, sala 4 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Edward em 7-MAR-2007
O diretor Mark Steven Johnson faz parte de um grupo de cineastas que tem se especializado em transportar personagens das HQs para o cinema, do qual também fazem parte Sam Raimi, Bryan Singer e Guillermo del Toro. Ao contrário de seus colegas, no entanto, Johnson ainda tem um caminho árduo pela frente antes de ser considerado um profissional do primeiro time, já que sua primeira incursão no gênero foi o deficiente Demolidor - O Homem Sem Medo (2003). Aqui está ele tentando de novo, desta vez com um dos personagens mais obscuros e bacanas da Marvel, protagonista de aventuras que misturam misticismo, vigilantismo, ação e horror desde a aurora da conhecida editora.
No roteiro escrito pelo próprio diretor, com a ajuda de seu astro – e fã da HQ original – em alguns trechos, o que é mostrado ao espectador é a gênese do segundo "Rider", palavra inglesa que se traduz tanto como cavaleiro ou motoqueiro. Ele é Johnny Blaze (Nicolas Cage), famoso e hábil stuntman que hipnotiza multidões com seus feitos absurdamente perigosos. Certo dia, Blaze recebe a visita de uma figura misteriosa, na realidade o demônio Mefisto (Peter Fonda), que lhe cobra uma dívida contraída no passado, quando um pacto fôra feito na tentativa de salvar seu pai de uma doença terminal. Mefisto concede a Blaze um poder infernal para que ele enfrente seu filho renegado Blackheart, ou "Coração Negro" (Wes Bentley), que decidiu caminhar sobre a Terra, desafiar seu demoníaco pai e iniciar um reinado de caos ao lado de outros três espíritos malignos. Atormentado pela transformação de seu corpo, que perde a carne e irrompe em chamas à noite, Johnny Blaze só conta com os conselhos do velho coveiro de um cemitério (Sam Elliott) que sabe mais do que aparenta, tendo ainda que lidar com o retorno de sua antiga paixão de adolescência (Eva Mendes).
Como as fraquezas inerentes das histórias em quadrinhos são aspectos dificilmente burláveis numa adaptação para o cinema (quase sempre relacionadas a verossimilhança e conflitos lógicos óbvios), desta vez os realizadores parecem ter apostado em outra faceta mais palatável para o filme, principalmente para os fãs que esperavam ver no mínimo um motoqueiro de aparência fiel às HQs, fazendo miséria com sua moto envenenada pelo demo. Portanto, o que há de melhor em Motoqueiro Fantasma é mesmo a aparência do anti-herói e os efeitos usados para torná-lo crível. O que, infelizmente, não se estende aos seus arqui-inimigos Mefisto e Blackheart, que em momento algum ostentam o visual demoníaco pelo qual são conhecidos nas revistas. E este é, por si só, um dos maiores motivos de porque o fã pode se decepcionar com o filme. Afinal, se capricharam tanto no motoqueiro, por que não fazer o mesmo com os vilões? Ainda mais quando o orçamento do longa bate na casa dos 120 milhões de dólares e fica evidente que efeitos especiais não pareciam ser um problema?
Reveses à parte, o filme é divertido. As nuances acrescentadas ao personagem de Johnny Blaze, aqui convertido num fã doente dos Carpenters, viciado em jujubas e completamente inepto quando o assunto é mulheres, rendem o enchimento básico para a história de folhetim, onde vilões são eliminados num piscar de olhos e o aprendizado do novo herói não tem uma cota muito elevada de percalços. Peter Fonda é o coadjuvante de maior presença, fazendo um contraponto no mínimo inusitado envolvendo sua participação no clássico Sem Destino (Dennis Hopper, 1969). O outro grande acerto do filme, é claro, foi a escalação da apetitosa Eva Mendes, o arquétipo de mulher curvilínea tão presente nas páginas dos quadrinhos de super-heróis nos últimos anos. Ah, se todas as adaptações tivessem ao menos uma Eva Mendes em seu elenco...
Ao retirar completamente o aspecto que fazia da HQ do Motoqueiro Fantasma um dos produtos mais underground da Marvel, o tom do filme é completamente desviado para a ação descartável, ao contrário do que havia sido feito com outro personagem da mesma estirpe já levado aos cinemas em Blade - O Caçador de Vampiros (Stephen Norrington, 1998). O lado gótico e macabro que permeia as páginas da revista foi reduzido ao mínimo para possibilitar uma censura mais branda. Pelo menos o resultado não chega a ser ruim, e rende uma sessão divertida com uma das figuras mais cool e bizarras já criadas no meio das HQs.