Mais uma adaptação dos quadrinhos, um meio que tem proporcionado uma safra bastante rentável de filmes em Hollywood, alguns excelentes ou bons (X-Men, Homem-Aranha, Hulk), outros decepcionantes (Demolidor), Hellboy chega para aumentar a lista, numa produção dirigida por quem já entende do assunto (Guillermo Del Toro, responsável por Blade II, também adaptação de HQs) e que tenta capturar a essência da obra de Mike Mignola.
Hellboy (Ron Pearlman, no papel de sua carreira) é um demônio, adotado por um cientista (John Hurt) durante a Segunda Guerra Mundial e criado para servir às forças do bem numa espécie de FBI para assuntos paranormais. Com a pele toda vermelha, rabo e duas pontas de chifres na testa, o demônio que combate ameaças paranormais possui em contrapartida uma índole bastante humana, porém arrogante, e uma paixão não correspondida sob a forma da pirocinética Liz (Selma Blair), que faz parte do time de aberrações do serviço secreto. Completa este time o humanóide anfíbio Abe Sapien (Doug Jones) que, além de ter grande desenvoltura dentro da água, possui avançados poderes psíquicos. A ocasião do aparecimento de Hellboy no planeta coincide com a ruína dos planos nazistas de usar o ocultismo para vencer a guerra, algo que traz conseqüências para o "herói" no presente, já que um dos vilões do passado retorna com a intenção de usá-lo num plano maligno.
O grande mérito do filme é mesmo a transposição do personagem para as telas, que é magnífica. Mesmo só conhecendo a arte da HQ, já que eu nunca li uma revista do Hellboy, percebe-se que o trabalho ficou mesmo muito bem feito. Ron Pearlman, que sempre foi o ator ideal tanto na opinião de Guillermo del Toro quanto de Mike Mignola, encarna o personagem com humor, cinismo e o vigor físico necessário. Os atores coadjuvantes também estão bem, e o trabalho de maquiagem dos monstros, assim como os efeitos especiais, é eficiente. As seqüências de ação não são revolucionárias, mas empolgam. Para desfrutar, basta assumir de antemão que o filme é uma ousada fantasia sobre um demônio a serviço do bem.
Mas há um porém quanto à história, que fica a meio caminho de ser plenamente convincente. O desenvolvimento do filme é bastante linear, e abre o espaço necessário tanto para a ação quanto para o humor. Mas não há um desenvolvimento satisfatório de alguns personagens secundários. O relacionamento entre Hellboy e seu criador não é bem explorado, e o homem-peixe Abe Sapien é praticamente esquecido na parte final do filme. Sem contar que nesta última parte o roteiro desaponta completamente, a luta final é previsível e o final é um pouco abrupto.
Mediano, Hellboy é programa obrigatório para os fãs da obra de Mike Mignola, mas reduz-se a um passatempo descartável para aqueles que não conhecem a HQ.
Texto postado por Kollision em 31/Julho/2004