Completa surpresa do fim da década de 90, era apenas uma questão de tempo para que o filme de vampiro baseado em HQs Blade ganhasse uma seqüência. Mantendo o roteirista original e trocando de diretor, Blade II traz de volta Wesley Snipes no papel do herói, um atormentado híbrido humano-vampiro que extermina as criaturas da noite com artes marciais, estacas de prata e uma infinidade de equipamentos high-tech. Porém, como já demonstrado em inúmeras seqüências de filmes de sucesso, nem sempre a segunda dose iguala-se à primeira, o que acontece neste caso.
Blade II já começa a todo vapor, com Blade numa procura incessante pelo paradeiro de seu mentor Whistler (Kris Kristofferson), morto e transformado em vampiro pela trupe maligna do filme anterior. Enquanto espera que seu soro milagroso reverta o estado daquele que é para ele praticamente uma figura paterna, Blade e seu novo e jovem ajudante Scud (Norman Reedus) são atacados por dois vampiros uniformizados que propõem uma trégua ao herói, em troca de colaboração. O trato é ajudá-los a encontrar e exterminar uma nova e terrível raça de sugadores de sangue, os Reapers, que se alimentam tanto de humanos quanto de vampiros. Unindo-se a uma equipe de dentuços ultra-treinados, os Bloodpack, Blade tem que lidar com a desconfiança constante de seus relutantes aliados para impedir a nova ameaça.
Logo de cara é possível perceber o direcionamento dado pelo diretor Guillermo Del Toro à trama. Segundo o próprio, sua intenção era manter o espírito das páginas das HQs, apresentando ainda os vampiros mais assustadores que pudesse conceber. O problema é que, ao tentar fazer isso, ele se distanciou daquilo que tanto fez o primeiro filme funcionar. Afinal de contas, Blade deveria ser uma história de terror. Infelizmente, de Blade II não se pode esperar momento algum de tensão sobrenatural, ou mesmo algum mínimo suspense, já que o filme é ainda mais carregado de ação, com várias tomadas estilosas devidamente retocadas com efeitos em cgi. Nitidamente uma herança do efeito pós-Matrix, até mesmo as seqüências de luta perdem em truculência para as coreografias do primeiro filme. Ou seja, apesar da pirotecnia mais acentuada e dos mágicos movimentos de câmera proporcionados pelo cgi, a impressão que fica é que Blade "pega leve" com a bandidagem do além.
Outro equívoco, que tende a ser ignorado até mesmo por admiradores do gênero, está no aspecto dos novos vampiros, os Reapers. Absolutamente tudo relacionado à nova ameaça do filme tem por objetivo causar repulsa, nojo ou asco, com novas e realistas mandíbulas assassinas (descaradamente copiadas do Predador), muito pus escorrendo, cabeças cortadas pela metade e seres das trevas andando pelas ruas como macacos. Infelizmente, causar medo, que era o objetivo declarado de Del Toro, é a última coisa que estes recursos vão conseguir em relação à platéia. Parece que todo mundo na produção se esqueceu que clima, ambientação e fidelidade à mitologia dos vampiros é essencial para que o material funcione. Uma trilha sonora adequada também ajudaria, mas aqui ela passa em brancas nuvens.
Snipes dá tudo de si no papel-título. O grandalhão Ron Pearlman, que voltaria a trabalhar com Del Toro em outra adaptação de HQs (Hellboy), faz o típico mercenário casca grossa. Coitado mesmo é de Kris Kristofferson, que é torturado de tudo quanto é jeito e leva duas sovas infundadas de dois dos vampiros que deviam ser seus aliados, em momentos sofríveis de um roteiro que favorece apenas a ação acéfala.
Acompanham o primeiro DVD do disco duplo os trailers de Ruas Selvagens, Íris, Insônia, Austin Powers e o Homem do Membro de Ouro e Femme Fatale. Já o segundo disco traz um número de extras impressionante. Começando por um extenso making-of de quase uma hora e meia, há ainda 3 featurettes curtos sobre as HQs e vampiros em geral, 2 featurettes sobre os efeitos especiais, 53 minutos de cenas de bastidores feitas pela equipe de efeitos especiais, 16 cenas excluídas com comentários hilários do diretor (totalizando 25min.), várias galerias de fotos do material de produção, páginas não filmadas do roteiro, biografias dos principais atores e equipe técnica, trailer/teaser do filme, análise de seqüências com roteiro e storyboards, uma demosntração do jogo Blade II para PS2 e, finalmente, o videoclipe de Child of this Wild West, de Cypress Hill e Roni Size.
Texto postado por Kollision em 29/Dezembro/2004