Blade - O Caçador de Vampiros é um representante nobre do sub-gênero de filmes originados de histórias em quadrinhos (HQs), um estilo hoje em alta mas na época de seu lançamento completamente desacreditado. Nobre porque resgatou a credibilidade numa fonte indiscutivelmente rica, porém estupidamente mal-aproveitada por mais de uma década, e porque deu uma nova cara às histórias de vampiro em geral, que tão pouco tiveram de especial durante a década de 90.
Blade (Wesley Snipes) é uma aberração entre os vampiros porque, mesmo sendo um, pode andar durante o dia (daí seu codinome de Daywalker) e não é afetado pela prata ou pelo alho, fraquezas fatais para qualquer criatura da noite. Um híbrido entre o vampiro e o humano, ele usa isso a seu favor para caçar e destruir os dentuços sem dó nem piedade. Auxiliado pelo mentor Whistler (Kris Kristofferson) e sua parafernália tecnológica, ele se vê às voltas com a ameaça crescente do vampirão Deacon Frost (Stephen Dorff), um ascendente do submundo das trevas que possui um plano mirabolante para trazer de volta à vida o deus do sangue, usando para isso os arcaicos e retrógrados chefes das 12 tribos de vampiros que se escondem da humanidade há séculos.
Criação de Marv Wolfman e Gene Colan, o caçador de vampiros negro nunca passou de um coadjuvante obscuro nas HQs de outros personagens, na maior parte das vezes o Dr. Estranho em sua eterna luta contra Drácula e seus filhos. O fato do filme ter feito indiscutível sucesso talvez resida exatamente na falta de preocupação da Marvel Comics em relação ao resultado da adaptação das aventuras de um personagem solenemente relegado a segundo plano. Pouca expectativa, pouco controle e um roteiro e equipe técnica competentes podem render material de qualidade. Pegando a essência do Blade das HQs, o roteirista David Goyer concebeu uma história ágil, auxiliada pelo bom clima criado pelo diretor Stephen Norrington. Sem abrir mão de algumas passagens dignas dos melhores filmes de vampiro (como o ataque do morto-vivo queimado no hospital e a cena da médica presa no calabouço com um vampiro em decomposição), a ação inserida na trama faz ainda a alegria dos fãs de artes marciais.
Obviamente, o filme não é perfeito. Algumas liberdades criativas tomadas ao se adaptar a mitologia dos vampiros à realidade do filme soam forçadas, como, por exemplo, Stephen Dorff e seu passeio diurno com um protetor solar especial para dentuços. A facilidade com que as corjas de vampiros são exterminadas pelo herói também incomoda um pouco no início. Alguns efeitos especiais não convencem, notadamente aqueles que envolvem explosões e sangue em demasia. Felizmente, a quantidade de pontos positivos suplanta as falhas, o que se reflete claramente no resultado final. Wesley Snipes nasceu para ser Blade, enquanto o vilão Stephen Dorff compensa o físico raquítico com uma atitude pra lá de bestial.
A seção de extras do DVD contém três especiais, que concentram-se no making-of do filme, no universo das HQs de Blade e na cultura sobre vampiros em geral. Há ainda o final alternativo, trailer, biografias do elenco e uma apresentação sobre as 12 tribos de vampiros mencionadas no filme.
Texto postado por Kollision em 29/Dezembro/2004