Assim que o musical Chicago foi novamente colocado sob os holofotes da Broadway em 1996, o burburinho sobre a adaptação cinematográfica começou e só parou em 2002, sob o comando do diretor estreante Rob Marshall e acompanhado do Oscar de melhor filme. Coroado como o ápice do renascimento de um gênero outrora nobre em Hollywood, o filme deu ainda um merecido Oscar de atriz coadjuvante para Catherine Zeta-Jones. Sim, ela é a melhor coisa do longa, uma fantasia cravada de excessos que não chega a empolgar tanto assim.
A cidade de Chicago nos anos 20 é um caldeirão de pólvora não só pela bandidagem liderada por Al Capone, mas também pelos ímpetos assassinos das donas-de-casa e dançarinas de plantão. Após assassinar o amante que lhe havia prometido uma entrada no show business, a aspirante a vedete Roxie Hart (Renée Zellweger) vai parar na cadeia. Ajudada pela matrona da prisão (Queen Latifah), Roxie conhece o advogado especialista em tirar gente como ela da cadeia Billy Flynn (Richard Gere), um canalha que extorque o inocente marido de Roxie (John C. Reilly) pelos seus inestimáveis serviços. A ascensão de Roxie perante a imprensa não passa despercebida de Velma Kelly (Catherine Zeta-Jones), uma estrela do vaudeville também presa por matar o marido e a irmã num rompante de ciúmes. A competição entre as duas se acirra cada vez mais à medida que se aproxima o dia do julgamento de Roxie.
Foi idéia do diretor transformar a maior parte dos números musicais em devaneios da protagonista Roxie, abrindo um leque avassalador de opções para os atos e transformando o filme numa alegoria gigante, exagerada e cínica. Onde quer que vá a mente da assassinazinha obcecada pelo sucesso, lá estarão os números encenados por todo o elenco principal. O estilo pode atrair quem já tem afinidade com a coisa mas, para mim, a esmagadora maioria das canções dá sono e vontade de acelerar a projeção até a próxima cena com diálogos de verdade. O único número que realmente emociona, para falar a verdade, é a performance solitária e triste de John C. Reilly. Isso não significa que os dotes de dança e canto dos demais não estejam à altura. Mas não há como negar que Catherine Zeta-Jones ofusca seus companheiros sem muita dificuldade.
A principal causa deste filme ser uma pérola para os aficcionados por musicais, mas um embuste para o cinéfilo regular, é o excesso de caricaturas em cena e a falta de uma conexão mais bem acabada com a realidade. As mulheres do filme não passam de seres desprezíveis com um só objetivo em mente (daí minha percepção de uma obra equivocadamente feminista), e os homens enveredam por uma caracterização extremamente imbecil (com exceção de Reilly). Toda a seqüência de julgamento de Roxie, por exemplo, é na realidade um picadeiro onde o palhaço-mestre é ninguém menos que o galã Richard Gere.
O DVD traz como extras uma coletânea de 25 minutos de cenas de bastidores, notas de produção, biografias do elenco principal e do diretor, entrevistas curtas com vários membros da produção, trailer, galeria de fotos, e os trailers de Confissões de uma Mente Perigosa e A Promessa (mostrados antes do menu principal do DVD), além de Frida, Madame Satã, Honra e Coragem e Cruzeiro das Loucas.
Texto postado por Kollision em 2/Março/2006