Simon West é um diretor que, em seu início de carreira no cinema, cometeu um trio de filmes de qualidade descendente. O primeiro deles foi Con Air - A Rota da Fuga (1997), uma grata surpresa no gênero de ação que aproveitara muito bem a persona de Nicolas Cage. O filme responsável por engavetar seu currículo durante algum tempo foi Tomb Raider (2000), um equívoco que não foi capaz de se sustentar somente com a bela silhueta de Angelina Jolie. E entre estes dois trabalhos está o razoável thriller militar A Filha do General, estrelando John Travolta em boa forma, em papel que fôra inicialmente destinado a Michael Douglas e Bruce Willis.
Travolta é Paul Brenner, um policial militar do Departamento de Investigação Criminal do Exército, que é subitamente chamado para resolver o mistério do aparente estupro e assassinato da filha oficial de um general da alta patente americana (James Cromwell), cometido dentro da divisão comandada pelo próprio general. Auxiliado por uma psicóloga do exército (Madeleine Stowe) e dotado de poderes para interrogar e prender qualquer oficial suspeito do crime, Brenner recebe 36 horas para tentar resolver o caso antes que o FBI caia matando dentro das paredes da fortaleza militar. Juntos, eles se deparam com uma rede de intrigas, violência e negligência militar que parece não excluir ninguém dentro do círculo de pessoas mais próximas da vítima.
A Filha do General é baseado num livro do autor Nelson DeMille, e há algumas boas razões para o filme sair um pouco do clichê ultra-batido envolvendo a fórmula de se mostrar um assassinato logo no início e desenvolver uma solução para ele ao longo do resto da película. Uma delas é a ambientação diferenciada da investigação, conduzida toda dentro das paredes de âmbito militar. O roteiro é habilidoso em transpor para a tela o clima interno de uma divisão do exército em polvorosa com a condução da delicada investigação. O conflito entre o código de honra militar e os deveres como policial vêem a calhar ao personagem de Travolta, que facilmente ganha a confiança do espectador à medida que a sujeira começa a ser aspirada sob debaixo do tapete. O filme também é marcado por ótimos diálogos. Um exemplo vívido é o primeiro interrogatório que Brenner conduz com o superior imediato da filha do general, um James Woods cujo aspecto, aqui, lembra muito o do apresentador da TV brasileira Clodovil. Outro exemplo é a deliciosa conversa no bar entre Brenner e a psicóloga que representa um papel na realidade bem mais ativo em sua vida pessoal. Isso ajuda a entender a presença inicial meio injustificada de Madeleine Stowe, que mostra a que veio quando a trama se complica e o policial se vê forçado a tomar medidas mais enérgicas em sua investigação. Sem contar que Stowe é sempre um colírio para os olhos em qualquer filme do qual faça parte.
Quaisquer eventuais excessos ou falhas da história, como a natureza cada vez mais complicada e multi-facetada da vítima do crime e a explicação final para a tragédia em si, acabam sendo compensadas por uma conclusão amarga, que dá uma alfinetada nada sutil na instituição militar americana.
O DVD contém como extras um making-of de 20 minutos, dois trailers e 10 min. de cenas cortadas, incluindo um final alternativo para o desenlace do relacionamento entre os personagens de John Travolta e Madeleine Stowe.
Texto postado por Kollision em 21/Março/2005