Revisto em DVD em 10-MAI-2008, Sábado
O Chamado 2 não seria um filme tão inferior ao original se Hideo Nakata tivesse tomado uma única decisão: não transformar o moleque Aidan num anormal antes mesmo dele começar a ser atazanado pelo fantasminha nada camarada da Samara. Revendo o filme com mais calma isso fica bastante claro. Momentos tecnicamente sublimes como a cena da abdução aquática no banheiro são uma adição um tanto deslocada à veia oriental impressa pelo diretor, que de alguma forma não se encaixa como deve numa produção ocidental. E reafirmo, pelo menos o filme não é uma bagunça generalizada como o Ring 2 original.
E preparem-se, porque vem aí O Chamado 3, nos mesmos moldes de sua contraparte nipônica, ou seja, em formato de prequel.
Na seção de extras do DVD há três flashes rápidos de divulgação do filme, um making-of de 13 minutos produzido pela HBO, 10 minutos de cenas excluídas e alternativas, os trailers de O Chamado e Vôo Noturno e o curta-metragem de 15 minutos Rings, dirigido por Jonathan Libesman (No Cair da Noite), que relata os dias anteriores aos eventos envolvendo os dois adolescentes do início de O Chamado 2. Há ainda um easter egg que mostra aceleradamente o processo de maquiagem da vilã Samara (acionado apertando-se o direcional para a direita na opção de retorno da tela de extras).
Texto postado por Kollision em 30-MAR-2005
A mitologia criada pelo livro e pelo filme japoneses Ring - O Chamado já é, por si só, espantosa. Junto aos aficcionados do gênero, a figura de Sadako (na versão japonesa) ou Samara (na versão americana) já é um marco no moderno cinema de horror. Consideradas as devidas proporções, os primeiros capítulos de ambas as sagas arrastaram multidões aos cinemas, criando uma expectativa enorme quanto a eventuais continuações. O cerne de O Chamado 2 vem na cola do "sucesso" oriental e captura a sua essência, percorrendo no entanto uma linha completamente diferente para entregar um material que não convence muito. Infelizmente a presença do diretor dos dois filmes originais, o japonês Hideo Nakata, não obteve o êxito esperado.
Pelo menos o roteirista Ehren Kruger foi esperto o suficiente para evitar mostrar mais do mesmo. Só que, ao fazer isso, as próprias regras criadas no primeiro filme tiveram que ser desrespeitadas em prol do estabelecimento de um novo mistério para a jornalista Rachel (Naomi Watts) e seu filho Aidan (David Dorfman), sendo essa a grande fissura na estrutura de todo o filme, sobre a qual praticamente todas as situações são construídas. Após os eventos mostrados em O Chamado, Rachel e Aidan mudam-se para uma cidade pequena para recomeçar a vida. Tudo vai bem até que a moça ouve falar em seu novo emprego sobre a morte de um adolescente, coincidentemente muito parecida com os eventos que ela investigara envolvendo a fita de vídeo maldita. A partir de então, sonhos, alucinações e sinais de possessão trazem de volta à tona a figura esguia e assustadora de Samara Morgan, o que tem efeitos perturbadores sobre Aidan.
Em nenhum momento capaz de ser assustador como a primeira parte, O Chamado 2 faz jus à fama da grande maioria das continuações de filmes de sucesso: não passa de uma sombra esquálida do primeiro. As seqüências realmente capazes de gerar alguma tensão ou susto são poucas, e a perturbadora sensação de mistério não-explicado, tão soberbamente aproveitada no primeiro, cede espaço para uma trama corriqueira de possessão carente de uma explicação no mínimo razoável. Aparentemente, a garotinha vingativa desenvolveu uma rixa pessoal com a pobre Naomi Watts, que aqui se vê às voltas com muita água, veados revoltados e uma Sissy Spacek perdida em meio a um lampejo de cérebro, quando a heroína decide investigar a origem de Samara mais a fundo. Um pouco mais da presença da renomada 'Carrie' não teria feito mal ao filme.
Esta segunda parte ainda é, pelo menos, melhor que sua contraparte oriental, que fez uma confusão danada com a trama original e forçou a terceira parte a se tornar uma prequel. Porém, engana-se quem espera encontrar aqui uma explicação para a relação entre a tragédia de Samara Morgan e a existência da fita de vídeo maldita. Isso acaba se tornando um ponto de frustração que fica em aberto, cuja resolução corre risco de nunca ser mostrada, assim como aconteceu com a série original japonesa.
Hideo Nakata, como diretor, com certeza estava numa posição delicada ao aceitar comandar a continuação de um filme derivado de um trabalho que fizera no passado. Não faço a mínima idéia de porque Gore Verbinski não foi mantido na continuação (o que seria uma atitude sensata por parte dos produtores), e acredito também que importar o diretor do filme original do outro lado do mundo foi uma decisão deveras corajosa. Enquanto havia o compromisso de manter o clima criado por Verbinski na primeira parte, Nakata com certeza teria a intenção de imprimir sua própria marca ao filme. Para a infelicidade de quem esperava algo bombástico, tudo o que é destilado na tela ao longo das quase duas horas de projeção só mantém o interesse porque os personagens já existiam, e são em sua essência interessantes. A inexperiência do garoto Dorfman, por exemplo, vem à tona logo numa de suas primeiras cenas, o que atesta a deficiência do diretor japonês ao liderar um elenco americano. Mas a maior prova de que a missão de Nakata não foi bem-sucedida é o desfecho da trama, que entrega de forma clara quão eficiente foi o processo de americanização de suas idéias.