Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (Tim Story, 2007)
Com: Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Chris Evans, Michael Chiklis, Julian McMahon
Pensei que, com um pouco mais de budget e um conhecimento mais aprofundado da natureza de cada um dos personagens, o diretor Tim Story seria capaz de evoluir a partir do primeiro e válido esforço que foi Quarteto Fantástico (2005). Evoluir, no sentido mais simples do termo, equivaleria a preencher o segundo filme com mais substância, tanto na ação quanto na caracterização de personagens. É triste a constatação de que minhas esperanças foram em vão.
O segundo filme começa bem, com uma tomada empolgante de um planeta moribundo após a passagem do Surfista Prateado (Doug Jones, com voz de Laurence Fishburne), um mistério cósmico que a seguir ruma em direção ao Sistema Solar, levando fenômenos climáticos extraordinários, caos e desespero ao planeta Terra. Logo depois vem a rotina não muito empolgante do Quarteto, que gira em torno do casamento do Sr. Fantástico e da Mulher Invisível e é ocasionalmente interrompida pelas rusgas baratas entre o Tocha Humana e o Coisa. Em meio à correria, a equipe é convocada pelos militares para auxiliar na investigação sobre o Surfista Prateado, enquanto um reanimado Dr. Destino trilha seu novo caminho particular de megalomania.
As mesmas falhas e vícios menores do longa anterior permanecem, destruindo o esboço de melhoria dos primeiros minutos. Os efeitos especiais voltam a derrapar quando o Sr. Fantástico usa seus poderes, mas pelo menos compensam quando são usados para dar vida ao Surfista. Com um nível de diversão médio capaz somente de dar alguma coceira de satisfação nos fãs da HQ, a impressão geral é de subaproveitamento: os poderes do Coisa e da Mulher Invisível não são usados para praticamente nada que preste, o Sr. Fantástico continua sendo um bosta (principalmente no desfecho) e o Dr. Destino volta com um rosto bonitinho sem qualquer explicação plausível, entre outras coisas que me desagradaram. Para piorar tudo, contrataram um retardado para destruir o rosto de Jessica Alba com uma maquiagem horrenda! E que diabos é aquela roupa barata de borracha que colocaram em Chris Evans quando ele troca de poderes com o Coisa?
O filme não se leva muito a sério, mas a superficialidade latente é demais – como na descartável e mal inserida cena da roda gigante em Londres. O desfecho não convence para um filme de ação. Não tem punch. Não consegue absorver a platéia. É o ápice negativo de uma promessa que acabou se tornando uma decepção.
Piratas do Caribe - No Fim do Mundo (Gore Verbinski, 2007)
Com: Johnny Depp, Geoffrey Rush, Bill Nighy, Chow Yun-Fat, Tom Hollander
Já não se fazem filmes de piratas como antigamente, definitivamente. Ou eu cresci e o encanto se perdeu em algum ponto da minha maturidade.
Não tem jeito. Não consegui me "conectar" aos dois últimos filmes da trilogia Piratas do Caribe. Para falar a verdade, não sentia tanta vontade de dormir num cinema desde o medonho A Múmia (Stephen Sommers, 1999). É muita pompa infantilóide, muito tempo de filme, uma dilatação excessiva de cenas de ação que se arrastam sem qualquer carga de emoção na mesma proporção. A história é quase uma piada de mau gosto, com personagens mudando de lado a cada cinco minutos e uma confusão lascada sobre que diabos cada um faz o que na trama. Jack Sparrow (Johnny Depp) foi para o além, e por algum motivo sobrenatural seus amigos e desafetos se unem para resgatá-lo. O filme continua a apresentar efeitos especiais ótimos, mas sofre terrivelmente com um dos casais de atores mais superestimados e sem sal de todos os tempos (Keira Knightley e Orlando Bloom). Além dos veteranos, o único que justifica sua presença em cena é Depp. E, com certeza, o macaquinho que o acompanha.
Antropophagus (Joe D'Amato, 1980)
Com: Tisa Farrow, Saverio Vallone, Zora Kerova, Serena Grandi, George Eastman
A.K.A. The Grim Reaper, The Savage Island – Cartão de visita tanto do grupo dos filmes malditos quanto da eclética filmografia de Joe D'Amato, Antropophagus costuma ser bastante comentado por uma cena apenas, da qual não falarei aqui. Se quiser saber do que se trata, basta dar uma olhadinha básica no grupo de turistas que, no começo do filme, faz uma paradinha estúpida numa ilhota grega atormentada por um lunático canibal. De todos eles, qual é o que apresenta a carne mais tenra para uma demente e explícita degustação? O filme de D'Amato, infelizmente, é completamente vazio e chafurda na falta de ritmo, no gore econômico e no roteiro tosco, que lá pelas tantas ousa fornecer uma explicação para a existência do "antropófago". Trata-se, enfim, de mais um caso de hype exagerado – o longa contém somente duas cenas de impacto que valem a pena, sobre as quais uma fama desmedida foi inadvertidamente construída com o passar dos anos.
Império do Sol (Steven Spielberg, 1987)
Com: Christian Bale, John Malkovich, Nigel Havers, Miranda Richardson, Joe Pantoliano
Drama grandioso baseado nos relatos de um livro homônimo, este excelente trabalho de Steven Spielberg acompanha a vida de um menino de 12 anos (Christian Bale) que se perde dos pais na Shangai ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. A reconstrução histórica da produção é um primor, pois se beneficia de várias locações reais em Shangai (abertura até então inédita para uma produção cinematográfica estrangeira em território chinês). A ótima performance de Bale é outro ingrediente que ajuda a garantir um belo espetáculo. Este, ainda que um pouco longo e marcado por momentos de pura liberdade poética, consegue emocionar sem enveredar pelo piegas. Imperdível para quem deseja conhecer o melhor de Spielberg.
Guerra dos Mundos (Steven Spielberg, 2005)
Com: Tom Cruise, Dakota Fanning, Justin Chatwin, Tim Robbins, Miranda Otto
Mais do que muitos blockbusters lançados na mesma época, a refilmagem de Guerra dos Mundos é um trabalho que merece ser visto na grande sala escura. O filme perde muito do seu impacto na tela pequena, e com isso o drama mundano da família liderada pelo pai relutante feito por Tom Cruise transparece mais facilmente em meio às sensacionais seqüências de destruição proporcionadas pelos alienígenas malvados que querem dominar a Terra. A boa mão de Spielberg sobre a narrativa e a técnica é o maior atrativo de uma história fantástica, que infelizmente soa batida e não acrescenta nada para quem espera algo diferente do filme de 1953 ou do texto do livro de H. G. Wells.
Jogo de Sedução (Matthew Parkhill, 2003)
Com: Natalia Verbeke, Gael García Bernal, James D'Arcy, Tom Hardy, Charlie Cox
Um triângulo amoroso de contornos trágicos, formado pela fogosa espanhola/argentina Natalia Verbeke e por um galã latino e outro inglês. Ela está prestes a se casar com um, mas não resiste aos encantos do outro. Clichezento é o principal adjetivo que viria na mente de qualquer pessoa com um pouco de senso. E vem mesmo, pelo menos até a metade do filme, quando a história dá uma guinada que muito poucas pessoas serão capazes de antecipar. Parte da premissa é um pouco dura de engolir, mas o material subseqüente vale a pena. Ao criar um inusitado romance às avessas, o filme de estréia do diretor Matthew Parkhill se atreve até mesmo a lançar algumas expressões de peso, como o genial conceito de "snuff movie emocional". Ótimo filme e ótimas performances (principalmente a de James D'Arcy), com um desfecho romanticamente perturbador.
La Morte Vivante (Jean Rollin, 1982)
Com: Françoise Blanchard, Marina Pierro, Carina Barone, Mike Marshall, Fanny Magier
A.K.A. The Living Dead Girl – Assim como os vampiros de Jean Rollin não são nada como os demais vampiros retratados no cinema, assim o é a morta-viva (Françoise Blanchard) que dá nome a este filme. A gênese da personagem e o seu reingresso no mundo dos vivos é o que há de mais trivial e insípido na história: a moça volta a andar após três anos dentro de seu caixão, graças ao derramamento de um produto tóxico (como ela preservou a beleza intacta durante todo esse tempo é uma incógnita jamais explicada).
Mas tudo bem, pois trata-se de uma obra de Rollin. A narrativa logo envereda para uma ambientação única e incômoda, assim que a morta-viva reencontra sua melhor amiga e por ela passa a ser protegida (de novo a sempre presente temática de duas amigas/heroínas em apuros). A profusão de gritos aterrorizantes é algo pelo qual este filme mais provavelmente ficará marcado na memória, pois poucas são as obras de horror que realmente utilizam o recurso como meio de construção de uma atmosfera eficiente. A nudez ocasional das atrizes não soa fetichista, e nem mesmo erótica, apenas deixa descoberto algo que muitos filmes tolhidos pela censura não podem mostrar. O que, em filmes de genuíno horror, é muitas vezes um atentado. E se a maquiagem do gore às vezes comete deslizes tenebrosos, pelo menos ela consegue ser extremamente eficiente nos melhores momentos da história. Como na tomada da cena final, definitivamente um dos melhores desfechos malditos dentro do gênero.
La Morte Vivante é um crescendo macabro de fundo gótico-etéreo que provoca reações confusas de atração e repulsão, graças ao estilo inconfundível de Jean Rollin, e com certeza representa um dos melhores esforços do cineasta em matéria de puro horror.
Treze Homens e um Novo Segredo (Steven Soderbergh, 2007)
Com: George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon, Al Pacino, Ellen Barkin
O clubinho de George Clooney está de volta. E por mais que se tenha a idéia de que, mais uma vez, eles vão se dar bem num golpe mirabolante, o apelo cool não diminui. Para a sorte do espectador, a terceira investida do diretor Steven Soderbergh com o grupo é uma boa recuperação em relação a Doze Homens e Outro Segredo, que havia exagerado um pouco e caído na própria arapuca. A ausência de Julia Roberts e Catherine Zeta-Jones não consegue ser suprida somente por Ellen Barkin, mas pelo menos o tom do filme se aproxima bastante daquele da primeira história, com a adição de Al Pacino como o algoz da vez. O plano é bem arquitetado e executado, com passagens inteligentes e algumas tiradas hilárias. É só quem viu o segundo filme, porém, que vai entender a graça da presença do personagem de Vincent Cassel na reta final da história.
Sexta-feira 13 - Parte 2 (Steve Miner, 1981)
Com: Amy Steel, John Furey, Kirsten Baker, Stuart Charno, Adrienne King
A segunda parte da extensa série sobre Jason Voorhees, o assassino indestrutível do acampamento Crystal Lake, é atípica por alguns motivos interessantes. Um deles é o então ainda desconhecido aspecto do vilão em sua vida adulta. Outro é que aqui ele ainda não usa sua famigerada e inconfundível máscara de hóquei. As vítimas da vez são alguns adolescentes que insistem em abrir um acampamento de férias nas proximidades do amaldiçoado Crystal Lake cinco anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, acreditando que tudo o que dizem sobre Jason e sua mãe demente não passa de lenda urbana. A avacalhação com o personagem é mínima – ele ainda é apenas uma vítima das terríveis circunstâncias envolvendo seu desaparecimento na década de 50 – e a direção de Steve Miner é bem melhor que a de Sean Cunningham, o homem por trás do primeiro Sexta-feira 13. A história progride num ritmo razoável, que agrada aos aficcionados pelo slasher barato e seus obrigatórios clichês (mortes impactantes de adolescentes bobocas e mulheres nuas que se ferram na mão do assassino, entre outras coisas).
Los Angeles - Cidade Proibida (Curtis Hanson, 1997)
Com: Kevin Spacey, Russell Crowe, Guy Pearce, James Cromwell, Kim Basinger
Na Los Angeles da década de 50, a polícia se vê às voltas com uma nova onda de crimes e assassinatos. E é só a aliança incomum de três policiais completamente diferentes – o almofadinha feito por Guy Pearce, o brutamontes de Russell Crowe e o oportunista protagonizado por Kevin Spacey – que será capaz de desvendar a rede de sujeira que se esconde por baixo dos panos. Filmaço de Curtis Hanson, esta obra-prima do gênero policial brinda o espectador com uma história fascinante, levada a cabo por personagens inesquecíveis e interpretações dignas de Oscar (de todos, só Kim Basinger foi indicada, e devidamente premiada). Hanson levou a estatueta de melhor roteiro adaptado a partir do romance de James Ellroy, mas merecia bem mais que isso.
Divagações postadas por Kollision entre 7 e 16 de Julho de 2007