Baseado em material de H. G. Wells, um dos pilares da ficção científica, Guerra dos Mundos surgiu no auge do gênero em plena década de 50, com a intenção de chocar a população mundial com imagens da dominação do mundo por alienígenas. Não da mesma forma que o diretor e radialista Orson Welles fizera em 1938, espalhando verdadeiro pânico na população ao narrar com extraordinário realismo uma suposta invasão extra-terrestre, mas sim na grande tela do cinema.
Quando um estranho meteoro cai nos arredores de uma cidade da Califórnia, curiosos e cientistas são atraídos para o local, inclusive o dr. Clayton Forrester (Gene Barry). Quando o meteoro se abre, surge de dentro dele um objeto estranho, parecido com uma cabeça dotada de longo pescoço, que imediatamente desintegra os incautos humanos que tentam se comunicar. Trata-se de uma espaçonave alienígena, e logo vários outros meteoros com mais delas começam a cair e se espalhar por todo o globo, propagando uma destruição sem precedentes que faz todas as nações do mundo unirem-se contra a ameaça aparentemente indestrutível. O dr. Forrester, aliado à bela Sylvia van Buren (Ann Robinson), enfrenta alguns alienígenas e tenta desesperadamente encontrar uma fraqueza em suas impenetráveis armas de destruição.
Realizado em berrante Technicolor, o filme tinha tudo para ser arrebatador. Porém, ainda que alguns considerem-no um clássico do gênero, é difícil apontá-lo com tal por diversos motivos. Um deles é o roteiro que, além de ser de uma ingenuidade canhestra, passa por cima da lógica de forma absurda, sem dar qualquer explicação às inúmeras inconsistências. Quando a primeira nave eclode do meteoro, por exemplo, como é que ela sai do orifício minúsculo em que sua "cabeça" se projeta? Ela cresce? E, afinal de contas, como é que os seres humanos sabem que elas vêm de Marte???? O desfecho é outro ponto baixo, pois recorre a uma solução fácil demais, que decepciona pela falta de engenhosidade e simplesmente despreza todos os esforços dos cientistas em conseguir vencer as criaturas. A mensagem subliminar de ataque ao comunismo está obviamente embutida, envolvendo inclusive a presença da igreja. E a falta de carisma do elenco é evidente.
Mas o pior mesmo são alguns dos efeitos especiais. As cenas de destruição, e mesmo as miniaturas, são bem-feitas para a época, e compõem alguns momentos interessantes (como a destruição da casa onde o casal de heróis se refugia). Já não se pode dizer o mesmo das cenas de vôo das espaçonaves alienígenas, pois os fios que as sustentam são tão visíveis quanto qualquer ator coadjuvante do filme. Tentar relevar essa falha é inútil, uma vez que os fios parecem fazer parte do cenário! Se o filme não se levasse tanto a sério, talvez fosse possível divertir-se um pouco mais com essas falhas bisonhas. Como isso não ocorre, a impressão que fica ao final é que o coitado do espectador assistiu a um trabalho cinematográfico feito nas coxas, que ainda reaproveita cenários de forma preguiçosa e abusiva (vide Gene Barry correndo pela cidade deserta e atravessando a mesma esquina várias vezes, por exemplo).
É então que chega-se à conclusão que Guerra dos Mundos envelheceu consideravelmente, sendo hoje datado e muitas vezes relegado ao esquecido grupo de filmes catástrofe de segunda linha. Em contrapartida, o trailer, único extra do DVD, é uma obra-prima sobre como vender gato por lebre.
Texto postado por Kollision em 20/Agosto/2004