Há mais ou menos uma semana estive no Shopping Goiabeiras para assistir ao último filme da mostra CineMundo. Ainda estava meio decepcionado por pegar somente a rabeira do evento, mas o importante é que estaria tendo a chance de ver algo fora do circuito comercial numa tela grande e numa sala escura.
Logo que entrei na sala, deparei-me com um grupo de moleques (14/15 anos, talvez) interrogando uma funcionária da mostra. Sentei-me perto deles e comecei a prestar atenção. Como o assunto foi me interessando, dei uma de intrometido e perguntei à moça, que dizia trabalhar com cinema, se seria possível comprar ou alugar equipamento profissional, mesmo de 16mm, aqui em minha cidade. Tão logo ela acabou com minhas esperanças de conseguir algo assim fácil, a meninada engatou um papo empolgado sobre o movimento dogma, e quais seriam as dificuldades de um deles vir a se tornar um diretor e blá-blá-blá. Mencionaram o filme Dogville (Lars Von Trier, 2003) e como não o haviam assistido, mas tinham vontade e talz. Fiquei imaginando se eles realmente sabiam do que estavam falando, e quanto tempo demoraria para que eles desistissem da projeção de Vou para Casa, que em alguns minutos começaria após a morte das luzes na sala.
Não que o movimento dogma e o longa de Manoel de Oliveira tenham algo a ver um com o outro. A questão crucial era saber se a gurizada seria realmente capaz de suportar o cinema parado, verborrágico e árido do diretor português. A única referência que eu tinha até então era a única obra que eu tinha assistido dele anteriormente (Um Filme Falado) e o pouco que consegui ler a seu respeito na Internet.
De elogios rasgados a posições privilegiadas em vários Top 10 de colegas cinéfilos, passando por críticas super-positivas sobre todo o conjunto da obra, Manoel de Oliveira poderia ser facilmente considerado um gênio. A verdade é que eu não consegui achar NENHUMA crítica negativa a respeito dos filmes dele que mencionei nos parágrafos acima, o que, para mim, é incrível. Por que, afinal, eu não consigo me identificar com seu cinema, com sua linguagem, com seu estilo?
As duas histórias às quais assisti (Um Filme Falado e Vou para Casa) demoram demais para se pagar. 1h30 é tempo demais para se esperar por alguma coisa que se mexa e provoque ação, sentimento ou espanto na tela. Deixar a câmera parada e os atores declamando intermináveis sentenças sem atrativo nenhum (diante dela ou não) não é o modo como espero que um diretor conte uma história. É por isso que aprecio os trabalhos de Kubrick, De Palma, Spielberg, Polanski, Fellini, Chaplin, Scott, só para ficar nos monstros sagrados da sétima arte. E não me entendam mal, não quero dizer com isso que obras-primas não existam fora deste círculo.
Talvez o cinema do Manoel de Oliveira seja simplesmente chato para os meus padrões. Sim, é isso mesmo, simples assim. Qualquer dia eu faço uma maratona de obras antigas dele, vai ver os filmes do velhinho eram um pouco mais atraentes em tempos remotos.
Quanto à gurizada da sessão de Vou para Casa, não deu outra. Com menos de meia hora de filme, eles saíram sorrateiramente pelo lado esquerdo da sala.
O curta acima segue o mesmo padrão tosco do anterior. Pelo menos esse tem cortes. [ O filme foi adicionado ao YouTube em 2-FEV-2007 ] O que você achou dele? Clique aqui para colocar uma opinião, se a visualização da barra de comentários estiver difícil. Está bom assim agora, Pacú?
Últimos filmes vistos:
A Oitava Cor do Arco-íris (2004) - Visto na Mostra CineMundo em 16-NOV, Quarta-feira, sala 2 do Shopping Goiabeiras
Tenho informações de que é o primeiro longa 100% feito em Mato Grosso. Orgulho da terrinha, apesar da produção pobre e amadora.
Vou para Casa (2001) - Visto na Mostra CineMundo em 17-NOV, Quinta-feira, sala 2 do Shopping Goiabeiras
Não, não gostei. Depois desse e de "Um Filme Falado", já estou errando o Manoel de Oliveira...
Der Mönch mit der Peitsche (1967) - Visto em DVD em 18-NOV, Sexta-feira
Conhecido em inglês por "The College-Girl Murders". Trash alemão até divertido, com uma carga de mistério acima da média para uma produção do tipo na época.
O Golem (1920) - Revisto em DVD em 20-NOV, Domingo
Um clássico que estabeleceu referências. Com uns equívocos pequenos, mas sempre interessante.
O Assassino da Furadeira (1979) - Visto em DVD em 20-NOV, Domingo
Podre. Irritante. Não vale metade do hype que estão tentando fazer sobre ele.
Frightmare (1983) - Visto em DVD em 21-NOV, Segunda-feira
Palhaçada que começa bem e termina muito mal. É por coisas como essa que o cinema de horror definhou na década de 80.
Texto postado por Kollision em 24/Novembro/2005