Primeiro filme de longa-metragem inteiramente produzido no estado de Mato Grosso, fora dos grandes eixos comerciais e filmado inteiramente na cidade de Cuiabá, A Oitava Cor do Arco-íris teve como mérito maior abrir o Festival de Cinema Brasileiro de Nova York, em Setembro deste ano. Bem, festivais são festivais, e o fato mais positivo de festivais é que qualquer obra, independente de procedência, elenco ou budget, tem seu lugar ao sol. No caso deste filme, onde o elenco é todo local, assim como 90% de toda equipe de produção, a honra é grande demais para resultado de menos. Vale pela iniciativa e pelo pioneirismo num país onde fazer cinema ainda é causa de uma perplexidade inexplicável por parte da sociedade em geral.
A história escrita e dirigida por Amauri Tangará não poderia ser mais regional. Joãozinho (Diego Borges) vive com sua avó em Nossa Senhora da Guia, distrito pobre da capital. Após ouvi-la proferir uma prece em que pede para que Deus a leve embora devido à sua doença e às dores que sente, o menino decide ir a Cuiabá na traseira de um caminhão vender a cabrita Mocinha, única fonte de renda da casa além da minguada aposentadoria da velhinha, e usar o dinheiro para lhe comprar remédios. Perambulando pelos bairros de Cuiabá a esmo, Joãozinho encontra pessoas estranhas, alguns perigos e a mais sincera solideriedade onde menos espera.
O lado rústico da produção atesta sua origem conturbada, cujas filmagens foram várias vezes interrompidas por falta de verba, e a mera conclusão do longa parece ter sido um feito colossal. O que mais faz falta durante toda a projeção é o sol, que na região brilha praticamente durante 365 dias do ano, e aqui parece ter ficado com medo das câmeras e do estilo de fotografia convencional. E convencional é de fato a palavra que mais se aplica a todo o filme, da escolha de ângulos à cadência da história. Apesar de um dos temas motores da saga de Joãozinho ser a pobreza, o aproveitamento dos cenários naturais, das ruas e dos parques poderia ter sido mais bem feito, não se restringindo quase somente aos subúrbios e à parte mais feia da cidade.
Outra limitação evidente que entrega a veia amadorística do filme é o roteiro, que lança mão de alguns clichês surrados de exposição narrativa e carece de certa ousadia. A direção soa um pouco exagerada nas seqüências de 'montage', quebrando o ritmo em momentos inoportunos. Amador também é todo o elenco, embora alguns momentos tenham sido bem delineados, como o desespero de Joãozinho ao sonhar com sua avó morta, o esboço de alguma poesia em determinadas passagens e a participação especial de Justino Astrevo (comediante famosíssimo na região) como um pé-inchado cego.
A inocência do garoto durante a sua peregrinação pela cidade e sua relutância em abrir mão da cabritinha não chegam a incomodar tanto quanto o desfecho fácil demais. Tudo justificado pela mensagem poética obviamente pretendida e explicitada pelo título do filme, que faz referência a enxergar aquilo que não se vê e sempre acreditar que tudo é possível.
Texto postado por Kollision em 18/Novembro/2005